Há segredos muito bons para serem guardados — e livros muito bons para serem esquecidos Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, o queridinho da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paraplégico, e vai parar na prisão. Sem a referência do irmão, a garota muda de escola e passa a questionar seu papel dentro da família e no mundo. Então ela conhece os Chatham. Inserida no círculo caótico e acolhedor dessa família, Sydney pela primeira vez encontra pessoas que finalmente parecem enxergá-la de verdade. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, Os bons segredos conta a história de uma garota que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.
Editora: Seguinte l 408 Páginas l Jovem Adulto l Compare & Compre: Saraiva • Amazon • Submarino l Skoob l Classificação: 5/5
Com a leitura de Os Bons Segredos descobri que é impossível não se envolver com os livros da Sarah Dessen. Adoro a forma como a autora descreve as dificuldades enfrentadas pelos jovens adultos, narrando com riqueza de detalhes o quanto a vida pode ser cruel nessa idade. Suas obras são emocionantes, verdadeiras, reflexivas e tocantes. E ao falar de temas polêmicos e reais, Sarah aborda um período muito importante na vida de qualquer jovem: o momento em que é preciso enfrentar o futuro e seguir rumo ao amadurecimento. Às vezes são problemas escolares, outras familiares, mas o ponto é que ser jovem é superar constantemente medos e traumas, é temer o futuro mas não desistir de lutar por ele. E é exatamente sobre isso que os livros da autora são: traumas, medos, inseguranças e infinitos aprendizados.
A obra gira em torno de Sydney e sua família. A jovem sempre viveu à sombra do irmão mais velho – lindo e charmoso, ele sempre teve tudo o que queria (tanto dos outros quanto dos pais). Entretanto, talvez exatamente pelas regalias que teve, crescer foi mais difícil para ele; e entre idas e vindas, o jovem foi preso por dirigir bêbado e atropelar um adolescente que acabou em uma cadeira de rodas para a vida toda. Após a prisão do irmão as coisas mudaram, tanto financeiramente quanto emocionalmente, na casa de Syd. Algumas regalias foram cortadas para contenção de despesas, mas o que mais assusta a jovem é a mudança na personalidade dos pais. Eles nunca prestaram muita atenção na filha, mas tudo assumiu um nível astronômico depois que eles passaram a focar exclusivamente na liberdade do filho mais velho – eles não medem esforços para tê-lo de volta em casa. O ponto é que Sydney se sente solitária na própria casa. Ela sente falta dos pais e do irmão, ao mesmo tempo em que não aceita e entende suas atitudes. Para ela o irmão precisa pagar pelo que fez, enquanto seus pais precisam aceitar o crime do filho mais velho e parar de fingir que não existe dor por trás desse erro. Sem poder fazer nada para mudar a situação em casa, Sydney resolve que precisa recomeçar, que precisa estudar em um colégio novo, que precisa de novos amigos, e que precisa construir uma vida sem a constante imagem do irmão: ora como rapaz perfeito ora como prisioneiro condenado. Assim, Syd inicia uma nova fase ao matricular-se em um colégio público no qual ela tem certeza que sua vida mudará. E ela tem razão, pois no novo colégio ela terá a possibilidade de conhecer Os Chatham, uma família que vai acolher e confortar a jovem de uma maneira que só o amor e a amizade são capazes de fazer.
Como já é de imaginar, o que mais gostei da obra foi do processo de crescimento da protagonista. Syd vive cercada de medos, inseguranças e segredos, portanto constantemente anda em uma corda bamba, se equilibrando entre os erros do irmão, as cobranças dos pais, e seus sonhos para o futuro. Foi muito doloroso mergulhar na vida da protagonista, principalmente por ela ser passiva. O fato é que a personalidade de Syd faz dela o tipo de garota que coloca os outros em prioridades: seu irmão, seus pais, seus amigos. Mas isso não significa que ela não se importe com seus próprios desejos, muito pelo contrário, afinal ela sofre calada por não se sentir ouvida e compreendida. Em muitos momentos quis entrar nas páginas do livro e criar um grande confronto; eu queria que os pais dessa garota vissem o quanto ela precisa deles, o quanto ela anseia que eles reparem que ela existe. Ao mesmo tempo, também queria gritar com a Syd para que ela assumisse o rumo da sua vida e enfrentasse seus pais. Mas sabe o que é mais engraçado? Eu sou exatamente como a Sydney: a pacificadora, a que escuta mais que fala, a que se sacrifica pela família e pelos outros. Então foi ainda mais chocante ver meu reflexo na protagonista, ver o quanto abri mão da minha felicidade pelos outros e, principalmente, ver que assim como ela isso só me fez crescer. Então a grande sacada do livro é que a dor da protagonista é gritante, mas ela não tenta machucar os outros da mesma forma que está machucada. Ela erra, cai, levanta e vai aprendendo a seguir em frente sozinha, ao mesmo tempo em que vai mostrando aos pais com suas ações o quanto é diferente do irmão ou o quanto é digna do amor deles. Talvez a personagem não seja a mocinha mais determinada que já encontramos, mas isso não significa que ela não seja forte – até porque sua jornada prova o quão incrível ela foi em lidar com todos os problemas que sufocam sua família.
Outro ponto que amei na leitura foi a construção da relação da Sydney e do seu irmão. O jovem é constantemente apresentado como um delinquente, como alguém que teve todas as oportunidades de crescer na vida e as desperdiçou; tanto é que em alguns momentos julgamos com facilidade as atitudes do personagem. Entretanto, ao longo da história a autora mostra que nem tudo é como parece, que as atitudes dele não podem ser justificadas mas sua personalidade sim. Portanto uma das coisas mais belas do livro é ver Syd finalmente entender quem verdadeiramente é seu irmão. Outro ponto que amei foi a participação da família Chatham na história. Eles são os grandes responsáveis pelo amadurecimento da Syd, afinal eles apresentam para ela o que é ter amor familiar, o que é contar com amizades verdadeiras, e como é levar uma vida feliz mesmo diante das dificuldades do dia a dia. Fora que por causa deles, temos a construção de um belo e fofo romance entre Sydney e Mac, um dos filhos dos Chatham.
No geral a obra é envolvente, reflexiva, fácil de ler e de amar. Acho que o final foi um pouco corrido, principalmente pelo tema que a autora deixa para abordar no desfecho da história, ainda assim não consegui deixar de devorar a obra. Meu preferido da autora continua sendo Just Listen, mas Os Bons Segredos também conquistou um lugar no meu coração. Se você gosta de histórias de crescimento pessoal recheadas de emoção e reflexão, os livros da Sarah Dessen são na medida certa para você.
Beijos!
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