Justin March, um investigador de religiões charmoso e traiçoeiro, volta para a República Unida da América do Norte (RUAN), após um misterioso exílio. Sua missão é encontrar os responsáveis por uma série de assassinatos relacionados com seitas clandestinas. Sua guarda-costas, Mae Koskinen, é linda, mas fatal. Membro da tropa de elite do exército, ela irá acompanhar e proteger Justin nessa caçada. Aos poucos, os dois descobrem que humanos são meras peças no tabuleiro de poderes inimagináveis.
Editora: Paralela l 424 Páginas l Fantasia (+ 18) l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 3,5/5
Desigualdade, preconceito e individualismo são palavras muito comuns em nossa sociedade moderna – uma sociedade marcada pelo capitalismo e pela falta de fé. Imagine então se continuarmos nesse ritmo, como será nosso futuro? Em Tabuleiro dos Deuses somos introduzidos a um cenário futurista rudemente tecnológico e controlador que, infelizmente, não está tão distante assim da nossa realidade atual. A trama gira em torno da RANU, a República Unida da América do Norte, que após o declínio – um período de guerras biológicas, religiosas e culturais – se reergueu como a grande potência mundial. Dentro da RANU as regras são extensas e muitas vezes invasivas, contudo fora dela a população é mantida à margem da evolução cultural. Sendo assim, seria preferível viver em meio à sociedade moderna, sendo controlado por chips e introduzido a uma única religião (a fiel apenas a RANU), ou residir em nações subdesenvolvidas economicamente e culturalmente? Com Justin – o exilado da RANU – e Mae – a soldada devota à nação – vamos descobrir mais sobre essas duas vertentes e, principalmente, sobre esse cenário complexo, instigante, e brutalmente real.
Não existem dúvidas de que o universo criado pela Richelle Mead é, no mínimo, genial. Marcado por uma forte cultura separatista, tanto no ponto de vista econômico quanto no aspecto genético, esse novo mundo luta contra a ideia de uniões perfeitas apenas entre membros de um mesmo grupo étnico e, mesmo que sem sucesso, tenta abolir os grupos religiosos que tendem a ameaçar o poder vigente – ações que nada mais são do que meios de controle populacional. O fato é que o controle tem obtido um resultado positivo dentro das províncias da RANU, contudo fora delas é que estão as guerras, a fome, e a desigualdade social. Tais detalhes nos fazem pensar nas grandes potências, nos avanços tecnológicos e biológicos, e no preconceito racial e religioso tão enraizado em nossa sociedade atual. Ou seja, a ideia da autora possui um teor distópico que permite a inserção de uma leve crítica a nossa sociedade, fazendo com que o leitor reflita sobre os valores políticos do nosso mundo – o que claro, é incrível!
“A RANU responsabilizava três coisas pelo Declínio: a manipulação biológica, a religião e o separatismo cultural. Todas as primeiras mestiçagens genéticas haviam se esforçado muito para aniquilar a solidariedade étnica, e os modelos vagamento greco-romanos que o país adotara possibilitaram uma nova cultura abrangente da qual todos podiam fazer parte.”
Fica óbvio então que a trama gira em torno de dominação política, desigualdade, e subjugação religiosa. Contudo, o mistério está em como a autora aborda tais perspectivas: mostrando os dois lados da moeda. Mae e Justin, nossos personagens principais, não poderiam ser mais diferentes – tanto em fé, quanto em criação, ou até mesmo em sua composição genética – porém eles acabam unidos em uma missão em nome da RANU: Ele, o imperfeito exilado, e ela a soldada perfeita, juntos em nome da nação. Tal missão dá um novo ar à história, atrelando ao aspecto distópico uma ação muito bem vinda e, mais, guiada por uma personagem feminina forte e determinada, do tipo que definitivamente não precisa de ninguém para defendê-la. Além disso, ao unir Mae e Justin a autora dá espaço para a criação de um enlace amoroso, uma relação que ao mesmo tempo em que é esperada também é temida. Fora que, de bônus, ainda temos infinitos mistérios religiosos, suspeitas que fazem com que Mae e Justin questionem e temam a existência de forças invisíveis. Trata-se então de um livro inteligente e surpreendente, porém longe de ser perfeito.
O fato é que o universo descrito na obra é complicado demais e, focando na missão dos personagens principais, a autora optou por deixar esse mundo novo subentendido, explicando-o em partes. Assim, até o meio da leitura não me senti conectada com os personagens, não fui capaz de entender o controle exercido pela RANU, de memorizar os termos técnicos empregados, e muito menos de torcer pelo romance. Justin não me convenceu com seu ar de galanteador superficial, e Mae era intocável demais, perfeita ao extremo. Até esse ponto a leitura foi desenvolvida de forma lenta e por pouco não a abandonei… – E graças que eu não o fiz! Para a minha surpresa, da metade em diante, tudo se fez claro: conexões começaram a aparecer, segredos foram revelados, e a ação se tornou eletrizante. Como um quebra-cabeça prestes a ser concluído eu, realmente, devorei o livro, querendo mais e mais explicações, mais e mais romance, mais e mais intervenções divinas.
Se precisasse definir o livro, o definiria como um jogo de xadrez. Ele demora a engrenar, começa com o estudo do adversário e de suas técnicas, vai se desenvolvendo aos poucos para, não com rapidez mais sim com eficácia, chegar ao ápice da partida. Digo então que esse não é o melhor livro que li da Richelle Mead, e que ainda acho que ele poderia ter sido escrito com mais objetividade em alguns pontos, contudo sou incapaz de falar que a obra não tem qualidade e que essa foi uma leitura ruim, muito pelo contrário, de início foi penosa, mas o final fez valer o esforço. E como fez, não vejo a hora de ler a continuação e descobrir, por fim, parte dos mistérios que envolvem Mae e Justin e que os colocaram no caminho de deuses prontos para serem seguidos.
Se você quer embarcar em uma história adulta e inteligente, eis aqui uma boa opção de leitura. Só não espere moleza, romance água com açúcar, e personagens dóceis e gentis, o nível aqui é outro, é quase humano.
E fica a dica, leia o material de bônus cedido pela editora (aqui) para compreender melhor o universo desse livro, evitando assim problemas para iniciar a leitura.
“– Você já quis não pensar? (…) – Eu penso muito, Mae. Eu vejo muito. E meu cérebro está sempre analisando todos os detalhes, infinitamente. (…). É como uma rodinha de hamster.”
“Nosso povo evitou os deuses por tempo demais e, agora, o divino está tentando voltar. (…). É a fé que dá poder aos deuses, e eles estão escolhendo seus eleitos para cuidar dos assuntos terrenos deles.”
“– Seja a minha droga –ela disse, baixinho. – Me ajude a esquecer.”
Sobre a Série
Tabuleiro dos Deuses é o primeiro volume da série Era do X, composta até o momento pelos livros Tabuleiros dos Deuses e The Immortal Crown, que provavelmente será publicado pela autora ainda esse ano.
P.S. Para quem já leu, observe o detalhe da “coroa” na cabeça da modelo… Pois é, o que isso nos diz sobre o próximo livro? Que teremos muita ação e romance, sem dúvida!
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