Caninos Brancos é um lobo nascido no território de Yukon, no norte congelado do Canadá, durante a corrida do ouro que atraiu milhares de garimpeiros para a região. Capturado antes de completar um ano de idade, é usado como puxador de trenó e obrigado a lutar pela sobrevivência em uma matilha hostil. Mais tarde repassado a um dono inescrupuloso, é transformado em cão de rinha e, mesmo depois de resgatado desse universo de violência, ainda precisa de um último ato de heroísmo para conseguir sua redenção e finalmente encontrar seu lugar no mundo. Percorrendo o caminho inverso ao do traçado em O chamado selvagem (1903), em que um cão domesticado é obrigado a se adaptar à vida na natureza, em Caninos Brancos (1906) Jack London narra a história de um animal que precisa suprimir seus instintos para sobreviver na civilização. Grande sucesso de público desde o lançamento, já foi traduzido para mais de oitenta idiomas e adaptado diversas vezes para o cinema, os quadrinhos e a TV.
Editora: Cia de Letras l 296 Páginas l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 5/5
Simplesmente não sei por onde começar essa resenha. Alguns dirão: comece pelo começo, ora! Mas então, eu teria que voltar para minha infância e relembrar minhas reações ao assistir um filme apaixonante, mas assustador para meu coração e olhos infantis: a história de um filhote de lobo retirado da floresta para ser criado entre os homens até perder a noção do que é ser lobo e não conseguir confiar nem em homens, nem em cães. Sim, Caninos Brancos, o livro, inspirou um filme (White Fang) que sempre passou na Sessão da Tarde e que fez parte da minha infância. Basta dizer que lendo o livro, lembrei do filme e descobri porque me apaixonei por animais e decidi defendê-los.
Caninos Brancos é um drama que conta a história de um filhote de lobo, nascido no norte selvagem do Canadá, que é capturado junto com sua mãe pelo homem e forçado a deixar suas raízes selvagens e se deixar domesticar. De início, pela perspectiva de Kichie – a mãe de Caninos Brancos – somos apresentados a vida selvagem que os lobos levam no inverno. Meio loba meio cão, Kichie introduz o leitor nos costumes dos lobos até a chegada de sua primeira ninhada, momento em que conhecemos nosso protagonista, um dos seus filhotinhos, e entramos na mente de um lobo selvagem que passa a vivenciar as primeiras experiências de um lobo recém-nascido.
“Contando apenas com seu corpo pequenino e seu medo gigantesco, ele desafiou e ameaçou todo o vasto mundo” pag. 89
Confesso que me senti dentro de um documentário do Animal Plantet. Porém, minha felicidade e a de Lobinho duraram pouco. Quando os índios reencontram Kichie, automaticamente levaram Lobinho consigo. Na tribo, o pequeno recebe o nome de Caninos Brancos e ali percebe que existem forças maiores do que a da natureza. Com o contato com o homem, o animal se deparou com algo que sua mente simples descreveu como deuses:
“Ele ficou imobilizado, subjugado por um senso avassalador de sua própria pequenez. Ali estava um exemplo de soberania e poder, algo muito superior a ele. (…) O lobinho olhava naquele momento para os cinco homens não só com seus olhos, mas com os olhos de todos seus antepassados (…) olhos que haviam espiado de uma distância segura aquele estranho animal de duas pernas que era o senhor de outras coisas vivas”. Pags. 109 e 110
Caninos Brancos viveu entre os homens um misto de admiração e humilhação. Dia após dia foi forçado a se submeter ao seu deus homem, o índio Castor Cinzento. Assim, passou a temer principalmente as mãos do bicho homem, pois elas sempre lhe provocavam dor. Por ser filhote de lobo, Caninos Brancos representou para a matilha de cães dos índios o desconhecido mundo selvagem e por isso foi maltratado, perseguido, muitas vezes atacado por filhotes e cães adultos.
“A argila de Caninos Brancos fora moldada até ele tornar-se o que era, soturno e solitário, sem afetos e feroz, o inimigo de toda espécie.” pag.142
O filhote cresceu e se tornou o animal mais temido da tribo. Nem animais, nem humanos mexiam com ele por medo de seus dentes ou da vingança de seu deus que via em Caninos Brancos o melhor animal que um homem poderia ter. E, se não fosse suficiente, quando Castor Cinzento se mudou para um garimpo, ficou rico e perdeu todo o dinheiro com bebida, vendeu Caninos Brancos para um homem ainda pior, alguém que colocou Caninos Branco para lutar em rinhas; lutas que quase custaram a vida desse pobre animal, de um ser que demorou para conhecer a bondade humana.
O livro é um clássico e faz jus a todas as minhas memórias de infância. Impactou-me no ponto certo. Mostra como o ser humano pode destruir um animal e este ser considerado perigoso sem que seu dono sofra represália alguma. Indico para quem não tem medo de clássicos e gosta de um bom desafio. Pois tem partes do livro que eu me forcei a ler, tamanha crueldade e veracidade dos fatos. Dou cinco estrelas, sem dúvida.
Beijos!
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