Depois da morte de seu amigo, Sam parece um fantasma vagando pelos corredores da escola, o que não é muito diferente de antes. Ele sabe que tem que aceitar o que Hayden fez, mas se culpa pelo que aconteceu e não consegue mudar o que sente. Enquanto ouve música por música da lista deixada por Hayden, Sam tenta descobrir o que exatamente aconteceu naquela noite. E, quanto mais ele ouve e reflete sobre o passado, mais segredos descobre sobre seu amigo e sobre a vida que ele levava. A PLAYLIST DE HAYDEN é uma história inquietante sobre perda, raiva, superação e bullying. Acima de tudo, sobre encontrar esperança quando essa parte parece ser a mais difícil.
Editora: Novo Conceito l 288 Páginas l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 3,5/5 l Escute as músicas citadas no livro aqui
A Playlist de Hayden une duas coisas que adoro na literatura: dramas reais e boas indicações musicais. A obra gira em torno do suicídio de Hayden e de como seu melhor amigo, o Sam, ficou depois de encontrá-lo morto. Para a construção da narrativa a autora tomou como base dois aspectos principais: os motivos que levaram Hayden a tirar a própria vida, e os conflitos que essa decisão desencadeia em Sam e em todos os outros jovens indiretamente ligados a essa história. Achei interessante a abordagem da Michelle Falkoff, até porque ela fala sobre suicídio pelo ponto de vista de quem fica, aproveitando para descrever a culpa, a solidão e o medo que assombram as pessoas envolvidas com a decisão de Hayden. Afinal, se seu melhor amigo cometesse suicídio você não se sentiria traído ou até mesmo culpado? Porque é assim que Sam está, vagando entre a dor da perda e a culpa de não ter feito nada para impedir a morte do amigo. Desta forma, a história é um emaranhado de dor, descobertas, recomeços, perdão, bullying e mistério. Ou seja, são páginas e mais páginas de emoção e reflexão.
Sam não sabe lidar com a morte, por isso ele canaliza a dor ao culpar todos que fizeram da vida de Hayden um inferno: os pais dele, o irmão mais velho e o “trio do bullying” que assombra os alunos do colégio, e até mesmo o próprio Sam – que, um dia antes da morte do amigo, brigou com ele por causa de uma festa que saiu do controle. Para o leitor, não é claro o que aconteceu, mas pelo pouco que Sam revela a noite teve uma forte influência na decisão de Hayden. É daqui que surge o primeiro mistério da história: descobrir o que aconteceu na festa. Além disso, depois da morte de Hayden as pessoas estão menos toleráveis ao bullying, o que parece justificar o fato dos valentões estarem sendo misteriosamente atacados. Sam, por ser o melhor amigo de Hayden e por estar abalado com sua morte, acaba acusado por esses atentados, mas ele tem quase certeza de que não foi ele! Portanto, o segundo enigma é descobrir quem está por trás dos ataques. Paralelo a isso acompanhamos os sentimentos conflitantes que assustam o protagonista. Sam não possuía outros amigos e, perdido em sua bolha de dor e solidão, não tem com quem contar ou desabafar. Em um dos momentos mais difíceis de sua vida o jovem começa a perceber a falta que faz o apoio de alguém, e enquanto tenta desvendar os segredos por trás da playlist musical que o amigo deixou para ele antes de morrer, Sam acaba descobrindo mais sobre o garoto que ele é e que gostaria de ser. Uma noite conflituosa, ataques inexplicáveis e uma playlist indecifrável… Será que Sam desvendará os mistérios que rodeiam a morte de Hayden?
A maior riqueza do livro é fazer o leitor enxergar que às vezes uma pequena atitude é capaz de desencadear uma dor profunda e inexplicável. Para Hayden, anos difíceis, poucas palavras de apoio, solidão, mentiras e preconceito, foram mais que suficientes para ele desistir de viver. Já para Sam, a morte repentina do amigo foi tudo o que ele precisava para perder o chão e perceber a imprevisibilidade da vida. Além disso, outro ponto positivo da narrativa é que ela nos faz pensar que existem dois lados de uma mesma história, e que muitas vezes os valentões são os que mais precisam da nossa ajuda. Ainda assim, em muitos momentos eu quis bater nos pais de Hayden, em seu irmão mais velho – que deveria protegê-lo –, e em seus colegas de classe. Sério, alguém me explica o motivo dos jovens serem tão intolerantes? Será que é mesmo mais fácil rir do colega do que ajudá-lo a se defender? É triste saber que essa é a realidade de nossas escolas, por isso fico contente em ler livros que falam sobre isso. Fora esse debate minucioso e importante sobre o bullying, também gostei das músicas inseridas na história. Sempre me encanto com tramas com boas indicações musicais.
Quanto à escrita, confesso que não me envolvi completamente com a narrativa da autora e com a personalidade de Sam. Foi difícil entender a dor do personagem já que ele estava passando por um processo de negação. Além disso, me incomodou que ele estivesse mais preocupado em desvendar os mistérios de Hayden do que propriamente com a dor que o amigo sentia. Em um ponto Sam faz novos amigos e encontra uma possível namorada, como se ele tivesse seguindo em frente ou recomeçando, mas parece tudo tão vago e forçado. Acabei gostando de como o personagem amadurece no final, mas não posso negar que não me conectei totalmente com ele. Tem algo na narrativa da autora: meio superficial e clichê, que não me deixou cair de amores pelo livro. Gostei da mensagem, valeu a pena ter lido, mas Sam e Hayden não me convenceram totalmente. O que é uma pena.
Assim, entre altos e baixos, a leitura compensa por ter uma bela e real mensagem. É sempre bom lermos livros que nos tiram da nossa zona de conforto, que nos fazem repensar nossas atitudes e pré-julgamentos. Fora que, nesse caso em particular, foi bacana encontrar um personagem que supera a perda de um amigo e, mesmo levando um bom tempo, aprende a liberar o sentimento de culpa que o corrói. Portanto, no geral esse não foi o melhor jovem adulto que já li, mas ainda assim me trouxe bons aprendizados.
Beijos!
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