Há dez anos, Jess Thomas ficou grávida e largou a escola para se casar com Marty. Dois anos atrás, Marty saiu de casa e nunca mais voltou. Fazendo faxinas de manhã e trabalhando como garçonete em um pub à noite, Jess mal ganha o suficiente para sustentar a filha Tanzie e o enteado Nicky, que ela cria há oito anos. Jess está muito preocupada com o sensível Nicky, um adolescente gótico e mal-humorado que vive apanhando dos colegas. Já Tanzie, o pequeno prodígio da matemática, tem outro problema: ela acabou de receber uma generosa bolsa de estudos em uma escola particular, mas Jess não tem condições de pagar a diferença. Sua única esperança é que a menina vença uma Olimpíada de Matemática que será disputada na Escócia. Mas como eles farão para chegar lá? Enquanto isso, um dos clientes de faxina de Jess, o gênio da computação Ed Nicholls, decide se refugiar em sua casa de veraneio por causa de uma denúncia de práticas ilegais envolvendo sua empresa. Entre ele e Jess ocorre o que pode ser chamado de ódio à primeira vista. Mas quando Ed fica bêbado no pub em que Jess trabalha, ela faz questão de deixá-lo em casa, em segurança. Em parte agradecido, mas principalmente para escapar da pressão dos advogados, da ex-mulher e da irmã — que insiste em que ele vá visitar o pai doente, Ed oferece uma carona a Jess, os filhos e o enorme cão da família até a cidade onde acontecerá o torneio. Começa então uma viagem repleta de enjoos, comida ruim e engarrafamentos. A situação perfeita para o início de uma história de amor entre uma mãe solteira falida e um geek milionário.
Editora: Intrínseca l 320 Páginas l Romance l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
A leitura de Um mais um foi uma grata surpresa. Mesmo que a trama não tenha me surpreendido completamente, o alto teor emocional do livro me pegou desprevenida; não esperava que a obra, de aparência leve e superficial, fosse tão emocionante – e não uma emoção melodramática, mas uma chuva de sentimentos especiais e verdadeiros. Assim, o que realmente me encantou foi que através da leitura eu ri, chorei, suspirei e aprendi valiosas lições. Além disso, também me espantei com a capacidade da autora em descrever um cenário comum a milhares de mulheres: mulheres que precisam fazer o papel de mãe e pai, mulheres batalhadoras que lutam diariamente para pagar as contas e colocar comida na mesa, e mulheres que, mesmo constantemente pisoteadas pelas dificuldades do dia a dia, mantêm a esperança de uma vida melhor e de um futuro brilhante para os seus filhos. Mas não me entendam mal, a obra é repleta de bom-humor e romance, contudo seu enfoque está na luta de uma família que carrega o peso das contas acumuladas, do preconceito social, e do bullying em sua forma mais amedrontadora. Portanto, por mais fofa e apaixonante que a narrativa seja, ela possuiu um lado reflexivo que, além de me surpreender, me deixou apaixonada pela história.
A obra possui quatro personagens principais e intercala a narrativa entre eles: Ed, o milionário que está sendo acusado de fornecer informações privilegiadas sobre sua própria empresa (é que ele, meio sem querer querendo, disse por aí que as ações da empresa iriam subir, o que deu um problema danado quando certa pessoa – talvez uma namorada paranóica da qual ele queria se livrar – comprou ações com base no que ele disse); Jess, a jovem que casou e engravidou muito cedo e que nos últimos dois anos, graças ao ex-marido imprestável, teve que cuidar sozinha de sua filha de dez anos e do enteado de dezesseis; Tanzie, a filha de Jess que é um prodígio em matemática e que não se enquadra nos padrões estabelecidos pela sociedade para as meninas da sua idade; e Nick, enteado de Jess, jovem que sofre bullying por ser diferente, que vive solitário e mal humorado, e que anda de cabeça baixa graças às injustiças da vida. Essa turma não tem muito em comum, apenas o fato de que eles vão acabar juntos em uma viagem com destino a uma grande mudança de vida. Para Ed, dar carona para Jess e seus filhos foi uma chance de retribuir um favor e fugir da loucura que está sua vida. Já para Jess e seus filhos, foi à oportunidade de levar Tanzie para a Escócia, local em que a garotinha poderá participar de uma olimpíada de matemática, talvez ganhar uma boa quantia de dinheiro e, quem sabe, dar o primeiro passo para a boa sorte da família. Porém, o que eles não sabem é que depois dessa viagem suas vidas realmente irão mudar, mas não como eles imaginavam.
O romance, como já era de imaginar, é bem previsível. Ed e Jess são de mundos completamente diferentes: ela vive no limite, administrando seu escasso dinheiro da melhor forma possível, enquanto ele está acostumado com o luxo que seu trabalho proporciona. Assim, quando viajam juntos Jess e Ed são apresentados a realidades econômicas cruelmente distintas, o que permite que eles aprendam mais sobre si mesmos, sobre a vida que levam, e sobre o futuro que pretendem ter. Enquanto isso, a autora aborda o antigo relacionamento de Jess e o fato do seu ex-marido não ajudá-la financeiramente, e fala também das antigas namoradas de Ed – que sempre queriam o dinheiro dele – e de como ele está se mantendo distante da família quando eles mais precisam dele. Problemas financeiros, dramas familiares… é tudo tão real, não é mesmo? Durante a leitura eu só conseguia pensar em quantos casais assim existem por aí, em quantos homens e mulheres enfrentam diversos problemas por causa da falta ou da sobra de dinheiro. Gostei bastante dos protagonistas, de como a relação entre eles é baseada no companheirismo, no bom-humor, e na fé de que as coisas irão melhorar. E gostei ainda mais de como o amor entre eles nasce do convívio diário, de como Ed chega na vida de Jess para salvar ela e seus filhos, mas no fundo são eles que o salvam.
Muito além do romance, como já disse, o que me encantou na leitura foi a intensidade dos sentimentos descritos. Dói saber que muitas mulheres enfrentam as mesmas dificuldades que Jess. Em inúmeros momentos me vi chorando com e por ela, derramando lágrimas pelas injustiças da vida que ela enfrenta; Jess sempre acredita que boas pessoas são recompensadas, só que, infelizmente, a realidade não é bem assim. Por isso, acompanhar a luta da personagem abre nossos olhos para uma realidade muito comum em nossa sociedade, fazendo-nos valorizar todas as bênçãos que recebemos e que muitas vezes nem nos damos o trabalho de agradecer. Fora que a narrativa de Tanzie e Nick também colabora para a carga emocional do livro. A garotinha é tão direta e verdadeira. Ela é apaixonada por matemática, não filtra as palavras, e não entende o motivo das pessoas não aceitarem isso. – Poxa, o que tem de errado se dar tão bem com os números? Já Nick sofre tanto com o bullying que dá vontade de entrar no livro e abraçá-lo bem apertado. Assim como ele, não compreendo a lógica desses chamados valentões, porque não tem valentia nenhuma em bater em alguém que é diferente, ou de assombrar com ameaças uma família que já sofre demais. Mas a presença de Ed vai ajudar esses jovens e mesmo na dificuldade eles permanecerão unidos. E não tem nada melhor do que o companheirismo e amor de uma família. Pode faltar dinheiro, boas oportunidades de crescer na vida, e até mesmo o carinho e respeito das pessoas ao nosso redor, contudo quando se tem uma família como essa, que apoia o outro constantemente, é mais fácil seguir lutando. E eu amei isso. Amei como esses personagens lutam por uma vida melhor; como eles sofrem, perdem a esperança, recomeçam, mas sempre estão juntos.
“É isso que não entendo. Não entendo como a nossa família pode basicamente fazer a coisa certa e sempre acabar na merda. Não entendo como a minha irmãzinha por ser brilhante, meiga e um verdadeiro gênio e, ainda assim, agora acordar chorando e ter pesadelos, e preciso ficar acordado na cama ouvindo a minha mãe atravessar o patamar da escada às quatro da manhã para tentar acalmá-la.”
“Todo mundo sabia o resultado. Quem tinha aparência esquisita apanhava. Quem continuava tendo uma aparência esquisita continuava sendo perseguido. Essa era a lógica demolidora e inflexível da cidade pequena.”
No geral a obra possui uma narrativa fluída e contagiante que, variando entre o romance e o drama familiar, traz um diverso leque de emoções e proporciona uma valiosa lição de vida e superação. – Se é clichê? Sim, um pouco, mas a história é tão bonita que isso passa a ser irrelevante. Definitivamente me apaixonei pela escrita da Jojo Moyes e não vejo a hora de ler mais livros dela.
Beijos!
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