Noah e Jude competem pela afeição dos pais, pela atenção do garoto que acabou de se mudar para o bairro e por uma vaga na melhor escola de arte da Califórnia. Mal-entendidos, ciúmes e uma perda trágica os separaram definitivamente. Trilhando caminhos distintos e vivendo no mesmo espaço, ambos lutam contra dilemas que não têm coragem de revelar a ninguém. Contado em perspectivas e tempos diferentes, EU TE DAREI O SOL é o livro mais desconcertante de Jandy Nelson. As pessoas mais próximas de nós são as que mais têm o poder de nos machucar.
Editora: Novo Conceito l 384 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Por mais que eu tente superá-la a leitura de Eu te darei o Sol permanece em minha mente, dominando e assombrando meus pensamentos. Ainda consigo sentir o turbilhão de emoções geradas pela obra: confusão, espanto, medo, raiva, paixão, cumplicidade e o mais belo tipo de amor. São poucos os jovens adultos que abocanham meu coração, contudo quando isso ocorre é para sempre – o que me faz ter a certeza que carregarei essa leitura comigo para onde é que eu for. A história é mágica, singular e, o mais importante de tudo, extremamente real. Ao descrever uma família corrompida pelas mentiras e pelo ciúme, Jandy Nelson dá vida a uma história reflexiva e tocante que, além de divertir e emocionar, debate temas como: preconceito, bullying, traição, homossexualidade, abuso, e inúmeros outros tópicos complexos e dolorosos. Sendo assim, com uma escrita poética e inteligente, a autora nos faz mergulhar em uma leitura incrivelmente peculiar e marcante. – E não estou falando da boca pra fora; até sinto que faltaram elogios nesse parágrafo.
Ao contrário da grande maioria dos livros do gênero jovem adulto maduro, Eu te darei o Sol foca nas dificuldades que permeiam o relacionamento dos gêmeos Noah e Jude. Desde pequenos os irmãos disputam a atenção dos pais: Noah, um garoto diferente e introspectivo, sempre se sentiu mais próximo da mãe e distante do pai. Para ele, seu pai o julga por ser diferente, por ser um pintor e não um atleta. Já com Jude é o contrário, ela sempre se sentiu mais ligada ao pai, afinal eles são aventureiros e destemidos. O sonho da garota era ter a aprovação da mãe, era que ela a amasse e aceitasse da mesma forma que fazia com o Noah. Entretanto, por mais que eles competissem pela atenção dos pais, Noah e Jude nunca deixaram a amizade, a união e o amor que sentiam um pelo outro de lado – pelo menos não até o fatídico aniversário de quatorze anos, ano em que tudo mudou. Dois anos depois da tragédia os gêmeos não conversam mais e são opostos das crianças que um dia foram. Jude, um antigo raio de sol, virou uma adolescente sem amigos, que conversa com o espírito da avó morta, que tem certeza que a mãe é responsável pelo azar que domina sua vida, e que carrega nos ombros o peso das mentiras que contou dois anos atrás. Enquanto Noah, que era um artista nato e que via beleza onde ninguém mais era capaz de enxergar, virou um rapaz popular e normal, deixando o peso dos erros do passado afogar o brilho que tinha nos olhos. Então a questão é: o que aconteceu para esses jovens mudarem tanto?
“Não sei como isso é possível, mas é: uma pintura é ao mesmo tempo exatamente igual e completamente diferente todas as vezes que você olha para ela. É assim que são as coisas entre mim e Jude agora.”
Outro diferencial da obra é que ela é narrada de forma intercalada por Noah e Jude que, surpreendentemente, estão em épocas diferentes. Enquanto a narrativa de Noah é do passado, quando os gêmeos tinham dos doze até seus quatorze anos de idade, a narrativa de Jude é no presente, quando os irmãos já não conversam mais e têm dezesseis anos. Esse constante salto no tempo é um dos trunfos da autora, afinal tal característica deixa o leitor ainda mais curioso para descobrir os segredos que esses irmãos carregam e o motivo deles não conversarem mais. A trama é tão rica em detalhes e emoções que demoramos para unir todos os fatos e finalmente descobrir o que aconteceu com essa família, e isso é realmente incrível. O quebra-cabeça criado pela Jandy Nelson é exatamente como a vida: imprevisível e doloroso. Esses irmãos, em pouco mais de dois anos, passam por vários traumas e hoje refletem o quanto precisam de ajuda: seja de um ombro amigo, da atenção dos pais, ou até mesmo do laço de irmãos que compartilhavam. Sendo assim, é impossível deixar de amar os gêmeos e de torcer para que eles encontrem a felicidade, para que liberem a culpa, a raiva, o medo e as mentiras do passado para, quem sabe, construírem uma vida nova.
“Penso em como a mamãe disse a Noah que era responsabilidade dele ser fiel ao seu coração. Nenhum de nós tem sido. Por que é tão difícil? Por que é tão difícil saber o que significa essa fidelidade?”
A obra também encanta por não deixar de lado a individualidade de cada um dos irmãos. Mesmo que a história foque na relação dos gêmeos, em nenhum ponto a trama deixa de abordar as peculiaridades – inseguranças, sonhos, dúvidas – de cada um deles. Sendo assim, outro diferencial da leitura é que a autora aproveita as personalidades peculiares de Noah e Jude para desenvolver romances, discorrer sobre as dúvidas profissionais desses jovens, e criar uma belíssima história de perdão e amadurecimento. Ou seja, temos um livro que foca no todo: no desenvolvimento familiar e nos relacionamentos paralelos que interferem em tal família, como também no crescimento individual de cada personagem dessa história, seja ele Noah, Jude, seus pais, o professor de escultura que vão encontrar no caminho, e até mesmo as paixões que vão desenvolver ao longo dos anos.
Maravilhoso é pouco para descrever essa obra. Tenho pela noção de que a escrita da autora, por ser diferente e não seguir os padrões comumente utilizados nesse tipo de livro, pode não agradar todos os leitores. Contudo, aqueles que decidirem abrir seus olhos e o coração para essa história, não tenho dúvida, irão se apaixonar. Com certeza vale a pena dar uma chance para a obra! E para quem ainda não se convenceu, aqui postei um vídeo com vários motivos para vocês lerem o livro.
Beijos!
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