Aos 91 anos, com problemas de saúde e sozinho no mundo, Ira Levinson sofre um terrível acidente de carro. Enquanto luta para se manter consciente, a imagem de Ruth, sua amada esposa que morreu há nove anos, surge diante dele. Mesmo sabendo que é impossível que ela esteja ali, Ira se agarra a isso e relembra diversos momentos de sua longa vida em comum: o dia em que se conheceram, o casamento, o amor dela pela arte, os dias sombrios da Segunda Guerra Mundial e seus efeitos sobre eles e suas famílias. Perto dali, Sophia Danko, uma jovem estudante de história da arte, acompanha a melhor amiga a um rodeio. Lá, é assediada pelo ex-namorado e acaba sendo salva por Luke Collins, o caubói que acabou de vencer a competição. Ele e Sophia começam a conversar e logo percebem como é fácil estarem juntos. Luke é completamente diferente dos rapazes privilegiados da faculdade. Ele não mede esforços para ajudar a mãe e salvar a fazenda da família. Aos poucos, Sophia começa a descobrir um novo mundo e percebe que Luke talvez tenha o poder de reescrever o futuro que ela havia planejado. Isso se o terrível segredo que ele guarda não puser tudo a perder. Ira e Ruth. Luke e Sophia. Dois casais de gerações diferentes que o destino cuidará de unir, mostrando que, para além do desespero, da dificuldade e da morte, a força do amor sempre nos guia nesta longa jornada que é a vida.
Editora: Arqueiro l 368 Páginas l Romance Contemporâneo l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Mais uma vez fui arrebatada pelo talento do Nicholas Sparks. Além de ser transportada para belas e envolventes histórias de amor, ao decorrer da leitura de Uma longa Jornada me vi cercada de emoções que não sou capaz de descrever (pelo menos não em totalidade). E a grande surpresa é que raramente os livros do Sparks fazem isso comigo. Foi incrível não conseguir parar de ler; o sentimento de mergulhar nos mundos descritos e de me sentir parte da história tomou conta do meu coração, fazendo-me amar o livro desde o primeiro instante. Confesso que a obra é clichê e extremamente previsível, mas isso não diminuiu meu amor por ela, muito pelo contrário, provou que o Nicholas é muito mais do que melodrama barato – imagem que eu, infelizmente, tinha do autor – e que é capaz de criar histórias de amor que são boas mesmo quando não despedaçam nossos corações. Sendo assim, entre descobertas, segredos, recomeços, perdas e amores verdadeiros, acompanhamos dois casais – um construindo e outro relembrando – e suas respectivas histórias de amor.
“Se nós não tivéssemos nos conhecido, acho que eu teria compreendido que minha vida não estava completa. E teria perambulado pelo mundo a sua procura, mesmo se não soubesse o que estava buscando.”
A obra é narrada em primeira pessoa e varia entre dois pólos: a vida de Ira e a vida dos jovens Sophie e Luke. Os três são narradores ativos na obra e os capítulos são intercalados entre eles. Ira, em seus noventa e poucos anos, teimou em dirigir em uma nevasca e acabou despencando de um penhasco. Ele começa o livro contando que, além de estar gravemente ferido, está preso em seu automóvel sem poder fazer nada a não ser esperar pelo resgate. Mas o grande problema é que Ira viveu tempo demais; ele perdeu todos que um dia amou, o que significa que não tem ninguém esperando por ele do lado fora. Tomado pela melancolia ele começa a relembrar sua vida, narrando os altos e baixos da sua juventude e descrevendo a jornada incrível que fez ao lado de sua amada, e falecida, esposa. Ruth é tudo para ele, e ao decorrer de sua narrativa vamos descobrindo a imensidão do amor deles. Enquanto Ira mergulha em memórias e espera por socorro – ou pela morte –, também conhecemos Luke e Sophie. Luke é um peão de boiadeiro. Ele vive com seu chapéu na cabeça, mora com a mãe na fazenda da família, trabalha e gosta de estar rodeado de animais, aprecia a calmaria da vida na fazenda, e é conhecido mundialmente nos circuitos de rodeio como um dos melhores. Há não muito tempo ele fez história, boa e ruim, e agora precisa retomar seu posto para, quem sabe assim, garantir um futuro para a mãe. Ele é sério, preocupado e dedicado, então não deixa transparecer que está enfrentando um dos momentos mais difíceis de sua vida. Pelo menos é assim até ele conhecer Sophie. A jovem está na cidade para estudos, batalhando para se formar em arte e trabalhar em famosas galerias e museus espalhados pelo mundo. Ela ama o que faz, mas no fundo carrega o medo de não realizar seus sonhos profissionais. Depois de um término complicado ela sai com as amigas em busca de distração, momento em que ela conhece aquele que mudará o rumo da sua vida. Sendo assim, enquanto Luke e Sophie constroem um relacionamento e Ira nos narra sua história de amor, constantemente nos perguntamos o que esses personagens têm em comum. E esse é exatamente o encanto da obra, descobrir como a vida desses três está interligada.
Logo de cara me apaixonei pelo Ira. Sua devoção por Ruth é tão palpável que é impossível não sentir na pele a força do amor que os une. Se o livro fosse só deles – de Ira e Ruth – já seria incrível. Gosto muito de obras com personagens mais velhos, com homens e mulheres que viram e viveram muito, que adquiriram experiência com seus erros e acertos. Ira participou de uma guerra mundial, foi privado do futuro pelo qual almejou, mas recebeu o melhor presente: uma longa vida ao lado do seu verdadeiro amor. Quantas pessoas são abençoadas assim? Ele sabe a sorte que teve e é totalmente grato por isso. E não é só de gratidão que ele é feito. O personagem carrega uma sabedoria que só o passar dos anos é capaz de proporcionar. E seus sentimentos são tão reais e transparentes que eu sofri, ri, chorei e torci por sua felicidade. Vibrei e me encantei com as palavras sinceras de um homem que viveu e se doou ao amor. Para mim, isso que é amor verdadeiro: esse tipo de relacionamento duradouro que cresce e se transforma a cada novo dia. De fato, Ira entrou para a lista de personagens mais incríveis que já conheci.
Em contra partida, a história de Sophie e Luke também é envolvente, emocionante e divertida, contudo de uma maneira completamente diferente. Talvez seja pela idade dos personagens ou pela realidade universitária de Sophie, mas o fato é que o envolvimento deles é quase como um new adult: jovem, à flor da pele, apaixonante. Sabe aquele frio na barriga do primeiro encontro? Eu senti isso quando Sophie e Luke se conheceram, e mais, ao avançar da leitura mergulhei de cabeça em seus dramas e medos. Sinceramente, a impressão que dá é que o romance é verdadeiro, que que vai além da ficção. E eu amei tanto isso! Luke e Sophie são tão diferentes, mas ainda assim ficam tão perfeitos juntos; torci demais pelo casal. É claro que o clichê mocinha da cidade versus mocinho do interior incomoda em alguns momentos, mas eles vão além desses estereótipos. Em linhas gerais, o romance deles é previsível, mas carrega dramas dignos de um amor verdadeiro. Talvez, quem saiba, de um amor tão puro quanto o de Ira e Ruth.
“É por isso que perambulo pela nossa casa tarde da noite, por isso que a coleção continua intacta. Por isso nunca vendi um único quadro. Como poderia? Nos óleos e pigmentos guardo minhas lembranças de Ruth; cada pintura me lembra um capítulo de nossa vida. Não há nada mais preciso para mim. Isso é tudo o que me resta da esposa que amei mais do que à própria vida. Continuarei a contemplar as obras e me lembrar dela até não poder mais.”
A narrativa é envolvente, os personagens incríveis, o mistério previsível, e o final belo e tocante. Sinceramente, eu estava perdendo feio ao ter medos dos livros do Sparks. Se todas suas obras forem assim, vou ter que separar um mês no ano só para as suas histórias.
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