Nesta mais que uma comédia romântica, Paul estuda em uma escola nada convencional. Líderes de torcida andam de moto, a rainha do baile é uma quarterback drag-queen, e a aliança entre gays e héteros ajudou os garotos héteros a aprenderem a dançar. Paul conhece Noah, o cara dos seus sonhos, mas estraga tudo de forma espetacular. E agora precisa vencer alguns desafios antes de reconquistá-lo: ajudar seu melhor amigo a lidar com os pais ultrarreligiosos que desaprovam sua orientação sexual, lidar com o fato de a sua melhor amiga estar namorando o maior babaca da escola… E, enfim, acreditar no amor o bastante para recuperar Noah!
Editora: Galera Record l 240 Páginas l Jovem Adulto l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
Garoto encontra Garoto é um livro divertido, envolvente e reflexivo. Existe um quê de poesia na escrita do autor David Levithan, que descreve com riqueza as peculiaridades da juventude, relembrando-nos do melhor dessa fase: as amizades, as inseguranças, as pequenas conquistas e os primeiros amores. Confesso que o pano de fundo da história é comum, contudo o que ganha o leitor é a carga de drama presente nela. O fato é que em sua narrativa o autor intercala bom-humor com seriedade, desenvolvendo uma história previsível e engraçada que, ao mesmo tempo, traz reflexões sociais a respeito do preconceito e da construção do verdadeiro amor – o amor que não vê credo, raça, cor ou sexo. Assim a história diverte e encanta, mas também faz o leitor repensar em inúmeros preconceitos sociais, refletindo sobre o que realmente é amar o outro incondicionalmente.
“Às vezes, a distância entre saber o que fazer e realmente fazer é uma caminhada bem curta. Outras vezes, é uma extensão impossível.”
O livro tem como protagonista o jovem Paul, que desde pequeno soube que era diferente e que não teve problemas em assumir isso. Ele é um garoto que gosta de garotos, que tem uma melhor amiga que é uma quarterback drag-queen, um melhor amigo que não consegue assumir sua homossexualidade por causa da pressão dos pais, um ex-namorado confuso (e meio perseguidor), e uma nova paixão de tirar o fôlego. A narrativa começa como qualquer história tipicamente juvenil: amizades conflitantes, adolescentes tentando descobrir quem são, e o início de um romance encantador. Porém, com o passar das páginas o autor aprofunda a história, mostrando que mesmo o corajoso Paul tem seus medos, que não será fácil para ele assumir seus sentimentos mais profundos, e que ele precisará de muita força para entregar seu coração, ajudar seus amigos e, como consequência, amadurecer. E tenho que dizer que é muito gostoso acompanhá-lo nessa jornada de autodescoberta.
O primeiro ponto positivo do autor foi falar de homossexualidade com um protagonista que não tem problema – familiar ou social – em assumir quem realmente é. De início parece que tal característica faz dele um jovem extremamente seguro de si, porém o desenrolar da história dá espaço para ele abrir seu coração e revelar suas inseguranças. Outro ponto positivo foi desenvolver histórias paralelas a de Paul e intercalá-las em um mesmo objetivo: derrubar o preconceito sexual. Os amigos de Paul são tão incríveis (tanto é que um deles tem um conto de bônus no final da obra). Achei legal a turma toda ter suas peculiaridades e aprender, juntos, como aceitá-las. Além disso, o autor acerta mais uma vez com o desenvolvimento de uma paixão inspiradora e encantadora, do tipo que faz o leitor conectar-se com as emoções descritas. Por causa disso torcemos tanto por Paul e seu romance com Noah, ao ponto de nos emocionarmos com o nascimento desse amor.
“Andamos pela cidade de mãos dadas. Se alguém repara, ninguém liga. Sei que todos gostamos de pensar no coração como o centro do corpo, mas, nesse momento, cada parte consciente de mim está na mão que ele segura.”
A única coisa que me incomodou na leitura foi seu início um tanto quanto superficial. Entendo que a proposta do autor foi abordar o diferente, mas ainda acho impossível de acreditar que, em uma cidade relativamente pequena, Noah e seus amigos seriam tão bem aceitos. Na realidade gosto de pensar que eles seriam, mas a razão teima em me lembrar que, infelizmente, muitos de nós são extremamente preconceituosos. Por isso só me envolvi com a história quando ela passou a ser mais verdadeiramente dramática e emocionante, quando o bom-humor cedeu espaço para a reflexão social. De toda maneira, tal detalhe é quase insignificante perto da mensagem por trás dessa história – porque o final definitivamente compensa ao deixar uma sensação tão gostosa de aprendizado.
Eis uma leitura que entretém sem deixar de ensinar. Estou começando a pensar que esse é o verdadeiro talento do David Levithan, quebrar tabus sem ter a verdadeira pretensão de desvendá-los.
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