Circunstâncias especiais. As palavras dão arrepios a Tally desde seus dias como uma repugnante e revoltada Feia. Naquela época, especiais eram um boato sinistro – assustadoramente bonitos, perigosamente fortes, chocantemente rápidos. Perfeitos comuns podem viver uma vida inteira sem conhecer um especial. Mas Tally nunca foi comum. E agora ela se tornou um deles: uma super máquina de combate, construída para manter os feios humilhados e os perfeitos idiotas. A força, a velocidade, e a clareza e foco de seus pensamentos é a melhor coisa que Tally consegue lembrar. Na maior parte do tempo. Uma pequena parte do seu coração ainda se lembra de algo mais. Mesmo assim, é fácil ignorar isso – até Tally oferecer-se a acabar permanentemente com os rebeldes de New Smoke. Tudo se resume a uma escolha: escutar seu coração ou realizar a missão para que foi programada. De qualquer jeito, o mundo de Tally nunca mais será o mesmo.
Editora: Galera Record l 352 Páginas l Fantasia Distópica l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 5/5
Vocês já sabem que amo distopias, especialmente pela crítica contida em suas entrelinhas, às vezes de forma clara, outras, bem escondidas, mas creio que toda distopia tem algo que leva o leitor a uma auto-reflexão e é por isso que gosto da série ‘Feios’. Scott Westerfeld criou uma saga distópica de encher os olhos daqueles que leem suas entrelinhas. Estranho como ainda não havia percebido isso, mas Feios possui duas veias críticas principais: um estudo sobre a superficialidade e futilidade da sociedade em que vivemos, e a luta dos adolescentes na busca pela definição de sua identidade em uma sociedade que impõe padrões impossíveis de seguir.
“O momento especial trouxe uma lucidez avassaladora e Tally finalmente desembaralhou as ideias. Por dentro havia elementos permanentes, coisas que continuavam inalteradas fosse ela feia, perfeita ou especial – e o amor era um desses elementos.”
Especiais, terceiro volume da série Feios, finaliza a luta de Tally Youngblood para ser aceita em algum grupo social e sua busca por autoconhecimento. Neste livro, encontramos uma Tally transformada em Especial, um tipo de grupo de elite, o mais parecido com as forças armadas que a Nova Perfeição tem. Dentro desse grupo, Tally pertence aos Cortadores, uma equipe de especiais “especiais”. Eles são diferentes de tudo o que já foi visto nos livros anteriores.
Se for usar uma analogia, diria que os cortadores são a representação literária daqueles grupos de populares cruéis, que se sentem superiores a todos ao seu redor. De fato, os cortadores são projetados para isso, para serem superiores: são mais velozes, ossos feitos de cerâmica resistente, olhos com ultravisão, incluindo visão noturna, unhas afiadas como garras e dentes afiados como presas de animais. Mas eles possuem uma fraqueza, que é a origem de seu nome. Para se tornarem sagazes, termo bastante usado nesse livro que significa ser racional acima de qualquer sentimento, esse grupo de jovens costuma se cortar. Eles são treinados, condicionados a isso: sempre que as emoções ameaçam vir a tona, eles cortam os braços, pernas, mãos para que a dor clareie sua mente. Alguém, além de mim, viu uma crítica clara à sociedade que aceita de forma passiva que adolescentes se cortem para evitar suas dores emocionais? Bem, eu vi, e achei muito bem colocado dentro do contexto literário e social.
Além das críticas costumeiras a futilidade e superficialidade já existentes e bem contundentes nos demais livros da série, Especiais nos leva ao ápice da luta da Nova Perfeição contra os enfumaçados, fato que garante ação frenética da primeira à última página do livro. A obra mostra um mundo perfeito entrando em colapso por causa de poucos que decidiram ir contra o sistema. Guerra, explosões, mortes (como eu chorei nessa parte) e um final digno de filmes épicos. Finalmente Scott me fez gostar de sua protagonista e, ao menos no momento mais importante, ela soube o que fazer.
Eu sei que essa resenha pode ter ficado um tanto vaga, mas se eu falasse mais entregaria os pontos principais do livro e não quero dar spoilers. Portanto, indico Especiais, e a série Feios, aos que amam uma boa distopia, aos que não tem medo de desafios literários, aos que não são vencidos nas primeiras páginas (nos casos de Feios e Perfeitos) e a todos que reconhecem nas distopias uma forma de crítica e de profunda reflexão. Dou cinco estrelas e super indico. Scott Westerfeld é um ótimo autor!
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