“Fale sobre você… Queremos saber o que tem a dizer.” Desde o primeiro momento, quando começou a estudar no colégio Merryweather, Melinda sabia que isso não passava de uma mentira deslavada, uma típica farsa encenada para os calouros. Os poucos amigos que tinha, ela perdeu ou vai perder, acabou isolada e jogada para escanteio. O que não é de admirar, afinal, a garota ligou para a polícia, destruiu a tradicional festinha que os veteranos promovem para comemorar a chegada das férias e, de quebra, mandou vários colegas para a cadeia. E agora ninguém mais quer saber dela, nem ao menos lhe dirigem a palavra – insultos e deboches, sim – ou lhe dedicam alguns minutos de atenção, com duvidosas exceções. Com o passar dos dias, Melinda vai murchando como uma planta sem água e emudece. Está tão só e tão fragilizada que não tem mais forças para reagir. Finalmente encontra abrigo nas aulas de arte, e será por meio de seu projeto artístico que tentará retomar a vida e enfrentar seus demônios: o que, de fato, ocorreu naquela maldita festa?
Editora: Valentina l 248 Páginas l Jovem Adulto l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Um ano antes de ingressar o ensino médio Melinda era uma jovem sorridente e alegre, porém uma fatídica noite de final de semestre mudou tudo: sua vida, suas amizades, sua relação familiar e principalmente sua personalidade, foram agrupadas e transformadas em um buraco negro de solidão, angústia e medo. Na festa organizada pelos veteranos da escola para a comemoração da chegada das aguardadas férias de verão, Melinda chamou a polícia e acabou sendo taxada de dedo-duro, transformando-se em uma esquisitona e uma pária social. Mas afinal se ela não estava contente por que simplesmente não foi para casa mais cedo? Por que chamar a polícia? Por que estragar a festa de seus amigos? Ninguém sabe o verdadeiro motivo de Melinda ter chamado à polícia, mas sinceramente? Nenhuma pessoa parece se importar verdadeiramente com seus motivos. A transformação de Melinda é nítida, ela raramente fala, vive sozinha, e não tem mais motivação para fazer as coisas que antes faziam parte de sua rotina. Ela vive como uma sombra da garota que foi um dia, e sem ninguém para ouvi-la ou para enxergar além das aparências, ela carrega sozinha o peso dos demônios e das lembranças que a afligem.
“Tem um monstro nas minhas entranhas, posso até ouvi-lo arranhando minhas costelas. Mesmo quando descarto a lembrança, ela continua comigo, me ferindo.”
A narrativa segue o fluxo do ano letivo, iniciando com o retorno das aulas após as férias de final de semestre, nos permitindo então observar quão frio e preconceituoso o ambiente escolar de Melinda é. A lembrança da festa já ficou no passado, as férias provaram que os amigos da jovem se esqueceram de sua existência, e seus pais fingiram que era absolutamente normal ela passar suas férias ficando sozinha em casa, assim é com o retorno escolar que as coisas xingamentos, solidão, olhares maldosos e injustiças ganham uma proporção maior. A dor de Melinda é nítida, ela se fechou para o mundo, parou de se importar com quase tudo ao seu redor e aprendeu a desempenhar o papel para o qual foi designada pelas outras pessoas: o papel de uma ninguém. E então, em meio a tantos conflitos, inseguranças e memórias dolorosas nos questionamos: – O que afinal aconteceu com Melinda?
Angustiante, reflexivo, envolvente… simplesmente fui arrebatada por essa história. A escrita da autora é simples e segue a linha de raciocínio da personagem principal, o que faz com que todos os seus pensamentos, por mais aleatórios, fantasiosos e assustadores que pareçam, sejam descritos, fato que nos liga a personagem e dá cara ao seu medo. E aqui está o ponto chave, a personagem não tem voz ativa: ela não fala de sua vida, dos seus problemas e dos demônios que apertam seu coração e a sufocam a ponto de lhe faltar ar, entretanto, graças à escrita astuta da autora nada passa despercebido aos olhos do leitor e assim, conforme vamos aprendendo mais sobre as dores de Melinda e descobrindo mais sobre os seus segredos é impossível não tomar para nós as suas dores. Ao decorrer da leitura eu senti o que era ser Melinda, vivi sua angústia e me vi petrificada com seu medo. É incrível o quão forte a trama é, o quão próximo ela chega de tirar nosso chão, de dar um tapa na nossa cara e dizer: – Ei, me diz, isso aqui parece que é só ficção? ACORDA, quantas jovens como Melinda você acha que existem por aí? Fui surpreendida, fiquei emocionada e no final só conseguia pensar na qualidade desse livro. Uma obra profunda ao mesmo tempo em que é jovem: escrita de forma jovem, com o objetivo de alcançar, preparar e conscientizar o jovem, mas nem por isso deixando de ser um relato simples, direto e até mesmo divertido, da adolescência.
Vale dizer também que o que colaborou diretamente para o meu encanto com a obra é que eu não sabia nada sobre o livro, nunca tinha lido nada da autora e muito menos sabia sobre sua propensão em escrever sobre temas polêmicos, desta forma tão logo meus olhos lacrimejaram e eu entendi o que havia acontecido com Melinda eu só conseguia pensar: – A autora está falando sobre isso como se estivesse dentro da mente de Melinda, ela não fala da dor, ela demonstra a dor. E bem, o quão impactante é você sentir a dor de um personagem ao invés de ler sobre ela? Sim, extremamente impactante, por isso digo sem medo que esse livro foi marcante, revelador, emocionante, uma das melhores leituras da minha vida e que me motivou a correr ler outro livro da autora, O Garotas de Vidro, e eis meu veredito: Laurie Halse Anderson tem talento de sobra.
Além de tanta coisa boa ainda temos a diagramação da editora… Gente, eu não sou de dar ênfase a esse aspecto do livro, mas a Valentina caprichou, e não só na beleza do livro, mas na entrevista com a autora que o acompanha, no texto de reflexão da obra escrito pela autora e principalmente, no poema que a mesma escreveu com trechos de e-mails e cartas de leitores que ela recebeu ao longo dos anos, o qual, se me permitem dizer, é no mínimo tocante, afinal, ler sobre uma história de papel é bem mais fácil do que ler sobre uma (ou milhares) de histórias verídicas.
Agora me diz, depois de tantos elogios o que você está esperando para ler esse livro?
Para ler ao som de….
Para quem leu e gostou de…
Quotes Preferidos
“A coelhinha foge em disparada, deixando rastros ligeiros na neve. Fugir fugir fugir. Por que é que não corri desse jeito quando era uma garota-falante-não-despedaçada?”
“Não é possível que possam me castigar por não falar. Super Injusto. O que é que sabem sobre mim? O que é que sabem sobre o que se passa na minha cabeça? Relâmpagos, crianças chorando. Atropelada por uma avalanche, morta de preocupação, contorcendo-me sob o peso da dúvida e da culpa. Medo.”
“Quando as pessoas não se expressam, vão morrendo aos poucos. Você ficaria chocada se soubesse quantos adultos estão realmente mortos por dentro, vivendo sem ter ideia de quem são, só esperando que um câncer, um infarto ou um caminhão surja e acabe com eles.”
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