A adolescência de Lily Owens tem sido complicada. Ela não se lembra da morte da mãe, há mais de dez anos, e sua relação com o pai é mais que difícil. Em 1964, quando completa catorze anos, ela decide fugir junto com sua babá Rosaleen. Lily sai a caminho de Tiburon, a cidade que parece esconder alguma resposta sobre a vida de sua mãe. Chegando lá, ela e Rosaleen são acolhidas por três irmãs. Aos poucos, Lily descobre um mundo mágico de abelhas, mel e da Madona Negra. Com a ajuda das irmãs Boatwright – August, May e June -, Lily tenta desvendar sua história. Será que ela conseguirá enfrentar os demônios de seu passado e se tornar uma jovem independente?
Editora: Cia de Letras l 256 Páginas l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 5/5
Comecei a ler esse livro sem muitas expectativas (ultimamente ando assim: já são dois ou três livros que leio sem altas expectativas) e comecei gostando, cheguei à metade odiando e no final, fiquei meio a deriva. Isso não quer dizer que o livro seja ruim, pelo contrário. Bons livros fazem o leitor experimentar uma constelação de sensações.
A proposta da autora é contar a história de Lily Owens, uma garota de 14 anos que ao mesmo tempo é mocinha e vilã do livro. A garota chegou à adolescência em uma casa cercada pelo rancor e raiva que emergem do relacionamento entre pai e filha. Seu pai, T. Ray, nunca esqueceu a morte da esposa, Deborah Fontanel Owens, e descarrega toda amargura em Lily. Por sua vez, a menina vive um conflito interno cada vez mais intenso sobre seus sentimentos a respeito de seu pai (que não considera pai) e a ausência de sua mãe.
O maior conflito da personagem está na lembrança mais dolorosa de sua infância: Lily lembra que no meio de uma discussão entre os pais ela pegou uma arma caída no chão e acidentalmente disparou contra sua mãe. Mas quanto disso é verdade? Quem de fato matou Deborah Owens? E porque T. Ray e Deborah estavam brigando no fatídico dia? Essas são as questões que atormentam Lily durante seus 14 anos e às quais ela nunca conseguiu responder.
“Às vezes parecia que não ouvia barulho algum ao pegar a arma, que o barulho veio depois, mas outras vezes, sentada sozinha no degrau da varanda, aborrecida e desejando fazer alguma coisa, ou fechada no meu quarto em um dia de chuva, sentia que eu é que tinha causado aquilo, que quando peguei a arma do chão o barulho atravessou o quarto e trespassou nossos corações.” pg. 19
A história se passa entre os anos de 1964 e 1965 e tem como plano de fundo a luta dos negros americanos contra o racismo e pela conquista dos direitos civis. Lily cresceu num ambiente hostil a negros, mas foi criada por uma babá negra chamada Rosaleen. Uma mulher de personalidade forte e a única pessoa capaz de confrontar T. Ray quando este perdia a razão e descontava toda sua fúria em Lily. Num ímpeto de descobrir mais sobre sua mãe, Lily e Rosaleen fogem para uma cidade rural próxima e se depara com uma família composta por três irmãs negras que se dedicam a criação de abelhas. Convivendo com as irmãs August, June e May, a menina passa a entender o significado de família e ao invés de dar um fim a todo seu conflito, parece que a sensação de ser amada aumenta ainda mais sua confusão.
O ponto alto do livro está em retratar uma sociedade dividida pelo racismo, em que mesmo pessoas que aparentam não ser racistas, como a Lily, acabam descobrindo dentro de si um pouco de preconceito escondido. Isso dá as emoções descritas uma pressão maior e deixa tudo mais cruel. A sensação que tive foi que a personagem flutuava entre dois mundos: não pertencer aos brancos, pois aceitava e amava os negros, e não pertencer aos negros por causa da cor da sua pele. Mas essa era a sensação dela. Dentro da própria família, June não aceitava Lily por ela ser branca. Foi quando a menina descobriu que havia o preconceito com brancos também.
Porém, o ápice da história é quando finalmente May, a irmã frágil e mentalmente desequilibrada mas capaz de amar o mundo inteiro, acaba revelando que sim, Deborah Fontanel viveu com elas, momento em que a jovem Lily vê seu mundo virar de pernas para o ar: O que sua mãe fez na fazenda de abelhas? Por que esteve ali e não cuidando dela enquanto era apenas um bebê? Ao descobrir a verdade, a missão da menina agora é aprender a liberar toda raiva e ódio contido, perdoar todas as pessoas a seu redor, e descobrir enfim como se deixar ser amada e amar novamente.
“Saber algo pode ser uma maldição na vida de uma pessoa. Eu tinha trocado um pacote de mentiras por um pacote de verdades, e não sabia qual era mais pesado. Qual deles exige mais força para ser carregado? Mas era uma pergunta ridícula: depois que se conhece a verdade, não se pode voltar e pegar a mala de mentiras. Mais pesada ou não, a verdade passa a nos pertencer.” pg. 194
Porque fiquei flutuando. Bom, no final, não consegui entrar na história, meio que me perdi no enredo. O livro é muito bom. Apresenta fatos históricos sem que o leitor perceba. A faceta do racismo está ali com suas duas caras más. A representação da religiosidade e da busca por si mesmo também existe. Mas algo não me cativou. Não está entre meus preferidos. Talvez num futuro eu volte a ler e ache o contrário. Mas dou cinco estrelas, porque sim, é um livro espetacular.
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