No mundo de Caitlin tudo é preto ou branco. As coisas são boas ou más. Qualquer coisa no meio do caminho é confuso. Essa é a máxima que o irmão mais velho de Caitlin sempre repetiu. Mas agora Devon está morto e o pai não está ajudando em nada. Caitlin quer acabar com isso, mas como uma menina de onze anos de idade, com síndrome de Asperger ela não sabe como. Quando ela lê a definição de encerramento ela percebe que é o que ela precisa. Em sua busca por ele, Caitlin descobre que nem tudo é preto ou branco, o mundo está cheio de cores, confuso e bonito.
Editora: Valentina l 224 Páginas l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Você sabe o que é Síndrome de Asperger? Segundo uma definição simplificada (afinal não pesquisei a fundo e muito menos sou especialista no assunto) tal transtorno é enquadrado como uma parte do autismo leve, ou seja, os portadores dessa síndrome não podem ser diagnosticados com base na definição geral do autismo, até porque eles possuem características diferenciadas como 1: dificuldade de interação social; dificuldades em processar e expressar emoções (este problema leva a que as outras pessoas se afastem por pensarem que o indivíduo não sente empatia); interpretação muito literal da linguagem; dificuldade com mudanças em sua rotina, com pessoas desconhecidas e/ou que não veem há muito tempo; e comportamentos estereotipados. Agora, com base em tal introdução, imagine uma jovem de dez anos – uma menininha inteligente, talentosa e com síndrome de Asperger, alguém que requer atenção e cuidado especial, mas que além de estudar em uma escola pública despreparada no tato de suas características especiais, vive em uma família emocionalmente abalada pela morte do seu irmão mais velho. Pois bem, essa é Caitlin, a protagonista de Passarinha, e essa é a sua história, uma história contada sob a sua visão única e peculiar do mundo.
“Acho que eu não vou gostar nada disso. Acho que vai doer. Mas talvez depois da dor eu consiga fazer uma coisa boa e forte e bonita de tudo isso.”
Em um atentado brutal e doloroso um atirador mata várias pessoas (alunos e professores) da escola de Devon, irmão mais velho de Caitlin. Entre as vítimas a jovem perde seu companheiro, seu amigo, sua família, seu Devon – morte que abala a jovem, seu pai, os alunos da escola, e toda a comunidade de sua cidade. O livro trata então da dor dessa família, de um pai e de uma filha que precisam aprender a lutar diariamente com a crueldade da perda de uma pessoa amada. Porém, ao narrar tais acontecimentos sob a visão peculiar de Caitlin a autora acrescenta novos pontos de reflexão à sua obra, como por exemplo, o que de fato é a síndrome de Asperger, as dificuldades que as crianças assim encontram no trato de suas peculiaridades, o bullying, a exclusão, o medo, a insegurança e, principalmente, a necessidade que possuem de se conhecer e aceitar. Indo além, é válido dizer que a obra é muito mais do quê uma história triste que fala sobre a morte, ou ainda que relata e esclarece sobre a síndrome de Asperger, esses são sim temas abordados pela autora, mas sinto que foi por meio deles que alcançou seu objetivo: escrever sobre a vida, sobre suas dificuldades, suas particularidades e seus infinitos recomeços. Por isso esse livro é tão tocante e especial, pois ele engloba vários assuntos polêmicos em uma única história, sem deixar o livro pesado ou demasiadamente triste.
O grande ponto da narrativa é que Caitlin tem apenas dez anos e mesmo assim é muito mais sagaz que inúmeros adultos. Mesmo diante das imensas barreiras que encontra pelo caminho a jovem segue firme em seu caminho de compreensão e aprendizagem; ela é como um exemplo para o leitor, uma personagem pura e forte, alguém que sofre de uma maneira diferente e, se não fosse o suficiente, ainda sofre por ser diferente, mas que mesmo assim continua aprendendo, recomeçando, lutando. Ela perdeu o irmão, sofre na escola por ser especial, não tem amigos, tem pânico de muitas coisas que estão ao seu redor, mas ainda assim tenta ajudar o seu pai a não parecer mais tão triste, tenta dar-se uma chance escutando os conselhos da orientadora de sua escola e, o mais surpreendente, busca o impensável e tão sonhado desfecho para a dor e sensação de recreio 2 que carrega em seu peito.
“Ele vira a cabeça para mim e sussurra, Perdedora. Eu sei, digo para ele, mas vou continuar tentando.”
Outro ponto positivo do livro é que a autora escreve como uma jovem de dez anos, fato que nos faz rir da pureza da protagonista, vibrar com suas conquistas, e chorar descontroladamente com sua dor; de fato é impossível não se emocionar, não mergulhar nos sentimentos e emoções que são narradas de forma tão bruta, como uma criança realmente o faria. Fora que as lições contidas nessa história tocam muito mais por serem “ditadas” por uma garotinha, é como se a autora nos pedisse para ver o mundo sob a ótica de uma criança, como se ela quisesse nos mostrar a verdadeira maneira de lidarmos com os altos e baixos da vida. Afinal, veja bem, se uma garotinha de dez anos consegue, porque eu não conseguiria?
Para simplificar os fatos digo que eu gostei tanto desse livro que é impossível descrevê-lo em palavras; eu poderia escrever mil resenhas e todas elas ainda estariam incompletas. Então se você quer saber se vale a pena ler a resposta é sim, vale e muito; se quer saber se agrada todos os leitores, sim com certeza; ou se está em dúvida sobre o nível da escrita da autora digo que temos em jogo muito talento, muitas emoções e palavras fáceis e de rápida compreensão. Ou seja, a obra é feita na medida certa para abocanhar nossos corações.
Alegre, emocionante, reflexivo, humano… Passarinha é uma obra que marca o leitor com a leveza das palavras utilizadas para descrever a dureza da vida.
De olho na diagramação
Existem livros que são ricos tanto em conteúdo quanto em aparência, e esse é o caso de Passarinha: Capa, contra capa, diagramação interior… tudo feito com tanto carinho e cuidado que é impossível não notar. Quer conferir? Então dá só uma olhadinha:
Ps. Sim, eu usei marcadores de passarinho para combinar com o livro, risos.
Quotes Preferidos
“Mas não consigo parar de chorar. Por Devon. Pelo que aconteceu com Devon. Porque a vida dele foi tirada e ele não pode fazer nada nem se sentir feliz nem orgulhoso nem viver nem amar…”
“O tempo é o melhor remédio. (…). Como poderia ser? Um relógio não é como um comprimido ou um xarope. E eu não preciso de remédio. Preciso de um Desfecho.”
“Você pode abrir e fechar os livros um milhão de vezes que eles continuam os mesmos. Têm a mesma aparência. Dizem as mesmas palavras. (…). Livros não são como pessoas. Livros são seguros.”
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