Em uma cidade decadente, onde se criam polvos para a produção de tinta, onde há uma floresta de algas marinhas e onde um dia funcionou uma redação de jornal em um farol, um jovem Lemony Snicket começa o seu aprendizado em uma organização misteriosa. Ele vai atender seu primeiro cliente e tentar solucionar o seu primeiro crime, aos comandos de uma tutora que chama carro de “esportivo” e assina bilhetes secretos. Lá, ele vai cair na árvore errada, vai entrar no portão errado, destruir a biblioteca errada, e encontrar as respostas erradas para as perguntas erradas – que nunca deveriam ter passado pela cabeça dele. Ele escreveu um relato sobre tudo o que se passou, que não deveria ser publicado, em quatro volumes que não deveriam ser lidos. Este é o primeiro deles.
Editora: Companhia das Letras l 240 Páginas l Juvenil • Fantasia l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
Por estar envolvido com uma organização misteriosa Lemony Snicket teve uma formação um tanto quanto… inusitada. Assim que concluiu a primeira fase de seus estudos – isso no auge dos seus treze anos, saiu em campo como aprendiz, pronto para colocar em prática alguns de seus ensinamentos. Para cumprir sua mais nova missão parte para a esquecida cidadezinha de Manchado-pelo-mar, região antes conhecida pela produção de tinta (ou seria extração? Não, calma, essa realmente é uma pergunta errada…). Tudo o que ele mais quer é usar sua trena em formato de morcego para medir a profundidade de um importante buraco (Importante por quê? Opa, eis mais uma pergunta errada…), contudo ele acaba bem longe do determinado buraco e, se não bastasse, enrolado até os cabelos em um crime repleto de perguntas erradas: Onde está o ladrão? Como devolver o objeto roubado para o seu verdadeiro dono? Que diacho de lugar é Manchado-pelo-mar? e, uma das mais importantes, Mas quem é que está tocando a campainha a uma hora dessas?
“- Uma hora dessas? – Ele perguntou. – Você ficaria surpreso com as coisas que acontecem a uma hora dessas – respondi…”
São tantas perguntas para tão poucas respostas! Como o autor escreve já sabendo o que vai acontecer, até porque é como se ele estivesse narrando suas experiências, ele lembra constantemente o leitor que seus questionamentos atuais não são importantes, tal fato além de nos prender a trama (lembrando que a história possui um enfoque juvenil, ou seja, tem a necessidade de entreter totalmente o jovem leitor), também aguça nossa curiosidade. Mas ora bolas, tudo parece tão óbvio! No ponto de vista do leitor é claro que estamos no caminho certo seguindo nossas perguntas em buscas de determinadas respostas, porém, sem nenhum aviso, Lemony nos diz: Ei, não mocinha, essa não é a pergunta certa! Frustração? Confusão? Sim e sim, e de quebra um demasiado interesse em desvendarmos nós mesmos esse caso.
Outro ponto interessante da narrativa do autor é que ela segue um ritmo muito rápido e inesperado, os problemas centrais imaginados pelo leitor não são nem de perto os verdadeiros enigmas da história, por isso fazemos tantos questionamentos inválidos conforme progredimos na leitura. E, tenho que admitir, isso é muito instigante! Eu, uma leitora de carteirinha de romance me vi mergulhada na aventura de Snicket; foi fácil me sentir parte da narrativa, imaginar que eu estava ao lado do personagem principal desvendando os mistérios da obra. Além disso, mesmo que de forma simplificada e específica para o público juvenil, o autor apresenta inúmeros temas de reflexão, como por exemplo, o fato de vários jovens por aí precisarem se virar no mundo sem os pais, ou a importância da leitura, ou ainda a força que um laço familiar tem.
Uma coisa que colaborou bastante para o desenvolvimento da história foi a personalidade do jovem Snicket. Ele é muito inteligente, praticamente a mistura de um dicionário ambulante com o Sherlock Holmes, contudo ele não faz o irritante estilo “sabe tudo”, muito pelo contrário, na grande maioria das vezes ele escuta mais que fala, defendendo seu ponto de vista no momento certo, desvendando pequenos mistérios de forma objetiva sem se gabar disso e, o principal, admitindo suas falhas. Fora isso existe algo de misterioso no personagem, ele carrega com si intenções desconhecidas pelo leitor, e é quase impossível não ficar bolando planos mirabolantes e formulando infinitas perguntas – que claro temo que são perguntas erradas, a respeito de seu passado.
No geral, foi muito gostoso me surpreender com esse livro e estou bem ansiosa para ler sua continuação. Para quem gosta de aventura juvenil essa é uma leitura obrigatória, então nada de ficar fazendo as perguntas erradas, vulgo, – Será que leio? Será que é bom?… Não meu caro, faça a pergunta correta: Quando vou ter esse livro em mãos?
De olho na diagramação
Esse foi o segundo livro do Lemony Snicket publicado pela Cia de Letras que li e só posso dizer uma coisa: O autor AMA ilustrações! Como não se apaixonar por livros lindos, repletos de detalhes e de imagens que reforçam a narrativa inusitada do autor? Dá só uma olhadinha em algumas das ilustrações desta obra:
Bacana né? Eu adorei!
Sobre a Série
Quem poderia ser a uma hora dessas? É o primeiro volume da série All The Wrong Questions (traduzido como Só Perguntas Erradas). Até o momento a saga conta com dois livros publicados: Who Could That Be At This Hour? e When Did You See Her Last?, mas ao que tudo indica ela terá um total de quatro volumes.
Vale lembrar que o segundo volume da série foi lançado esse mês (outubro) e já pode ser encontrado para compra em algumas livrarias online (veja aqui).
Quotes Preferidos
“Mas havia algo em que sempre fui muito bom: não ficar assustado quando as coisas assustadoras estão acontecendo. (…). … só ficar assustado depois, quando você estiver fora de perigo. Ás vezes acho que vou passar o resto da vida assustado por causa de todo o medo que eu deixei de lado durante minha passagem por Manchado-pelo-mar.”
“Ali, parados na porta errada do lugar errado, aquilo parecia a coisa errada a se fazer. Mas fizemos mesmo assim. Saber que uma coisa está errada e mesmo assim fazê-la é algo que acontece com bastante frequência na vida, e duvido que algum dia eu saiba o porquê.”
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