Em um submundo de sombras e poder, onde os vampiros são reais, surge uma entidade desconhecida, que perambula em uma incansável busca pelo sangue eterno dos mortos-vivos, enlouquecendo-os com pavores semelhantes aos que eles costumam infligir aos seres humanos, e usando os próprios humanos como iscas para atraí-los…
Editora: Alcance l 256 páginas l Sobrenatural l Compre aqui: Amazon l Classificação: 4/5
No início do ano, quando li a primeira resenha do livro Doença e Cura, fiquei extremamente curiosa sobre a história, impulsionada pelo meu gosto por livros de vampiros o adicionei sem medo a minha lista de desejados, e passei a ler várias das resenhas do livro as quais tinha acesso. Contudo, os comentários contraditórios que lia sobre o livro fizeram com que meu sentimento a respeito dele mudasse, pois cada blogueiro descrevia a narrativa do autor de uma forma completamente diferente da outra, uns só discorriam elogios, outros eram evasivos, e tinham aqueles que só criticavam. Eu, um ser mais emocional do que racional, não compreendia essas grandes diferenças, e constantemente me perguntava – “E você Pah, o que será que vai achar do livro?”
Hoje, com o livro lido, é fácil compreender o motivo pelo qual existem tantas divergências a respeito dele, a história não é escrita para ser simples ou para agradar um público ascendente, no caso, o que gosta de literatura vampiresca, ou muito menos para ser comercializado como mais um livro sobre vampiros. Ele é mais amplo que isso, pois faz nossa imaginação trabalhar em um ritmo próprio do autor e de sua maneira inusitada de escrever, além de incitar nossa curiosidade com a forma que os vampiros são apresentados, não como caçadores, mas sim, como vítimas de algo totalmente desconhecido.
“Acha mesmo que, tendo se originado a partir da loucura frenética da natureza, o vampiro jamais teria de se preocupar, e sempre seria o centro das atenções, o eterno topo da cadeia alimentar?”
Quando pensamos em vampiros, o que imaginamos? Seres fortes, inabaláveis, no topo da cadeia alimentar… Sim, muito fortes (Quem já leu Irmandade da Adaga Negra, sabe de que vampiros estou falando). Então, o Fabian resolve nos mostrar que no ciclo constante de evolução da vida, mesmo os predadores mais fortes, um dia, se transformam em presa, dando espaço para que um novo predador reine. E se não bastasse isso para nos deixar intrigados, ele apresenta esse “novo predador” aos poucos, cada capítulo, de uma maneira única, descreve o encontro de um vampiro com esse novo ser, e o resultado desse encontro não é nada animador para os vampiros, que atados perante o poder de seu caçador, viram alvo fácil nessa perseguição de vida ou morte.
Assim como os vampiros atacados, vamos descobrindo sobre esse predador, e seus costumes com uma rapidez imprópria perante sua evolução, é como se ele sempre estivesse à nossa frente, sempre adiantado, longe do nosso entendimento, e do alcance dos vampiros. O que posso adiantar é que esse caçador se alimenta exclusivamente do sangue dos vampiros, e seus meios para conseguir seu alimento estão diretamente ligados com a proliferação de um vírus, uma doença inserida pelo predador no alimento de sua presa, ou seja, a doença toma a forma do que os vampiros mais almejam, o sangue.
“(…) tudo começou quando eu vi a trilha de sangue, espalhada como um fio de lava fervilhante no chão o beco. Sangue vivo, limpo, vermelho-claro, quse como se dele se originasse luz (…). Sangue que eu bebi, ludibriado, embevecido por uma necessidade sobre a qual imaginava até então ter pleno controle.”
Conforme mais informações são inseridas na trama, começamos a moldar um quebra cabeça, unindo detalhes, e compreendendo o sentido para qual a história caminha. Sem dúvida, adorei isso, poder sair do micro, dos detalhes da narrativa, para compreender o macro, o geral, a amplitude da história. Especificamente, lemos sobre a evolução da doença, e vemos os vampiros buscarem constantemente por uma cura, para uma solução que possa pôr fim ao mal que os aflige. E nos perguntamos, será que a presa pode se votar contra seu predador?
“O ser com o qual lidamos, esta nova entidade, não minto quando admito acreditar que tal ser pode colocar de joelhos toda a nossa raça de uma só vez, tamanho o poder de que dispõe. Um poder vasto e especializado, que parece ser todo dedicado à nossa destruição.”
Contudo, a narrativa não se resume à doença que assalta a sociedade dos vampiros. O autor soube ligar e entrelaçar em sua escrita elementos reais e presentes em nossa sociedade, como o preconceito, o racismo, a desigualdade social, sempre refletindo sobre elementos particularmente humanos, sobre a forma pela qual escolhemos nossos valores e prioridades.
O que mais gostei? Do contexto, da forma com que os personagens são apresentados, já que o autor não os nomina, só descreve algumas de suas características, determinando alguns traços marcantes, fazendo nossa imaginação trabalhar bastante, e principalmente a forma como ele liga os acontecimentos, conduzindo o fluxo da história de uma maneira que para quem lê, é um jogo de dicas, em que somos incitados a fazer apostas sobre o futuro da trama. Já o que menos gostei, foi do excesso de características biológicas em alguns momentos do livro, talvez por um motivo particular (não sou muito ligada em biologia), mas tem cenas em que a descrição molecular e celular é detalhada demais, o que me desprendia da trama.
Com uma narrativa complexa, ampla, impessoal e ao mesmo tempo, rica em detalhes e emoções, o livro em si só, é controverso, ele não segue uma linha única de raciocínio, tem momentos em que lemos lembranças, em outros, trechos de músicas ou atos de teatro, além das constantes idas e voltas em primeira pessoa, e terceira pessoa. O fato é que, a apresentação do livro (cada capítulo mostrando sobre um vampiro e sua relação com a doença e com seu predador), tornou o fluxo da história incontínuo, o que desperta no leitor sentimentos e reações distintas. Tem um capítulo, meu preferido, que conta a história de uma moça humana, envolvida no mundo dos vampiros por acaso, que possui o início da narrativa tão diferente do clima de suspense do resto do livro, que quase me imaginei lendo um romance.
De forma objetiva, posso dizer que o livro Doença e Cura é como uma montanha russa, possui o caminho incerto, indefinível e ao mesmo tempo adaptável. Feito sob medida para quem gosta de ler e se aventurar perante o inusitado.
Peço desculpas se me estendi na resenha, não foi fácil escrevê-la, e sinto que ainda não disse tudo o que queria… De qualquer forma, agradeço pelo Book Tour Selo Brasileiro, por mais uma ótima leitura.
Comente via Facebook