Nada tem sido o mesmo desde que Caleb Becker deixou uma festa bêbado, pegou o carro e atropelou Maggie Armstrong. Mesmo depois de meses de fisioterapia, Maggie continua manca. Sua vida social não existe e uma bolsa de estudos internacional—sua chance de fugir de todo mundo e seus olhares de pena — foi cancelada. Depois de um ano na prisão, Caleb está livre… Mas liberdade significa constante vigilância de um tutor e os olhares curiosos da cidade toda. Voltar pra casa deveria ser bom, mas sua família e sua ex-namorada agora lhe parecem estranhos. Caleb e Maggie são diferentes, classificados como “criminoso” e “estranha”. Então a verdade sobre o que realmente aconteceu na noite do acidente surge, e, mais uma vez, tudo muda. A jornada de Caleb e Maggie é sombria e tortuosa, ainda que eles acabem encontrando conforto e força em uma fonte surpreendente: um ao outro. (Tradução livre, fonte).
Editora: Flux l 312 Páginas l Jovem Adulto l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
‘Leaving Paradise’ é um livro reflexivo que nos leva a experimentar um emaranhado de emoções controversas e a repensar várias de nossas prioridades de vida. A narrativa é tão intensa que choca com sua sinceridade. Abordando temas polêmicos como direção e alcoolismo, deficiências físicas, problemas familiares e preconceito social, a autora captura completamente seus leitores logo no início da narrativa, banhando-nos com uma onda de sentimentos conflitantes ao descrever em minúcia as dores, medos, perdas e resquícios de esperança que conduzem Caleb e Maggie a seguirem em frente até mesmo nos momentos em que a sombra do passado insiste em pairar sobre eles.
O ponto central da trama é que Caleb não atropelou apenas uma jovem chamada Maggie, mas sim, sua vizinha e melhor amiga de sua irmã gêmea; a filha de uma grande amiga de sua mãe; uma jovem com a qual ele mantinha certo índice de amizade e que como ele bem sabia, nutria um sentimento diferente por ele. Então, nos perguntamos – Como essas relações poderiam permanecer intactas depois de tanta dor? O acidente acabou com todos os laços que ligavam a família de Caleb à família de Maggie, mas principalmente, fez desmoronar os sonhos que ambos nutriam. Ele pagou por seu crime indo para a prisão juvenil, passando lá longos trezentos e dez dias de sua vida, enquanto ela acabou manca e repleta de marcas pela perna, além de ter sua ‘posição social’ arruinada e perder uma importante bolsa de estudos. Após o acidente a vida de nenhum deles é fácil e, intercalando a narrativa sobre o ponto de vista de Maggie e Caleb, de forma que cada um deles é o locutor de um capítulo do livro, mergulhamos em seus traumas e segredos.
“Deixar Paradise significa liberdade. Eu me sinto presa apenas de viver nesta cidade onde todo mundo me lembra a perdedora que sou agora”. Caleb se agacha, seu rosto diretamente na frente do meu. “Você não é uma perdedora. Diabos, Maggie, você sempre soube o que quis e correu atrás disso”. Eu lhe digo a pura verdade. “Não mais. Quando você me atropelou, uma parte de mim morreu”.
O bom de termos os dois personagens como narradores da trama é que conhecemos os sentimentos dos dois, ou seja, lemos sobre as duas versões da história. Quando Caleb retorna à sua cidade natal, carregando sobre os ombros o título de ‘ex-detento’, tudo o que ele quer é que as coisas voltem ao normal, mas o que encontra é o inverso disso. Por mais que ele lute para se encaixar, para voltar a ser o popular e descontraído CB (Caleb Becker) de antes, ele mudou e já não sabe se as coisas que tinha antes do acidente o satisfazem mais. Ele enfrenta tantos problemas que é impossível não se sensibilizar. Chorei por ele, me compadeci e definitivamente almejei que as coisas fossem diferentes, mas levando em conta sua posição na história, eu não devia sentir isso, não é mesmo? Mas não é isso o que acontece, pois não nego que torci por esse personagem, e não é um exagero dizer que só quem lê é capaz de compreender a mágica que a autora fez com a descrição dos sentimentos que assombram Caleb.
Já o ponto de vista de Maggie sobre a trama é inquietante. Ela perdeu quase tudo que considerava importante, e todos os dias, os olhares de pena e de zombaria que recebe a fazem lembrar-se da menina que se tornou. Ela sente pena de si mesma e por isso, prefere não enfrentar seus problemas, apenas se esquivar deles. O que ela precisa é aprender a ser forte, e por incrível que pareça, é o retorno de Caleb que vai iniciar essa transformação. Quando eles finalmente se reencontram, eu confesso, esperava um caminho puramente romântico, pois foi para isso que algumas resenhas me preparam, entretanto, o que encontrei foi uma relação de ‘necessidade’, eles precisam um do outro (e não no sentido amoroso dessa palavra), pois para seguir em frente eles devem experimentar e viver um perdão mútuo, que envolve principalmente, perdoar a si próprio. Somente o perdão os levará a um recomeço, fator que esperamos durante toda a narrativa: Um novo começo, uma esperança de um final feliz.
A escrita da autora, como já comentei, é extremamente envolvente, rápida, jovem e ao mesmo tempo tocante, mas o melhor é sua imprevisibilidade. Apesar de alguns elementos serem facilmente descobertos pelos leitores, a autora consegue partir para o inimaginável deixando em evidência – sempre – os sentimentos e as difíceis escolhas dos personagens principais, e foi exatamente isso que me cativou em sua narrativa. Gostaria de dizer o quanto o final é belo e tocante, mas as coisas não são exatamente assim. Ele é abrupto, inesperado, e se eu não soubesse que teríamos um livro para dar continuação a essa história (livro que por sinal já estou lendo), teria entrando em prantos. Por isso, inicialmente, achei que o final poderia ser classificado como ruim, mas de fato, percebi que ele tornou a história real. Nada de super poderes, mágica ou superação instantânea dos problemas, simplesmente complexo e verdadeiro como tem que ser.
Para os que se perguntam sobre a publicação do livro por aqui, a Editora Underworld comprou os direitos de publicação do livro no Brasil, mas ainda não deu nenhuma previsão de lançamento da obra.
Quotes Preferidos
“Eu é que estava preso e os que ficaram em casa estão todos loucos. Oh, a ironia cômica. (…). O Beckers são a imagem de uma família perfeita. A imagem perfeita de uma família completamente ferrada”
“Mas como diz o ditado, o sofrimento gosta de companhia. E eu me sinto infeliz, por dentro e por fora. Não é justo que a pessoa que está infeliz junto comigo seja o cara que me fez assim?”
“Por que você está aqui? De verdade.” Ele sacudiu a cabeça. “Eu não sei.” Ele passou a mão sobre a cabeça, frustrado. “E Deus, eu sei que isso é uma loucura e eu deveria ficar o mais longe de você que eu possa ficar, mas … e esta parte está me deixando louco … quando estou perto de você, eu finalmente posso sentir as coisas novamente. (…). Como se eu precisasse de você para ser são.(…). Isso não é fucking*, Maggie? Porque talvez se você me disser que é fucking* eu vou acreditar”
“Você está me seguindo?” ela perguntou, mas não me olhou nos olhos. “Sim”, eu disse.”Por quê?” “Honestamente? Ela olhou para mim, as sobrancelhas levantadas. Dei-lhe a única resposta honesta e verdadeira que eu tenho. “Você está aonde eu desejo estar”
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