Organizado da mesma forma que O livro das princesas – também com o esquema de dois populares autores nacionais, e dois nomes famosos do exterior – O livro dos vilões reúne estes autores para uma coletânea de contos sobre vilões icônicos dos contos de fadas. As irmãs de Cinderela? Malévola? Madrastas e lobos? Carina Rissi, Cecily Von Ziegesar, Diana Peterfreund e Fábio Yabu estão aqui com a mensagem: este não é um livro tão bonzinho quanto o seu antecessor.
Editora: Galera Record l 320 Páginas l Fantasia l Compre aqui: Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
É uma verdade universal que toda história possui diversas versões: a do narrador, a do acusado, a do inocentado e a do telespectador. Desde que um conto de fadas possua um final feliz – digno de beijos roubados, sapatinhos de cristal e casamentos repentinos – raramente duvidaremos da verdade por trás de suas palavras, afinal o vilão foi combatido e o bem saiu vitorioso… Mas será que foi mesmo? Em O Livro dos Vilões os anti-heróis apresentam novas perspectivas das belas histórias que líamos antes de dormir, mostrando-nos que o final feliz nem sempre é para aquele que o merece.
O livro conta com quatro contos: #Stepsisters da Cecily von Ziegesar, Menina Veneno da Carina Rissi, Quanto mais afiado o espinho da Diana Peterfreund, e A menina e o Lobo do Fábio Yabu, recontagens de Cinderela, A Branca de Neve, A Bela Adormecida e Chapeuzinho Vermelho, respectivamente.
O primeiro conto é monótono, confuso, e parece não chegar a lugar nenhum. Nunca tinha lido um livro da Cecily, mas sua narrativa me pareceu extremamente superficial – ela só fala de marcas, redes sociais e popularidade, claro que existe uma crítica social por trás disso, mas ainda assim não consegui me envolver com nenhum dos personagens: Cinderela, chata; príncipe, chato; vilões, chatos… Sem contar que em alguns momentos a autora esqueceu que o foco deveria estar na recontagem de uma fábula. A vantagem é que a história é bem curtinha, então ela não desanima – pelo menos não totalmente – o leitor a continuar a leitura. É, eu realmente não gostei dessa história.
Já o segundo conto é pura diversão. A abordagem da Carina foi a que mais se aproximou da história original, entretanto ela deu voz a uma madrasta apaixonada por sua beleza que no fundo, bem no fundo, tem um resquício de bondade em seu coração. A trama é tão envolvente que quando acabou eu queria mais, fora o fato de eu ter adorado a madrasta e torcido para ela dar um belo chute na boca da sua enteada. Eita menina irritante! Também preciso dizer que me emocionei com a pobre Malvina e adorei o fato dela falar com o leitor – ela é toda irônica e pomposa em seu “você não acreditou nisso, não é meu bem?”. Diva pura!
O terceiro conto também é uma delícia. Ele deixou meu coração apertado e me fez compadecer pela protagonista – que no caso seria a “bruxa má” que botou a Bela Adormecida para dormir. Esse foi o conto que eu mais gostei. Ele é bem diferente da história original, mas tem um quê de “Meninas Malvadas”, amadurecimento juvenil, e reflexão sobre popularidade, sexo e drogas na juventude. Temas atuais e extremamente reais. A autora me ganhou ao mostrar a lição que seu conto carrega. Bem legal mesmo!
E o último conto foi uma deliciosa surpresa. Ele é poético e traz um lobo mau injuriado por ter sido criado apenas para sofrer. O autor ganhou meu coração ao falar de “bem versus mal”, ao dar voz aos personagens esquecidos em seu pântano de solidão e injustiça. Outro ponto que me surpreendeu foi o teor religioso do conto, esse não é o foco da história, mas ela fala sobre o criador (nesse casso o grande Narrador dos contos de fadas), seu amor incondicional e suas tiranias. Em suma, a trama tem muita analogia religiosa, traz uma mensagem incrível e tem um final ainda mais perfeito. AMEI tudinho! Fiquei extremamente curiosa para ler mais obras do autor Fábio Yabu.
Mesmo que eu tenha gostado dos contos em níveis desiguais, existe algo que eles possuem em comum: uma bela – e algumas vezes velada – crítica à perfeição dos contos de fadas, fato que me agradou bastante, afinal não existe vida e/ou pessoa perfeita. Também gostei do clima de diversão e reflexão por trás de cada narrativa, e me surpreendi bastante com o fato das recontagens serem modernas. São histórias atuais que podem ser enquadradas muito bem na nossa realidade atual. Simplesmente adorei o livro.
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