Toda noite, quando London Lane recosta a cabeça no travesseiro e dorme, cada mínimo detalhe do dia que viveu desaparece de sua memória. Pela manhã, restam-lhe apenas lembranças do futuro: pessoas e acontecimentos que ainda estão por vir. Para conseguir manter uma rotina minimamente normal, London escreve bilhetes para si própria e recorre à sempre fiel melhor amiga. Já acostumada a tudo isso, ela tenta encarar a perda de memória mais como uma fatalidade que como uma limitação. Mas, quando imagens perturbadoras começam a surgir em suas lembranças e London precisa, de algum modo, escapar delas, fica claro que para entender o presente e o futuro ela terá que decifrar o que ficou esquecido no passado.
Editora: Intrínseca l 256 Páginas l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 4/5
London é uma adolescente comum como qualquer outra garota de 16 anos, até que, todos os dias às 4h33 da madrugada, seu cérebro se reinicia. Ao acordar, London Lane não se lembra de nada que não esteja anotado em seus bilhetes. Toda a vida da garota se resume em anotar as coisas mais importantes de seu dia e lê-las no dia seguinte com a esperança de parecer menos patética e, talvez, ter alguma lembrança do passado.
As anotações flutuam de pequenas coisas, informações que ficam guardadas em sua mente, a exercícios de matemática pela metade e futuras conversas. Sim, além de ter perda da memória recente, a menina ainda se lembra de coisas que vão acontecer e, quando acontecem, essas lembranças se apagam. A vida da protagonista é uma rotina diária de anotações e lembranças futuras até que Luke Henry surge na história. Um garoto misterioso que parece empenhado em conquistá-la e traz a estranha realidade a tona: por mais que tente, London nunca será normal.
Essa é a premissa que Cat Patrick usou para explorar um tema um tanto perturbador: e se você não tivesse lembranças, como viveria? Essa resposta a personagem encontrou nos bilhetes. Mas, como seria sua vida, caso não tivesse a lembrança do ontem? Essa é uma pergunta que paira no ar.
Não é só a presença de Luke que provoca mudanças, mas um sonho sombrio e lúgubre leva London a questionar sua própria sanidade. Segredos que a mãe tem guardado por anos e brigas com a única amiga fazem com que London passe a detalhar seu dia, a fim de que nada passe despercebido.
Deslembrança me deixou com um gostinho estranho na boca. A cada capítulo era como se lesse uma nova história. Como se a personagem não evoluísse e, ao invés disso, vivesse uma nova história todos os dias, mesmo com todos os bilhetes. Acho que me senti na pele de London, tendo que viver todos os dias como se fosse uma aventura ao desconhecido.
Há um quê de thriller psicológico na trama que me atraiu. A idéia da autora de explorar um tema tão complicado como a perda de memória recente é realmente corajosa e creio que ela o fez com maestria, sem abusar do drama e com uma sensibilidade ímpar. A personagem não cai na mesmice e eu consegui sentir como se London fosse uma grande amiga que me permitiu ler seu diário.
O final não foi o que eu esperava, mas me cativou pela grande interrogação que fica: London conseguiu de fato mudar o futuro? E o que acontece agora? Creio que foi proposital deixar essas pulguinhas mordendo a orelha do leitor, afinal de contas, em uma geração acostumada a ter sagas imensas respondendo suas perguntas, um pouco de dúvida e curiosidade não mata ninguém.
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