O enredo deste empolgante livro gira em torno dos amores de Anne Elliot que se apaixonara pelo pobre, mas ambicioso jovem oficial da marinha, capitão Frederick Wentworth. A família de Anne não concorda com essa relação e a convence romper seu relacionamento amoroso. Anos após Anne reencontra Frederick, agora cortejando sua amiga e vizinha, Louisa Musgrove. “Persuasão” é amplamente apreciado como uma simpática história de amor, de trama simples e bem elaborada, e exemplifica o estilo de narrativa irônica de Jane Austen, sendo original por diversos motivos, entre eles, pelo fato de ser uma das poucas histórias da escritora que não apresenta a heroína em plena juventude. O romance também é um apanágio ao homem de iniciativa, através do personagem do capitão Frederick Wentworth que parte de uma origem humilde e que alcança influência e status pela força de seus méritos e não através de herança.
Editora: Martin Claret l 232 páginas l Romance l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
“Você trespassa minha alma. Sou agonia e esperança. Não me diga que é tarde demais, que tais preciosos sentimentos se foram para sempre. (…) Só a você tenho amado. (…) Só por você eu penso e faço planos. Será que você não viu? Será que você não conseguiu entender meus desejos?”
Como característica da Jane Austen, a narrativa de Persuasão é rica em detalhes e repleta de bom humor. Com uma leve dose de ironia a autora descreve de forma minuciosa a sociedade inglesa do século XIX, discutindo pontos comuns à época, como o preconceito, a elitização e a discrepância social. Contudo, o ponto chave da obra em questão não é a crítica social realizada pela autora, mas sim, o demasiado leque de sentimentos presentes na trama. Logo de início nos deparamos com uma avalanche de emoções – saudade, medo, perda, preconceito e principalmente, ressentimento, fato que me surpreendeu, tendo em vista que os sentimentos não são narrados com tanta intensidade pela autora em Orgulho e Preconceito – obra da autora supracitada que tive o prazer de ler antes de Persuasão.
Aqueles que não apreciam esse tipo de comparação que me desculpem, mas não posso deixar de citar que, diferentemente de Orgulho e Preconceito, em que a heroína descrita por Jane Austen é perspicaz, direta e forte o suficiente para não deixar seus sentimentos prevalecerem sua razão, Anne Elliot, donzela que estrela Persuasão, é demasiadamente inteligente, bondosa e sensata, mas com sua alma caridosa raramente faz prevalecer suas vontades, priorizando sempre, as necessidades e desejos daqueles que estão a sua volta, isso faz de Anne uma moça reservada, que sofre calada a perda de um grande amor.
Quando jovem Anne viveu o início de uma grande paixão. Enamorada pelos encantos de Frederick Wentworth, aceitou um pedido de noivado, sonhando com seu desejado casamento. Contudo, a posição inferior de Frederick e sua instabilidade na atual profissão naval, fez com que a família de Anne não aprovasse o casamento, fato que acrescentado a desaprovação de tal relacionamento por sua grande amiga Lady Russell, persuadiu Anne a romper o compromisso. Envergonhado e desolado, Frederick partiu, seguindo seus planos na carreira de marinheiro, com a intenção clara de não mais voltar.
Longos oito anos se passaram e Anne não cogitou mais a possibilidade de se casar, os sentimentos que inundam seu coração demonstram os rastros de dor que o rompimento do noivado em sua primeira juventude deixou. E isso piora quando Frederick Wentworth, agora como Capitão Wentworth, retorna para a vida de Anne, cruzando com seu caminho vezes suficientes para fazê-la lembrar-se da decisão errada que tomou quando jovem.
“Haviam-se passado oito anos, quase oito anos, desde que tudo fora desfeito. (…) O que oito anos não podiam fazer? Acontecimentos de todos os tipos, mudanças, alienações, transferências (…) com todos esses raciocínios, ela descobriu que para os sentimentos tenazes oito anos pouco mais são do que nada.”
O regresso de Frederick está relacionado com sua atual condição, afinal é um homem feito e como já atingiu o sucesso profissional, vê com clareza a necessidade de cuidar de sua vida pessoal, ou seja, de procurar uma mulher para constituir uma família. Suas buscas são observadas de longe por Anne, que infelizmente está mais próxima do Capitão Wentworth do que gostaria. A dor de seu regresso é palpável aos olhos de Anne, que se aflige toda vez que o vê, ao mesmo passo, Frederick não aparenta estar tão imune aos sentimentos do passado quanto ela, e por isso, mantém-se frio e distante.
Ao decorrer da narrativa, vemos os encontros e desencontros do jovem casal, que luta para superar a dor do passado, buscando se libertar das mágoas e receios que permeiam tal relação. Eles se reaproximam, mas nenhum sabe ou é capaz de arriscar o quanto o outro está curado, se já se perdoaram, e em um emaranhado de emoções, dúvidas e superação, os vemos seguindo caminhos separados – que dependendo deles e de mais ninguém, podem um dia, tornarem-se um só caminho novamente.
“Um homem não se recupera de uma tal devoção a uma tal mulher. Não deveria; não pode”
A carga de emoções presente em Persuasão foi o suficiente para me encantar. Não precisei estender a narrativa para me envolver com a estória, sentindo na pele a dor e as dúvidas de Anne. A autora me surpreendeu não só com os sentimentos tão fortes presentes em sua trama, mas sim, e principalmente com o romance contido na mesma. Jane Austen é criticada por alguns por não descrever a intensidade do amor em sua obra, mas em Persuasão, está mais que claro sua capacidade de nos envolver e emocionar com o poder de uma paixão. A descrição da troca de olhares, de um diálogo breve, do nascimento de novas esperanças, da busca pelo perdão e pela compreensão, cada detalhe é rico em amor, puro e verdadeiro.
Anne tem a personalidade doce e amável, a forma como ela vê o mundo é compreensível e digna de respeito, são raras as pessoas que pensam tanto no próximo como tal personagem. Já Frederick não é nada menos que um perfeito cavalheiro. Mesmo perante sua dor e fragilidade, ele faz-se forte, em nenhum momento ao lado de Anne, mesmo sob as sombras do passado, ele tenta magoá-la, fazê-la sofrer da mesma forma que ela fez com ele, mesmo na dor, ele tenta, de todas as formas, ser cordial em sua distância, buscando ser feliz sem prejudicá-la. É claro que em certo ponto, ele usa de sua posição para chamar a atenção de Anne, para mostrar o que ela perdeu, mas mesmo nesses momentos, ele não deixa de demonstrar em seu olhar a confusão de sentimentos que o cerca. Sem dúvida o Capitão Wentworth é um dos personagens mais ricos e intensos sobre o qual já li e por isso, me encantei com sua personalidade e me afeiçoei com sua estória de vida, torcendo a cada instante para que ele fosse capaz de superar os erros do passado.
Além dos sentimentos, dos personagens e da grande estória de amor, me maravilhei mais uma vez com a forma ágil e direta de Jane Austen narrar os fatos. A simplicidade de sua escrita, diante a época da mesma, é incrível, e nos faz perceber o motivo pelo qual a autora é aclamada ainda hoje. Para concluir, só posso dizer que gostei muito da obra, me diverti, me emocionei – para ser sincera, chorei como um bebê – me encantei e claro, torci por um final feliz, no qual sobrepondo o amor, tanto Anne como Frederick encontrasse o perdão para suas almas marcadas pelos erros do passado.
Obra mais que recomendada! Agradeço a minha querida Aione pela indicação de leitura e a editora Martin Claret por ter cedido um exemplar para resenha.
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