Por favor, não deixem a dor regressar conta a história de Joel, operário de uma fábrica de tijolos onde o pai passou toda a vida sem nada conseguir. Após perder a mãe, vítima de uma doença incurável, ainda em prantos é obrigado pelo patrão a fazer uma viagem à capital. Chegando lá ele se depara com uma realidade que pensava estar extinta: um pequeno grupo que compartilhava as idéias nazistas e idolatrava Adolf Hitler, mantendo secretamente um pequeno campo de concentração. As vítimas principais eram estrangeiros e crianças de um orfanato local. A história retrata a repetição de todo o sofrimento causado pelo holocausto e mostra a luta de pessoas comuns, como Joel, para impedir que a dor desse passado tão obscuro possa retornar em nossos dias. Um jeito simples e tocante de retratar a dor causada pelo preconceito. Um livro que fará o leitor meditar por muito tempo.
Editora: ArtExpressa l 156 páginas l Compre aqui: Amazon l Classificação: 3,5/5
Por favor, não deixem a dor regressar é um livro de narrativa profunda e sentimental, que nos apresenta a Joel, um homem marcado pela simplicidade e pobreza de sua infância, e principalmente pelas perdas não superadas de seu passado. A riqueza da história está na complexidade desse personagem, que ao longo do livro demonstra a confusão em que está seu coração, sentimentos contraditórios como, dor, raiva, medo, saudade, amor, carinho e compaixão aparecem constantemente no livro, e a forma com que o autor escreve colabora diretamente para que compartilhemos a profundidade desses sentimentos.
Assim, no início o ponto central da história é o fracasso de Joel, ele não está satisfeito com a sua vida, seu sonho é se tornar um grande escritor, mas todas as suas tentativas de publicação de seu livro falham, e seu atual trabalho é aquele que desde pequeno ele desprezou. O sentimento de frustração faz com que mágoas e feridas do passado voltem a assombrar Joel, por isso, nas primeiras 100 páginas do livro mergulhamos por completo no universo desse personagem, de seus anseios, de sua família, na forma com que sua vida está caminhando.
“-Sei… Velho desgraçado – Sussurrou Joel.
– O que disse?
– Nada senhor! Apenas pensava alto. Enfim, o que deseja me dizer?
– Quero que mude suas atitudes em meu escritório, ou, do contrário, terei que dispensá-lo. Fui claro?
-Sim Senhor! – respondeu Joel. E murmurou:
– Como se essa merda me fizesse falta…
– O senhor costuma se pronunciar através de sussurros?”
Em uma viagem a trabalho, Joel parte para a Capital, local em que a narrativa muda de foco, chegando ao tão surpreendente ápice do livro. É nesse momento em que novos personagens surgem na história, e que muitos mistérios passam a rondar Joel, levando-o a descobrir um campo de concentração, que seguindo os ideais nazistas, captura os estrangeiros, torturando-os até a morte. Deparamos então, com um Joel corajoso e repleto de compaixão, que se esforça ao máximo, para acabar com esse grupo preconceituoso, contudo, em uma cidade desconhecida é difícil saber em quem confiar e a cada passo rumo à solução do enigma, ficamos ainda mais curiosos para descobrir quem são os verdadeiros responsáveis por tais atrocidades.
Na descrição do campo de concentração o autor não poupa detalhes, as cenas de tortura são profundas e nos deixam refletindo por um bom tempo sobre o quanto o homem é capaz de subjugar seu semelhante, quando motivado por ideais tolos e desumanos. Posso dizer que o final do livro é emocionante, e que até hoje me pego pensando sobre ele, acredito que o autor conseguiu atingir seu objetivo, pois, em uma passagem do texto ele salienta que é muito mais importante que um livro marque um único leitor, do que seja lido por milhares de pessoas, e não signifique nada para elas.
“[…] tire da sua cabeça a ideia de que se tem que escrever algo que todo mundo leia. Do que adiantaria milhares de pessoas lerem um livro seu e depois esquecerem totalmente o que diz, e simplesmente colocarem na lista de apenas mais um livro que leram?”
O único ponto do livro que não gostei foi a ausência de especificação do local (região) e do tempo exato em que a história acontece, a falta dessas informações e a personalidade extremamente brasileira do Joel e de sua família, nos fazem imaginar a história acontecendo em um local nacional, contudo, para mim, a narrativa como um todo não se encaixa em nosso país, talvez pela cultura de nosso povo… Desta forma, conforme lia o livro passei por um conflito interno para imaginar o cenário, que às vezes se parecia com o nordeste brasileiro, já eu outras com os países europeus. Entretanto, esse fato não atrapalha o fluxo da história, que é envolvente e favorável ao leitor.
Sendo assim, posso dizer sem dúvida que o livro “Por favor não deixem a dor regressar” foi escrito sob medida para o leitor que gosta de uma trama misteriosa e reflexiva, que ao final, nos permite meditar sobre nossa sociedade e nossos valores. Livro recomendado!
Esse livro faz parte do Book Tour Selo Brasileiro, saiba mais AQUI.
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