Depois de ter sido pega com o namorado da melhor amiga numa festa, Annabel Greene começa o ano letivo sozinha e sendo ignorada pelo resto da escola. Mas o que realmente aconteceu naquela noite ainda é segredo, que ela não se arrisca a contar para ninguém. Os problemas de Annabel são explicitados pela recusa da família em admitir os próprios problemas, a fissura da mãe para que as filhas virem modelos famosas e Whitney, a irmã do meio, que sofre de anorexia. Uma amizade com Owen, o DJ da rádio comunitária, que tenta constantemente ampliar os gostos musicais de Annabel, fará a tímida jovem aprender a falar a verdade, doa em quem doer.
Editora: Farol Literário l 308 Páginas l Jovem Adulto l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Just Listen me deixou sem palavras. Eu já imaginava que a história ia além das aparências e dos clichês enraizados na literatura juvenil, contudo não esperava uma narrativa tão verídica sobre temas polêmicos e, infelizmente, tão presentes na nossa sociedade como a depressão, a anorexia e o abuso sexual. Logo de início eu fui sugada pela história, compartilhando as aflições, as inseguranças e os medos narrados pela protagonista, experimentando-os com uma mistura de compreensão e horror. Vivendo em uma casa de mulheres belas e sorridentes, em uma família perfeita e unida, Annabel descreve o quanto as aparências podem enganar e como os sorrisos – mesmo os mais admiráveis – podem esconder segredos extremamente dolorosos, e o fato é que independente do nível de envolvimento do leitor, é simplesmente impossível não se compadecer com sua história.
“Mas mudei também, mesmo sendo a única a perceber isso. Eu estava diferente. Tão diferente quanto minha família naquela noite em que tudo começou. Nós cinco éramos diferente dos que parecíamos para alguém que passava de carro, olhava para dentro da casa e via uma família feliz com todos sentados em volta da mesa de jantar na nossa casa de vidro”.
No verão passado as coisas eram diferentes para Annabel: ela era a garota que tinha tudo, popularidade, amigos, festas… Contudo bastou uma única noite para sua vida virar de ponta cabeça. Ao ser pega com o namorado de sua melhor amiga a jovem foi excluída e julgada por todos ao seu redor, e em casa – lugar em que ela deveria ter conforto, apoio ou apenas um ombro amigo para chorar – tudo está tão complicado (com o afastamento de suas irmãs, a anorexia de uma delas, a depressão recém-enfrentada pela mãe, e a objetividade quase clínica do pai) que Annabel se sente responsável por manter tudo no lugar, colaborando para que as coisas não piorem da maneira que acha mais sensata: aceitando, escutando e guardando todos os sentimentos controversos de dor e exclusão dentro de si. A questão é que a criação de Annabel fez dela alguém com dificuldades para expressar suas emoções, o que colabora para que sua vida seja consumida pelo medo, pela raiva e pela confusão que ela vem enfrentando ultimamente. Fato para o qual ela só atenta quando conhece Owen, o garoto solitário do colégio também conhecido por seus rompantes de raiva – é com ele que ela percebe o peso que vem carregando nos ombros.
“Sabe eu só queria te dizer que você estava certo sobre o que disse antes. É difícil ficar guardando tudo dentro da gente. Mas para mim… Às vezes é ainda mais difícil pôr para fora”.
A narrativa se inicia com um novo ano letivo, com a volta de Annabel à escola – local em que todos os seus medos vem à tona, lembrando-a constantemente do dia em que sua vida mudou – e vai se desenvolvendo com o decorrer dos meses, mostrando-nos o preconceito e a solidão que ela encontra no ambiente escolar, mas também como ela se aproxima de pessoas que aos poucos abrem seus olhos e acalmam seu coração. Ao passar do tempo a jovem também vai inserindo-nos em seu dia a dia familiar, explicando todos os problemas que enfrentou e, de certa forma, justificando sem saber suas atitudes, explicando-nos o porquê dela preferir guardar tantos segredos. E por falar em segredos, poderia dizer que é isso que motiva a curiosidade do leitor – saber o que Annabel esconde – contudo, o ponto alto do livro está no sentimento que tal mistério acarreta, no anseio gerado no leitor que espera, ávido e esperançoso, pela cura e pela transformação dessa personagem. Queremos que ela vença seu medo, que ela fale sobre seus traumas e segredos, e é por isso que devoramos sua história.
“Seja uma música, uma pessoa ou uma história, não há como saber de algo quando se conhece apenas um trecho, quando se deu uma rápida olhada ou se ouviu parte de um refrão.”
A escrita da autora realmente me marcou, afinal ela fala de temas tão fortes com uma veracidade que chega a chocar. É claro que temos algumas suavizações, mas ainda assim trata-se de uma história familiar tão real e dolorosa, do tipo que faz da ficção algo muito semelhante à realidade. Fora que essa mocinha realmente mexeu comigo. Pessoalmente sou tão parecida com Annabel em sua mania de guardar os sentimentos para si que vê-la conseguir libertá-los me comoveu profundamente; independente dos segredos ou as experiências ruins, ela conseguiu ouvir seu coração e seguir em frente, falando sem medo, apenas deixando o sentimento fluir. E a questão é que mesmo que para alguns isso possa parecer algo fácil, quem é assim, quem é acostumado a guardar e não revelar, sabe o quanto a conquista da personagem é grande. E exatamente por isso, por eu entendê-la e de certa forma me ver um pouco nela, eu me deixei levar por essa história e gostei tanto dela. Fora que ainda temos a descrição de um romance muito especial e envolvente, do tipo que cura e transforma com uma pureza tão bela e incrivelmente jovem, e a exposição de mensagens paralelas muito importantes e reais.
Superação, dor, traumas, e uma bela mensagem… “Não pense nem julgue. Apenas ouça” o que Annabel tem a te dizer, tenho certeza que assim como eu você vai sofrer, torcer e comemorar ao lado dela.
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