Objetos Cortantes – Uma narrativa tensa e cheia de reviravoltas. Um livro viciante, assombroso e inesquecível. Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida. Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.
Editora: Intrínseca l 256 Páginas l Thriller Psicológico l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Mais uma vez a Gillian Flynn me deixou sem palavras. Fui completamente arrebatada pela narrativa de Objetos Cortantes, portanto é difícil descrever o quão conflitante e instigante foi o desenrolar dessa leitura. Desde o início eu sabia que ia me apaixonar pelo livro, contudo não fazia ideia de como ele me afetaria – até porque essa é a obra de estreia da autora, ou seja, não era para ela ser tão boa assim. A história, como era de se esperar (pelo menos por quem já teve contato com a escrita da autora), é um tributo à complexidade da mente humana. Nós somos falhos, fracos, e estamos suscetíveis a distúrbios psicológicos que afetam completamente a nossa vida e a dos que estão ao nosso redor, e de certa maneira são essas características que dão sentido para a narrativa. Ao falar sobre traumas familiares, automutilação, assassinado, solidão, e os estigmas de beleza e perfeição impostos pela sociedade, Gillian cria uma história que penetra a pele do leitor, fazendo-o experimentar uma dolorosa mescla de emoções. Fazendo-nos ansiar por uma libertação que sou incapaz de nomear.
A obra gira em torno de Camille Preaker, repórter de um jornal não muito famoso de Chicago. Após oito anos longe dos dramas de sua antiga cidade, a jovem precisa voltar para a pequena Wind Gap, no Missouri, e cobrir um misterioso caso de assassinato e desaparecimento de garotinhas. Ela vê nesse episódio uma oportunidade de reconhecimento profissional, contudo não imagina que ao escrever essa matéria estará colocando em risco sua sanidade mental – ela até faz ideia do que está em jogo, mas ainda assim segue adiante, certa de que estará preparada. Reviver o passado, regressar para a casa de sua mãe, encontrar a meia-irmã que é praticamente uma desconhecida e, principalmente, voltar a se sentir tão inadequada, representam apenas uma parcela das dificuldades que ela precisará enfrentar. E o pior é que enquanto Camille segue sua busca pessoal por perdão e libertação, também precisará trabalhar com a polícia e os moradores locais em busca de pistas sobre o caso das garotas desaparecidas, desvendando tanto os dolorosos mistérios de sua família quanto os de sua antiga cidade.
“Este lugar faz coisas ruins comigo. Eu me sinto errada.”
O diferencial da narrativa é, sem dúvida, a união dos aspectos profissionais e pessoais que mais assombram a protagonista. Ao voltar para casa, ou ao menos para o que deveria ser um lar, a jovem relembra os anos que passou na cidade, se sentindo cobrada, imprópria e lamentando a falta de amor da mãe. Camille teve uma vida de dor e solidão que poucos de nós são capazes de entender, contudo no decorrer da narrativa somos impulsionados para sentir na pele todos os seus medos, para reviver as lembranças que fizeram com que ela flagelasse e marcasse permanentemente seu corpo. Ao lado dela, experimentamos cada corte e cada palavra escrita em sua pele como forma de alívio para a dor. E isso é, sem dúvida, perturbador. Não imaginei que mergulharia na vida da protagonista e que seria capaz de sentir o peso que ela carrega nos ombros. Em alguns momentos, me vi em conflito interno, assumindo como minhas as dúvidas de Camille. Rejeição, mentira, desprezo… eu senti e vivi isso, o que tornou a leitura ainda mais dolorosa e prazerosa. – Ambíguo não? O fato é que a personagem, seus distúrbios, e suas falhas, são tão reais que é impossível não se deixar levar por sua história de vida. Aqui, não temos perfeição ou felizes para sempre, apenas o retrato de alguém modificado pelas ações de sua família.
Além do aspecto familiar e emocional, que já são incríveis quando analisados separadamente, a autora também encanta ao explorar o lado profissional de Camille. Mergulhamos em um caso policial repleto de pontas soltas, que comove e instiga por envolver garotinhas aparentemente perfeitas – trata-se de crianças mortas ou raptadas sem um motivo aparente, e isso leva a população local, e o próprio leitor, a ansiar desesperadamente por uma solução. Essa faceta do livro deixa a trama fluida, afinal devoramos a história em busca de uma solução. Fora que o caso de assassinado permite que a autora explore o lado negativo dos repórteres policiais, que parecem querer ganhar com o sofrimento alheio. Camille sofre rejeição ao se envolver com esse caso, além de precisar utilizar várias artimanhas – nem sempre politicamente corretas – em nome do seu trabalho. Eu adorei como a autora é verdadeira no relato da profissão, gostei de como Camille conduz o caso, mas amei mesmo como tudo terminou. Parecia tão previsível, mas uma reviravolta tornou a solução do caso digna de qualquer noticiário. Simplesmente perfeito, que mente essa autora tem!
Confesso que achei o final um pouco corrido, contudo um dos pontos positivos do livro é a narrativa ser mais direta e objetiva. Portanto, só tenho elogios para a obra. Amei as reflexões emocionais a respeito das dores da protagonista, amei poder viver na pele um distúrbio tão complexo como o da automutilação, e amei desvendar os detalhes deste caso policial. Mais uma vez (assim como em Garota Exemplar) a autora deu vida a uma história que mostra a complexidade e obscuridade da mente humana. E, é claro, eu amei cada detalhe disso. – Gillian Flynn, você acabou de ganhar mais uma fã de carteirinha.
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