Talentosa e ambiciosa, a modista Marcelline Noirot é a mais velha das três irmãs proprietárias de um refinado ateliê londrino. E só mesmo seu requinte impecável pode salvar a dama mais malvestida da cidade: lady Clara Fairfax, futura noiva do duque de Clevedon. Tornar-se a modista de lady Clara significa prestígio instantâneo. Mas, para alcançar esse objetivo, Marcelline primeiro deve convencer o próprio Clevedon, um homem cuja fama de imoralidade é quase tão grande quanto sua fortuna. O duque se considera um especialista na arte da sedução, mas madame Noirot também tem suas cartas na manga e não hesitará em usá-las. Contudo, o que se inicia como um flerte por interesse pode se tornar uma paixão ardente. E Londres talvez seja pequena demais para conter essas chamas. Primeiro livro da série As Modistas, Sedução da seda é como um vestido minuciosamente desenhado por Loretta Chase: de cores suaves e românticas em alguns trechos, mas adornado com os detalhes perfeitos para seduzir.
Editora: Arqueiro l 304 Páginas l Romance de Época l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
O que mais me surpreende na escrita da Loretta Chase é que suas protagonistas nunca são as típicas damas do século XIX. Na época, o reconhecimento e a aceitação social eram direcionados apenas para as mulheres de berço, de criação e comportamento impecável, e de beleza tradicional e etérea. Desta forma, a autora quebra paradigmas ao criar personagens femininas fortes, destemidas, trabalhadoras (o que era inadmissível, ainda mais para mulheres) e que lutam pela sua sobrevivência independente da opinião da aristocracia Inglesa. Tanto é que na série As Modistas, Loretta dá vida a três irmãs que, graças à irresponsabilidade de seus pais, tiveram que trabalhar para construir um lar. Ainda crianças essas três conquistaram uma profissão e, desde então, viraram talentosas modistas. O resultado de tanto esforço é um ateliê rentável e muito especial para essas mulheres; o que faz com que Sedução da Seda seja– antes mesmo do romance e da narrativa sensual e bem-humorada – uma história de garra e de superação do preconceito social. E você achando que romances de época não são reflexivos, não é mesmo?
A obra gira em torno de Marcelline – a mais velha das irmãs Noirot – e Gervaise, o Duque de Clevedon. A relação dos dois começa pelo interesse: Marcelline pretende usar a posição de Clevedon para fazer com que seu ateliê seja reconhecido e aceito pela nobreza Inglesa. Todos sabem que as irmãs Noirot são as melhores modistas da região, entretanto o tradicionalismo sempre fala mais alto entre os ingleses, o que faz com elas tenham poucas clientes da nata da sociedade. Dispostas a tudo para alcançar o topo, as irmãs elaboram um plano para fazer com que a jovem Clara Fairfax, futura noiva do Duque de Clevedon, seja sua mais fiel cliente. Para isso, Marcelline vai à caça de Gervaise e mergulha em um perigoso jogo de sedução. A ideia é mostrar para o Duque o quanto um vestido é importante e, consequentemente, fazê-lo convencer Clara de que ela precisa das irmãs Noirot para ser uma Duquesa mais que adequada. O problema é que a sedução entre Marcelline e Gervaise vai virar mais do que uma mera negociação comercial, colocando em xeque as perfeitas regras sociais que ditam que um Duque quase noivo não deve perseguir (e muito menos se interessar) por uma mera costureira. Com certeza esses dois vão aprontar muito e, por mais que alguns digam o contrário, a sociedade vai adorar acompanhar as aventuras protagonizadas por Noirot e Clevedon.
O que mais gostei no livro foi o fato da narrativa focar no trabalho das irmãs Noirot. Levando em conta o papel da mulher (e principalmente da burguesia) no século XIX, achei corajoso e inusitado o fato da autora criar protagonistas que sobrevivem do próprio trabalho, que não se envergonham do que fazem, que amam seu ateliê da mesma maneira que se amam, e que são sim ótimas manipuladoras, sedutoras e estrategistas. Amei essas jovens, amei o talento nato que elas têm para criar vestidos e manter um negócio, e amei ainda mais a família que elas construíram com tão pouco. A história delas, mesmo tendo como cenário um período tão distante, assemelha-se a de muitas mulheres espalhadas pelo mundo: empreendedoras que lutam, sonham e fazem acontecer. Foi gostoso vê-las planejando e construindo um negócio cada vez maior e mais atrativo. Sem contar que elas fazem de tudo pelo bem do ateliê, o que significa que elas vivenciam experiências para lá de divertidas e surpreendentes (morri de rir com Marcelline perseguindo o Duque com seus belos vestidos e deixando claro para ele que só queria usá-lo como ponte de expansão para seu negócio).
Outro ponto positivo do livro é que ele aborda com maestria a rigidez por trás das leis sociais do século XIX. Ao unir uma modista e um Duque, duas figuras com posições sociais opostas, a autora nos faz refletir sobre preconceito social e, principalmente, sobre a crueldade que permeia a disparidade social. Gosto muito desse tipo de romance “socialmente impossível”, pois ele nos mostra que o amor é maior do que qualquer convenção social. O que conta em um relacionamento não é o dinheiro ou um título, mas sim a vontade de estar todos os dias ao lado de uma mesma pessoa. E, exatamente por isso, adorei como a figura do Duque personifica essa dualidade: a metade que quer seguir o papel exigido pela sociedade, e a outra metade que quer se envolver com essas modistas – não só no sentido de amar uma delas, mas de entrar nessa família, de ajudá-las a resolver seus problemas, e de colaborar para o crescimento do negócio delas.
Assim como todos os livros da Loretta a narrativa de Sedução da Seda é divertida, surpreendente (exatamente por apresentar personagens diferentes das que costumamos ver em romances de época), irônica na medida certa, emocionante e – claro – muito apaixonante. Adorei a leitura, os personagens, o romance, e o delicioso e cativante desfecho. Não vejo a hora de ler o próximo volume desta saga.
Sobre a Série
Sedução da Seda é o primeiro volume da série As Modistas. Cada livro conta a história de amor de um casal diferente (a das três irmãs Noirot e de uma de suas clientes).
Beijos!
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