setembro 01, 2011

[Resenha] Book Tour Selo Brasileiro: A Morte do Cozinheiro – Allan Pitz

Palavras do autor: “Nesse livro em especial não me prendi a nada; fiz como fazia nos palcos: montei um personagem e deixei fluir tudo na sua sintonia. O protagonista, Luiz Aurélio, encontra-se num estado de perturbação mental contínuo: não existe mais verdade ou ilusão; existe a sua realidade tragicômica tosca de perdas super valorizadas e ciúmes.” Apresentação do livro: É verdade, eu matei o cozinheiro. Em momento algum deste livro negarei que matei o sórdido cozinheiro com minhas próprias mãos de escrever versos. Havia motivo claro em saciar-se com a sua morte, morte de quem por carne e gozo objetou-se ao incomensurável amor que me tornava tão puro. Eu estripei-o com suas facas imundas de trabalho banal, e escalpelei por mimo infantil, de criança brincalhona, ao ver os índios e escalpes na TV. Matei o demônio com noventa facadas, cultivando um novo demônio sanguinário em mim, portanto não negarei ter feito a coisa mais maravilhosa que eu poderia fazer por minha inconsequência gloriosa naquele momento: Eu matei o cozinheiro. A morte do cozinheiro já deve ser considerada uma das obras literárias mais intensas e atuais sobre a dor de cotovelo e o ciúme. De forma singular o autor nos guia sem medo até o amor doente de Luiz Aurélio e as psicoses novas da recente solidão induzida. A derrota do ”eu” exaltado, o abandono, e a morte que pede lugar ao descontentamento puramente egoísta caminham livres. Vemos um jogo de querer e não poder, que desenrola o frágil espírito do ser humano desiludido de amor. Usando a mescla de linguagens necessária em sua abordagem diferenciada, Allan Pitz atormenta os corações abalados neste livro memorável e instigante, fazendo enxergar com outros olhos a parte considerada cruel de uma trágica história romântica. 

Editora: ABOVE Publicações l 79 páginas l Literatura Nacional l Compre aqui: Amazon l Classificação: 3,5/5

 

Escrever as resenhas dos livros participantes do Book Tour Selo Brasileiro se tornou um desafio, a cada novo livro que leio fico ainda mais impressionada com o talento dos autores nacionais, que além de se mostrarem extremamente criativos em suas obras, também possuem o talento de surpreender o leitor com a qualidade e a peculiaridade de suas histórias.

Confesso que “A Morte do Cozinheiro” é um livro que se eu não participasse desse book tour eu não leria, talvez pela capa, ou pelo título, não sei o motivo, mas sou sincera quando digo que o livro nunca me cativou de uma forma concreta, minha curiosidade sobre ele era movida somente pela indagação de se gostaria ou não do livro. Por isso, digo que ele foi um caso típico de falta de atração, ou em vocabulário popular, entre nós, à primeira vista, não “rolou uma química”.

Quando o recebi e vi que o livro era bem fininho (compacto e com 79 páginas) comecei logo a leitura, assim poderia cumprir rapidamente com esse “compromisso”. Contudo, ao começar a lê-lo mergulhei em uma leitura prazerosa, inusitada e principalmente, rica em emoções. Nunca imaginaria que o livro seria assim, tão intenso. Narrando a história de Luiz Aurélio, um escritor frustrado em sua vida profissional e amorosa, o autor trata com destreza de emoções fortes e muito presentes em nosso dia a dia: raiva, ciúme, inveja, amor, dor, saudade e solidão, são percebidas com clareza na história, e me arrisco a dizer que também são experimentadas nas páginas do livro.

Luiz não se conforma com a perda de seu único e verdadeiro amor, Carmem, mulher que o fazia completo, que o tornava feliz mesmo perante as dificuldades. Como escritor iniciante sua vida não era fácil, o dinheiro era insuficiente para manter um relacionamento, uma família, e como sonhos não geram dinheiro, a mãe de Carmem, insatisfeita com o relacionamento da filha, se aproveitou de fatos do destino para separá-los. Isso deixou Luiz desolado, quatro anos após o término ele ainda esperava ansiosamente pelo momento em que Carmem compreendera que sua mãe estava errada, que seu lugar era ao lado dele e que então, a qualquer momento, voltaria aos braços dele. Contudo isso não ocorre, e Carmem se envolve com outro homem, Lucas, o cozinheiro.

“Quatro anos de doutrina burra no topo da falsa inteligência, quatro anos isolado no lixo acompanhando a destruição dos meus sonhos mais queridos. No computador eu via sua felicidade aparente, seus passeios, suas novas declarações de amor… Eu via as fotos cínicas e sentia falta de mim nas imagens bobas cotidianas, era o meu braço em sua cintura, claro, era minha boca em sua face! (…) Eles eram felizes! Felizes, diziam as vozes! Como eu queria voar para longe daquele lugar de tantas lembranças sofridas, o cheiro dela ainda impregnava as paredes mortas de esperar por nada…”

É fácil compreender o que Luiz sente, na realidade, pessoalmente, doeu ler sua dor e lembrar de como já passei por isso. Afinal, sejamos sinceros, quem nunca passou por isso? Ele se perdeu ao perder Carmem, a vida passou diante dele, enquanto ele esperava por algo que não poderia ter mais. E quando começou a vê-la com outro, isso se intensificou, a dor virou ódio, ciúmes, raiva. A história dos dois pareceu algo distante, uma mentira, ilusão que só serviu para machucá-lo.

“Feio de tudo, ignorante, um cozinheiro estúpido! UM MALDITO COZINHEIRO! (…) Seu sorriso cínico horroroso era para mim o mais canalha dos temperos; ele sorria para mim nas fotos, ele dizia sem boca: Um round, Luiz, senão ficarei com ela pelo resto da vida; um round antes do fim.”

Desde o início da leitura sabemos que Luiz matou o cozinheiro, e até aqui é previsível que o ciúme e a dor da perda tenham sido seu principal motivo para isso, contudo é aí que me surpreendi, Luiz passa a receber ligações anônimas que alegam que Lucas pretende matar Carmem, e são essas ligações que o fazem ter certeza de que o cozinheiro não merecia viver.

“- Só você mesmo, vira até assassino por aquela magricela sem sal. – Talvez seja a minha síndrome do marinheiro Popeye… Não posso abandoná-la. Ela precisa de mim, sinto isso.”

Movido por essas ligações ele faz uma escolha, contudo será que as ligações realmente existem, ou somente são reflexos de seu subconsciente expressando algo que seu coração almeja que seja verdade? Ou mais, se as ligações são verdadeiras, quem as faz? Muitos são os mistérios que envolvem a narrativa, e no final ficamos impressionados com o rumo que a história tomou.

Para mim não existem dúvidas quanto à ótima qualidade da história, contudo, o início e o fim são demasiadamente confusos. No começo, ficamos perdidos com o turbilhão de informações apresentadas, porém fica claro que isso é um reflexo da forma com que a história foi escrita, já que ela é narrada em primeira pessoa, contada sob o ponto de vista de Luiz, tornando-se confusa como seus sentimentos. Mas o final é vago, queria mais explicações, mais detalhes, mas informações. Me senti como em Dom Casmurro, quando ficamos na dúvida se Capitu traiu, ou não, Bentinho.  Claro que isso tem um ponto positivo, mas para mim, ainda faltou algo, uma revelação que só quem ler, ou já leu, compreenderá o que digo.

No geral o livro é bom, sem erros de português, escrito de forma proseada, bonita de se ler por seu vocabulário rico e por suas frases bem elaboradas. Envolvente, a história nos faz refletir sobre a profundidade de alguns sentimentos, e também analisar nossa realidade social, a pobreza que nos cerca, tanto financeira, como moral. O que mais gostei? Da forma concreta como os sentimentos de Luiz são apresentados, já o que menos gostei, foi a ausência de algumas informações.

Sendo assim, recomendo o livro a leitores curiosos e que gostam de mergulhar em palavras que nos permitam viajar a um mundo de sentimentos e conflitos emocionais. E aproveito para agradecer ao Selo Brasileiro por essa leitura.

Beijos!

 

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8 Comentários

  • Aione Simoes
    02 setembro, 2011

    Pah, suas resenhas estão cada vez melores, de verdade!
    Também não me senti atraída pelo livro a um primeiro olhar e jamais imaginaria que 79 páginas poderiam ser tão intensas!
    Confesso que fiquei muito curiosa pra ler a história, gosto dessas que me tragam pra dentro dos sentimentos da personagem!
    Acredito que também me emocionaria com a dor da personagem, como você disse, acho que todos já passaram por alguma situação semelhante!
    Beijos!

  • Rapha
    02 setembro, 2011

    Pah, o Allan Pitz é mto talentoso!!
    Já li este livro dele e achei incrivel.
    Tem um estoria super diferente e uma narrativa única.

    Os autores nacionais aos pouquinhos estao ganhando seu devido espaço e fico muito feliz com isso! *-*

    Beijos
    Rapha – Doce Encanto

  • Vívian Rezende
    02 setembro, 2011

    Já li esse livro e ele é bem legal 🙂
    Acho que o que eu mais gostei foi a linguagem que o autor usou, mais complexa, mas de um jeito que não ficou cansativo.

  • Vanessa Vieira
    01 setembro, 2011

    Parabéns pela resenha Pah! Já li A Morte do Cozinheiro e curti bastante. Beijos!

  • Julia G
    01 setembro, 2011

    Pah, eu sou outra que nunca tive curiosidade para ler este livro. Não me atriu a capa, nem o título, e a sinopse do livro parece tão, tão – não sei nem que palavra usar – que não me instigou. Mesmo com sua resenha, não sei se leria.

    Beijos
    Conjunto da Obra

  • Marcella Grenge
    01 setembro, 2011

    Parece bem intenso mesmo, e assim como você eu não me interessei no começo, mas depois de ler a resenha fiquei com vontade de ler rs

  • Sw e Su
    01 setembro, 2011

    UAU, QUERIDA!! QUE RESENHA MARAVILHOSA!!!! ADOREI! CONFESSO QUE ESSE LIVRO TBM NUNCA ME ATRAIU, MAS SUA RESENHA FOI BASTANTE ESCLARECEDORA!!!

    BJINHOS!

    Swan
    @swannx
    Bem pra Mente

  • Nessa
    01 setembro, 2011

    Oi Pah!
    Sabe, realmente essa capa é muito diferente, fiquei olhando e pensando mil coisas. Talvez tbm não leria, mas pela sua resenha ate me deu vontade de ler!!
    Adoro suas resenhas!! bjinhs
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com