novembro 12, 2011

[Resenha Book Tour Selo Brasileiro] Apátrida – Ana Paula Bergamasco

Uma pequena vila na Polônia. Uma menina repleta de vida. Um encontro. Vidas Ceifadas. Sonhos Destruídos. Infâncias Roubadas. As recordações da personagem Irena amarram o leitor na História do Século XX. Baseado no estudo dos fatos que marcaram a época, o palco da narrativa é a conturbada Europa pós Primeira Guerra Mundial, culminando com a eclosão da Segunda Grande Guerra e a destruição que ela provocou na vida de milhões de pessoas. A narradora conduz a exposição em primeira pessoa, e remete o leitor a enxergar, através de seus olhos, o cotidiano a que ficou submetida. É um relato humano, sincero e envolvente que revela a passagem da vida infantil feliz da menina, para o tumulto da existência adulta, cheia de contradições.

Editora: Todas as Falas l 338 páginas l Compre aqui: Amazon l Classificação: 5/5

 

Se precisasse definir Apátrida em uma palavra, sem dúvidas o classificaria como emocionante. Com destreza a autora nos apresenta a um contexto tocante, envolvendo-nos com a dor e o sofrimento daqueles que presenciaram a segunda guerra mundial. O fato é que, esse, por si só, já é um tema comovente, é difícil não se deixar emocionar com as perdas e o sofrimento que afligiram a humanidade nesse período, ainda mais quando paramos para refletir sobre os motivos que levaram a tantas mortes. Será que a ânsia pelo poder justifica a necessidade de subjugar os desejos de seu próximo? Até que ponto algumas nações estão dispostas a ir para alcançar seus objetivos? O fato é que na guerra, ou no dia a dia, nossa sociedade, infelizmente, não se preocupa com as consequências de suas ações, o importante é a realização própria, independente do que isso possa causar aos seus semelhantes.

“Então, retinia uma pergunta insistentemente dentro de mim: o quanto vale a minha vida? E a das demais pessoas? Poderia ser dimensionada por quais parâmetros? Um valor em dinheiro? Uma quantidade de bens? A sua origem étnica ou religiosa? A sua preferência sexual? Os seus costumes? Não. Nenhum parâmetro válido quantifica a minha vida, nem a de meu filho, parentes, amigos e estranhos. Nós temos um mesmo e inestimável preço”

Assim, logo no início da leitura fui enlaçada pelas palavras e sentimentos presentes em cada página da narrativa. Eu, que faço o tipo de leitor que se emociona muito com o que lê, chorei fácil ao compartilhar das experiências de Irena, que como uma bibliografia, nos conta os detalhes de sua vida, partilhando conosco todas as suas lembranças, desde as mais felizes, até as que mais dolorosas.

Nascida na Polônia, em uma família simples, Irena ao nos apresentar suas memórias conta sobre as boas lembranças de sua infância, as brincadeiras, as amizades, os fortes laços que mantinha com seus irmãos e pais. Fala-nos também, de seu primeiro amor, das descobertas e dificuldades que esse sentimento causou, e então, de como a guerra chegou para tirar dela, aos poucos, os feixes de luz e paz que existiam em sua vida.

“Sim, a guerra é uma injustiça, pois arranca de muitos tudo o que eles têm, sem dar-lhes nada em troca”

Como vocês já sabem a Polônia, por estar em meio à Alemanha e antiga União Soviética, foi considerada um ponto estratégico, de forma que por esse motivo, foi dominada pelas forças alemãs. Desta forma, subjugados à dominação das tropas de Hitler, os poloneses sofreram duramente com a guerra, sendo tratados como uma raça impura, muito inferior à raça ariana. Por isso, Irena e sua família presenciaram o que existe de pior na guerra, o medo, a dominação, as perdas, as mortes. Suas experiências são intensas, cada fato descrito por Irena nos assombra, a realidade, mesmo que indireta, de sua narrativa, é algo que nos envolve de uma forma inimaginável.

O ponto forte do livro é a forma com que Irena narra sua história de vida, ligando fatos do passado com seu presente, ou vice-versa. Isso permite que possamos compreender o quanto a personagem amadureceu e principalmente, o quanto a guerra deixou cicatrizes imensuráveis. Entretanto, de forma surpreendente, mesmo tendo passado por momentos muito difíceis, Irena ainda sorri para a vida, e de uma forma simples ensina-nos que, na guerra, não existe um lado vencedor, todos os envolvidos, independente de qual deles acredite ter saído vitorioso, sofre perdas. E que mesmo durante longos períodos de dor e sofrimento, sempre existe a esperança de que um dia, a tristeza cederá lugar para a felicidade.

“Existe bênção que nos vem apenas por alguns dias. Mas não deixam de sê-lo por terem um período curto de existência”

Apátrida é o tipo de livro que marca o leitor, que nos faz refletir sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade. Afinal, o preconceito idealizado pelos que se denominavam a raça pura, é tão diferente, do preconceito racial ou cultural que ronda nossa sociedade? Outro ponto de reflexão é que, ao imaginar quantas pessoas existem no mundo que compartilharam das mesmas experiências que Irena, o livro nos faz pensar se todas elas foram tão fortes como ela, que foi capaz de dar uma chance a si mesmo, deixando o passado para trás.

Além de uma ótima trama, o livro conta também com uma narrativa dinâmica, prendendo-nos aos detalhes da vida de Irena. Sendo assim, o livro me surpreendeu, talvez tenha o imaginado uma história mais superficial, não tão real, e palpável, o trabalho que a autora teve de pesquisar nomes e fatos históricos referentes ao período narrado, tornou o livro ainda mais legítimo, misturando de uma forma quase imperceptível, ficção com realidade.

Só posso dizer que recomendo o livro, e que ele, sem dúvida, é um dos melhores livros nacionais que já li. Agradeço ao Selo Brasileiro pela oportunidade de leitura.

Beijos!

 

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19 Comentários

  • Nadja
    06 janeiro, 2012

    Estou lendo este livro, já me emocionei e estou gostando. Mas não tanto assim, para mim é um relato sofrido de uma vida toda, falta um pouco de diálogo e trama… mas não porque seja ruim, mas porque essas são coisas que eu procuro nos livros…
    Boa resenha!

  • Ana Paula Bergamasco
    14 novembro, 2011

    Oi, Pah, muitttttttoooo obrigada pela resenha!!! Fico feliz que tenha se emocionado. Estou lançando um novo livro com o Marcos Bulzara. Participe da promoção!!!!
    http://livrojoaoemaria.blogspot.com/2011/11/super-promocao-de-lancamento-de-joao-e.html

    Beijos, Ana

  • Eduarda Menezes
    14 novembro, 2011

    Oi Pah,
    Adorei a sua resenha, cheia de sentimento, dá para sentir o quanto você curtiu a leitura do livro, mesmo contendo tantas cenas muito fortes e tristes.
    Também sou do tipo que me envolvo fácil com os personagens e sinto as suas dores e alegrias, por isso sempre me preparo psicologicamente quando começo a ler um drama, principalmente sobre o período da guerra. São livos fortes, mas também muito lindos que nos deixam sempre refletindo sobre a inclinação que boa parte da sociedade tem para o mal, e pelo menos eu, sempre fico pensando, como o homem pode ser capaz de cometer atos tão desprezíveis e desumanos. Mas a capacidade de superação também é um dos nossos fortes, e a lição que tiramos de relatos como esse, sempre nos ajuda a encarar o mundo sobre outra perspectiva.
    Gostei muito da sua análise e pelo visto o livro é de muita qualidade!

    Ps. Apaguei o de cima, pois resolvi corrigir alguns errinhos que fiz ao digitar sem olhar rs

    Beijos! =)

  • Gah
    13 novembro, 2011

    Oii mana, td bem? Eu vi vc lendo este livro, e li a resenha agora estou super a fim de ler ele! Inda mais que vi vc chorando quando estava lendo ele… "You is Cut!" rss

    XOXO
    http://fuxicosdemeninas.blogspot.com/

    Gah

  • Mireliinha
    13 novembro, 2011

    Oi Pah!
    Eu amo a capa desse livro… É PERFEITA!
    E quanto a sua resenha, adorei… Passou bem a emoção do livro! Parabéns!

    :*
    Mi
    Inteiramente Diva

  • Camila Costa
    13 novembro, 2011

    aaaain eu tenho esse livro aqui e to roendo as unhas de ansiedade pra ler! Eu até te perguntei sobre ele no twitter! kkkk to preparando a caixinha de lenços já!

  • Gessy
    12 novembro, 2011

    Parabéns pela resenha! Muito boa mesmo!
    A tanto tempo quero ler esse livro, mas ainda não surgiu a oportunidade. Histórias ou estórias sobre a Segunda Grande Guerra sempre nos emocionam, e nos faz ver onde o "ser humano" pode chegar"…

  • Ana Ferreira
    12 novembro, 2011

    Pah,

    Primeiramente, gostei muito da sua resenha. Está completa e traz ao leitor toda a dose de sentimentos que você provavelmente teve ao longo da leitura.

    Não tenho nenhum apreço pela tristeza humana, mas pela nossa mente, pela forma como agimos em sociedade. Nossas crenças, nossa cultura e tudo mais. A guerra, infelizmente, faz parte disso e já li uma boa quantidade de livros a respeito das mais diversas que me arrebataram e muitas vezes geraram esse sentimento que você citou nos últimos parágrafos: reflexão. Refletir sobre nossos atos, sobre nossas prioridades. Quando nos deparamos com leituras como "Apátrida", creio eu, toda uma consciência a respeito das maldades e também das bondades que nos rondam é gerada.

    Gostei dos trechos selecionados também e creio que, apesar de toda a tristeza, trate-se de uma leitura valiosa.

    Beijinhos,
    Ana – Na Parede do Quarto

  • Igor Gouveia
    12 novembro, 2011

    Pah sua resenha está ótima! Eu ainda não li o livro e estou muito interessado na história. A trama parece ser bem legal.

  • Marcelo Lima
    12 novembro, 2011

    Resenha maravilhosa,me deu vontade de ler esse livro ,mas mão é muitodo meu estilo ,porém enfim deve ser bom ")

  • PAH QUE BOM QEU GOSTOU DO LIVRO EU TBEM ADOREI TER LIVRO O LIVRO QUE BOM QUE GOSTOU – MAS O TRISTE DO LIVRO FOI TER QUE ENCARAR VARIAS PARTES FORTES E AS VEZES HORRÍVEIS, UM OTIMO LIVRO ADOREI SUA RESENHA

    Rafa
    http://blogleiturasvivas.blogspot.com/

  • Karine Marinho
    12 novembro, 2011

    Eu tô com esse livro desde o começo do ano e estou com medo de lê-lo porque eu sei que vou chorar muiiiiito :/ Adorei a resenha,
    Beijos,K.
    Girl Spoiled

  • Vanessa
    12 novembro, 2011

    OiPah, eu já tive a oportunidade de ler este livro também por Book Tour e foi uma grata surpresa, a princípio eu não esperava muito do livro mas me surpreendi, é uma grande história, muito bom!

    Vanessa – Balaio de Livros.

  • Francyelly Moura
    12 novembro, 2011

    Oi…
    Bom, fiquei bem curiosa para ler esse livro… Minha professora de Política já foi nos campos de concentração e não aguentou conhecer o lugar todo, disse que a atmosfera é muito pesada, triste… 🙁 Tenho curiosidade de conhecer também, por isso ler a respeito é interessante.
    Sua resenha está ótima 😀 Parabéns!

    Beijos

  • Vicky
    12 novembro, 2011

    Oi,
    Nossa,vim fazer uma visitinha e fiquei O.o seu blog cresceu muito(eu já vim antes,mas é só hoje que parei parar ver direito,sorry) e merecidamente.O conteudo é incrivel o design perfeito,sério,nem tenho o que falar de melhor dele 🙂
    Eu já tinha ouvido falar desse livro,mas nunca havia tido curiosidade para lê-lo.Porém,com a sua resenha gostei bastante e pretendo em breve ler.
    Bite And Kisses,

    Vicky

  • Vanessa Vieira
    12 novembro, 2011

    Parabéns pela resenha Pah! Já li Apátrida e amei! Chorei litros com esse livro! Beijos!

  • Anime Daiki
    12 novembro, 2011

    Boa Noite 😉

    Gosto muito da capa desse livro.Tenho Parceria com a Autora mas não tive disponibilidade do livro, tenho muita curiosidade em relação a ele ah e claro Gostei muito da sua opinião referente a ele.

    Peço desculpa, caso tenha demorado a passar aqui pra comentar, mas sempre que consigo tempo e a net me ajuda estarei por aqui comentando.

    Beijos ٩(●̮̮̃•̃)۶ Angel
    Blog Anime Daiki

  • Allyson
    12 novembro, 2011

    Sua resenha está perfeita. Eu já lii, e adorei e vc me deu um otimo presente de aniversário. 11/11/11
    Dá uma passadinha no meu blog.
    http://www.allysonebooks.blogspot.com

  • Aione Simoes
    12 novembro, 2011

    Oi Pah!
    Sua resenha, impecável como sempre, mostra o quanto você se envolveu com o livro!
    Deve ser muito bom e emocionante mesmo, só ouço comentários positivos sobre ele!
    Mas exatamente por causa do tema eu não tenho vontade de lê-lo. Sempre acho triste demais tudo relacionado à segunda guerra e acabo ficando deprimida. Fiquei traumatizada com O Menino do Pijama Listrado e, desde então, tenho evitado filmes, livros, tudo que trate do assunto!
    De qualquer forma, quando eu resolver encarar o trauma, esse é um dos livros que eu leria com certeza! Deve realmente ser muito bom!
    Beijos!