Palavras do autor: “Nesse livro em especial não me prendi a nada; fiz como fazia nos palcos: montei um personagem e deixei fluir tudo na sua sintonia. O protagonista, Luiz Aurélio, encontra-se num estado de perturbação mental contínuo: não existe mais verdade ou ilusão; existe a sua realidade tragicômica tosca de perdas super valorizadas e ciúmes.” Apresentação do livro: É verdade, eu matei o cozinheiro. Em momento algum deste livro negarei que matei o sórdido cozinheiro com minhas próprias mãos de escrever versos. Havia motivo claro em saciar-se com a sua morte, morte de quem por carne e gozo objetou-se ao incomensurável amor que me tornava tão puro. Eu estripei-o com suas facas imundas de trabalho banal, e escalpelei por mimo infantil, de criança brincalhona, ao ver os índios e escalpes na TV. Matei o demônio com noventa facadas, cultivando um novo demônio sanguinário em mim, portanto não negarei ter feito a coisa mais maravilhosa que eu poderia fazer por minha inconsequência gloriosa naquele momento: Eu matei o cozinheiro. A morte do cozinheiro já deve ser considerada uma das obras literárias mais intensas e atuais sobre a dor de cotovelo e o ciúme. De forma singular o autor nos guia sem medo até o amor doente de Luiz Aurélio e as psicoses novas da recente solidão induzida. A derrota do ”eu” exaltado, o abandono, e a morte que pede lugar ao descontentamento puramente egoísta caminham livres. Vemos um jogo de querer e não poder, que desenrola o frágil espírito do ser humano desiludido de amor. Usando a mescla de linguagens necessária em sua abordagem diferenciada, Allan Pitz atormenta os corações abalados neste livro memorável e instigante, fazendo enxergar com outros olhos a parte considerada cruel de uma trágica história romântica.
Editora: ABOVE Publicações l 79 páginas l Literatura Nacional l Compre aqui: Amazon l Classificação: 3,5/5
Escrever as resenhas dos livros participantes do Book Tour Selo Brasileiro se tornou um desafio, a cada novo livro que leio fico ainda mais impressionada com o talento dos autores nacionais, que além de se mostrarem extremamente criativos em suas obras, também possuem o talento de surpreender o leitor com a qualidade e a peculiaridade de suas histórias.
Confesso que “A Morte do Cozinheiro” é um livro que se eu não participasse desse book tour eu não leria, talvez pela capa, ou pelo título, não sei o motivo, mas sou sincera quando digo que o livro nunca me cativou de uma forma concreta, minha curiosidade sobre ele era movida somente pela indagação de se gostaria ou não do livro. Por isso, digo que ele foi um caso típico de falta de atração, ou em vocabulário popular, entre nós, à primeira vista, não “rolou uma química”.
Quando o recebi e vi que o livro era bem fininho (compacto e com 79 páginas) comecei logo a leitura, assim poderia cumprir rapidamente com esse “compromisso”. Contudo, ao começar a lê-lo mergulhei em uma leitura prazerosa, inusitada e principalmente, rica em emoções. Nunca imaginaria que o livro seria assim, tão intenso. Narrando a história de Luiz Aurélio, um escritor frustrado em sua vida profissional e amorosa, o autor trata com destreza de emoções fortes e muito presentes em nosso dia a dia: raiva, ciúme, inveja, amor, dor, saudade e solidão, são percebidas com clareza na história, e me arrisco a dizer que também são experimentadas nas páginas do livro.
Luiz não se conforma com a perda de seu único e verdadeiro amor, Carmem, mulher que o fazia completo, que o tornava feliz mesmo perante as dificuldades. Como escritor iniciante sua vida não era fácil, o dinheiro era insuficiente para manter um relacionamento, uma família, e como sonhos não geram dinheiro, a mãe de Carmem, insatisfeita com o relacionamento da filha, se aproveitou de fatos do destino para separá-los. Isso deixou Luiz desolado, quatro anos após o término ele ainda esperava ansiosamente pelo momento em que Carmem compreendera que sua mãe estava errada, que seu lugar era ao lado dele e que então, a qualquer momento, voltaria aos braços dele. Contudo isso não ocorre, e Carmem se envolve com outro homem, Lucas, o cozinheiro.
“Quatro anos de doutrina burra no topo da falsa inteligência, quatro anos isolado no lixo acompanhando a destruição dos meus sonhos mais queridos. No computador eu via sua felicidade aparente, seus passeios, suas novas declarações de amor… Eu via as fotos cínicas e sentia falta de mim nas imagens bobas cotidianas, era o meu braço em sua cintura, claro, era minha boca em sua face! (…) Eles eram felizes! Felizes, diziam as vozes! Como eu queria voar para longe daquele lugar de tantas lembranças sofridas, o cheiro dela ainda impregnava as paredes mortas de esperar por nada…”
É fácil compreender o que Luiz sente, na realidade, pessoalmente, doeu ler sua dor e lembrar de como já passei por isso. Afinal, sejamos sinceros, quem nunca passou por isso? Ele se perdeu ao perder Carmem, a vida passou diante dele, enquanto ele esperava por algo que não poderia ter mais. E quando começou a vê-la com outro, isso se intensificou, a dor virou ódio, ciúmes, raiva. A história dos dois pareceu algo distante, uma mentira, ilusão que só serviu para machucá-lo.
“Feio de tudo, ignorante, um cozinheiro estúpido! UM MALDITO COZINHEIRO! (…) Seu sorriso cínico horroroso era para mim o mais canalha dos temperos; ele sorria para mim nas fotos, ele dizia sem boca: Um round, Luiz, senão ficarei com ela pelo resto da vida; um round antes do fim.”
Desde o início da leitura sabemos que Luiz matou o cozinheiro, e até aqui é previsível que o ciúme e a dor da perda tenham sido seu principal motivo para isso, contudo é aí que me surpreendi, Luiz passa a receber ligações anônimas que alegam que Lucas pretende matar Carmem, e são essas ligações que o fazem ter certeza de que o cozinheiro não merecia viver.
“- Só você mesmo, vira até assassino por aquela magricela sem sal. – Talvez seja a minha síndrome do marinheiro Popeye… Não posso abandoná-la. Ela precisa de mim, sinto isso.”
Movido por essas ligações ele faz uma escolha, contudo será que as ligações realmente existem, ou somente são reflexos de seu subconsciente expressando algo que seu coração almeja que seja verdade? Ou mais, se as ligações são verdadeiras, quem as faz? Muitos são os mistérios que envolvem a narrativa, e no final ficamos impressionados com o rumo que a história tomou.
Para mim não existem dúvidas quanto à ótima qualidade da história, contudo, o início e o fim são demasiadamente confusos. No começo, ficamos perdidos com o turbilhão de informações apresentadas, porém fica claro que isso é um reflexo da forma com que a história foi escrita, já que ela é narrada em primeira pessoa, contada sob o ponto de vista de Luiz, tornando-se confusa como seus sentimentos. Mas o final é vago, queria mais explicações, mais detalhes, mas informações. Me senti como em Dom Casmurro, quando ficamos na dúvida se Capitu traiu, ou não, Bentinho. Claro que isso tem um ponto positivo, mas para mim, ainda faltou algo, uma revelação que só quem ler, ou já leu, compreenderá o que digo.
No geral o livro é bom, sem erros de português, escrito de forma proseada, bonita de se ler por seu vocabulário rico e por suas frases bem elaboradas. Envolvente, a história nos faz refletir sobre a profundidade de alguns sentimentos, e também analisar nossa realidade social, a pobreza que nos cerca, tanto financeira, como moral. O que mais gostei? Da forma concreta como os sentimentos de Luiz são apresentados, já o que menos gostei, foi a ausência de algumas informações.
Sendo assim, recomendo o livro a leitores curiosos e que gostam de mergulhar em palavras que nos permitam viajar a um mundo de sentimentos e conflitos emocionais. E aproveito para agradecer ao Selo Brasileiro por essa leitura.
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