Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.
Editora: Cia das Letras l 516 Páginas l Romance l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 5/5
Ifemelu está há treze anos fora de casa e agora se prepara para voltar e rever sua família. Mas sua viagem não é só de visita, Ifem, como é conhecida pelos íntimos, está fazendo uma loucura: o propósito da personagem é abandonar a vida que construiu nos Estados Unidos e voltar definitivamente para a Nigéria.
O livro começa com uma Ifem bem resolvida, sem sotaque nigeriano, formada e dona de um blog de sucesso. Essa Ifemelu adulta e madura relembra sua trajetória até sua bem sucedida vida durante uma visita ao cabeleireiro. Sendo assim, a primeira lembrança da África que o leitor tem acesso começa nesse momento: a personagem recorre ao salão em Trenton para trançar o cabelo. Em um ambiente pequeno, sentindo um calor insuportável, a protagonista se depara com o fato de que as cabeleireiras são estrangeiras recém-chegadas da África. Ao invés de achar algum conforto no salão, Ifemelu se vê rodeada por costumes e hábitos que há muito havia deixado de lado e percebe que se tornou uma americanah (apelido dado por seu povo aos nigerianos que moram nos EUA e esquecem os trejeitos e maneiras de sua terra natal, tentando se ambientar ao ocidente).
Quando chegou aos Estados Unidos, Ifemelu era apenas uma adolescente nigeriana, com 18 anos de idade, em busca de concluir os estudos nos Estados Unidos. Os primeiros meses foram difíceis. Ifem enfrentou o preconceito, mascarado pela gentileza. Portas de emprego se fechavam devido ao sotaque pesado que declarava a nacionalidade da menina. Portanto, logo nas primeiras cem folhas o leitor é apresentado à cultura americana pelo olhar do estrangeiro: o estranhamento que o indivíduo que deixou seu país sofre ao entrar em contato com uma cultura diferente e ao mesmo tempo agressiva. Um dos pontos mais discutidos é o racismo disfarçado.
Todos os acontecimentos cotidianos são observados por meio desse clima de estranheza: a educação do primo, ainda criança, produtos no supermercado, comerciais na televisão, discussão na sala de aula, o trabalho como babá e a Associação de Estudantes Africanos que diverge da Associação de Estudantes Negros. Ifemelu possui um parente de seu pai que mora nos EUA há mais tempo, mas mesmo a presença de tia Uju não diminui a sensação de não pertencimento. Na Nigéria sua cor não era um problema, mas na América ela percebe mais claramente o racismo.
Por basear-se nas memórias da protagonista, Americanah pode ser descrito como um romance épico, apesar de acontecer na época atual. A obra oferece uma nova perspectiva àqueles que acreditam que os países da África são compostos por tribos, ou pensam que todos os africanos são pobres e que a região é o berço do preconceito racial. Um ponto curioso da obra é que Ifemelu não é a única narradora da história. Obinze, seu antigo namorado, também conta alguns capítulos, mostrando a força e a frustração dos negros que saíram da Nigéria em direção à Inglaterra.
Um dos pontos que mais gostei foi quando, ao retornar para casa, Ifemelu é atingida por um duplo choque: Lagos, a capital da Nigéria, não está como ela se lembrava (óbvio) e tão pouco se parece com as cidades norte-americanas. Esse é mais um momento de estranheza na vida da personagem, sem querer, ela se aculturou ao se adaptar a vida americana.
Apesar de muitos terem dito que Americanah é um livro incômodo e/ou criado para incomodar aqueles que estão alheios ao racismo, não senti isso. Talvez porque meu cunhado seja nigeriano e minha irmã é que é a estrangeira vivendo num país culturalmente diferente, a sensação que tive foi de medo por ela.
No mais, recomendo Americanah a todos que querem ser desafiados a ler pelas entrelinhas. Um livro gostoso, irônico e revelador, que toca o leitor com seu senso de humor, crítica social e romance. Cinco estrelinhas para a obra de Chimamanda Ngozi Adichie.
Comente via Facebook