Conforme a autora apresenta o mundo sobrenatural ao qual Jane está indiretamente ligada, somos introduzidos nos pormenores dessa história, nas tramas do passado que definem o que Jane é, e nas reviravoltas do destino que a fazem confrontar seus medos, traumas e inseguranças, reservando para ela muitos segredos e mistérios. Somos surpreendidos com a existência de duas faces de uma mesma Jane: a humana que sofre pelo passado e a híbrida que almeja por um novo futuro, de forma que ler sobre a tentativa da protagonista de conciliar seu passado com seu presente, e almejar por um futuro diferente do que tem planejado, dá ânimo à leitura, obrigando-nos a mergulhar nos sentimentos descritos e experimentados por Jane. Durante toda a leitura sentia que ela queria se entregar as boas experiências que estava tendo, mas sempre reprimia esse desejo por não acreditar ser digna disso. Exatamente por esse motivo adorei a protagonista, sua força interior é incrível, e o bom humor com o qual ela lida com os altos e baixos da vida é contagiante, afinal, quem não gosta de personagens repletos de humor irônico?

Existem ainda personagens paralelos que dão ao livro um toque especial, como por exemplo, o pai de Jane, suas (quase únicas) amigas e patroas, ou o irresistível vampiro Ryu que aparece para abalar as estruturas de Jane, ajudando-a a compreender melhor o novo universo místico que a rodeia, e levando-a a experimentar intensas ondas de desejo, emoção e muita adrenalina. Por se tratar de uma aventura (pelo menos em suma), o envolvimento amoroso descrito na trama foca na relação de desejo e dependência que une o casal. Gostei do “forte sentimentalismo” ter ficado de lado, dando ao romance um ar real e palpável; nada de ‘eu te amo eternamente’ após uma primeira troca de olhares. Fora isso, senti que tal relação reserva muitos segredos, existe algo nesse aspecto do livro que não me convenceu completamente e que me deixou louca pelos próximos volumes da saga. O curioso é que só experimentei tal sentimento de reserva a respeito de um casal principal quando li o primeiro volume da série Sookie Stackhouse, obra com o qual o romance da Nicole Peeler é constantemente comparado e que devo salientar, possui semelhanças nítidas com a saga da Charlaine Harris, contudo elas não são semelhantes de uma forma ruim, mas sim de uma maneira positiva que faz do livro uma boa opção de leitura para os leitores ávidos por romances adultos sobrenaturais repletos de intrigas, sensualidade e bom humor.

Sobre a escrita da autora, confesso que no começo demorei a entrar no clima de sua narrativa. Eu gostei de mais da premissa da história, mas faltava algo que me fizesse mergulhar de cabeça nela, o que acabou acontecendo com a chegada do vampiro Ryu (Tipo RIO DE JANEIRO? Risos, “piada interna para quem já leu o livro”). Além do bom humor, de bons personagens, e de uma promessa constante de segredos e mistérios, a autora abusa de elementos culturais, fazendo constantemente a menção de filmes, músicas e personagens próprios da cultura pop atual. Tal elemento dá vida à personalidade inusitada de Jane, mas em alguns momentos pode deixar o leitor (pelo menos o que desconhece tais citações) alheio ao rumo da narrativa, ou com a sensação iminente de ter perdido alguma piada. Contudo, talvez a inserção de notas de rodapé por parte da editora pudesse melhorar esse fator nos próximos livros da série. E ainda sobre o trabalho da editora, agradeço por ela ter escolhido manter a capa original do livro. Em primeiro instante ela pode parecer representar um livro juvenil, contudo os elementos presentes na ilustração estão interligados a narrativa, de forma que é agradável avançar na leitura e compreender o significado de cada um deles.

No geral ‘Garota Tempestade’ é um livro adulto sobrenatural delicioso para quem gosta desse gênero literário. Como primeiro volume da série, senti que faltou pouco para o livro me fazer cair de amores pela história, mas foi bom o suficiente para me deixar curiosa quanto os próximos volumes da saga.

Beijos!