Victoria Jones sempre foi uma menina arredia, temperamental e carrancuda. Por causa de sua personalidade difícil, passou a vida sendo jogada de um abrigo para outro, de uma família para outra, até ser considerada inapta para adoção. Ainda criança, se apaixonou pelas flores e por suas mensagens secretas. Quem lhe ensinou tudo sobre o assunto foi Elizabeth, uma de suas mães adotivas, a única que a menina amou e com quem quis ficar… até pôr tudo a perder. Agora, aos 18 anos e emancipada, ela não tem para onde ir nem com quem contar. Sozinha, passa as noites numa praça pública, onde cultiva um pequeno jardim particular. Quando uma florista local lhe dá um emprego e descobre seu talento, a vida de Victoria parece prestes a entrar nos eixos. Mas então ela conhece um misterioso vendedor do mercado de flores e esse encontro a obriga a enfrentar os fantasmas que a assombram. Em seu livro de estreia, Vanessa Diffenbaugh cria uma heroína intensa e inesquecível. Misturando passado e presente num intricado quebra-cabeça, A linguagem das flores é essencialmente uma história de amor – entre mãe e filha, entre homem e mulher e, sobretudo, de amor-próprio.
Editora: Arqueiro l 304 Páginas l Drama l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 4,5/5
É impossível não se surpreender com essa história. Ao considerar a capa e o título da obra imaginei, e não nego que julguei pela aparência, que A Linguagem das Flores fosse um romance doce e emocionante. Porém, por mais que o livro seja comovente ao ponto de tocar nossos corações, é fato que a história está longe de ser leve ou delicada, muito pelo contrário, ela é tão complexa e dolorosa quanto à vida real. E talvez esse seja o maior triunfo do livro: não banalizar a maldade e a solidão que existe no mundo. Ao falar de temas duros e reais como depressão, abandono, falta de perspectiva e futuro financeiro, e até mesmo das falhas por trás do nosso sistema de adoção, a autora mostra o que a humanidade tem de pior, ao mesmo tempo em que nos convence que a esperança e o amor são flores capazes de brotar até mesmo nos corações mais arenosos.
A trama gira em torno de Victoria e intercala passado e presente: o antes, quando ela era uma garotinha que passava por várias casas de adoção tentando encontrar uma família disposta a ficar com ela, e o agora, quando completa dezoito anos e sai da casa de assistência governamental para garotas na qual vive há dez anos. O passado nos mostra o quanto Victoria sofreu como órfã, as pessoas ruins que ela encontrou no caminho, e os momentos de tristeza que foram matando a esperança do coração da garotinha. Suas lembranças também mostram que a protagonista tem a possibilidade de encontrar um novo lar – local em que ela é apresentada à linguagem das flores e a emoções que nunca teve a possibilidade de viver. Já com o presente acompanhamos essa jovem mulher, peculiarmente solitária e marcada pelo passado, tentando construir um futuro. E enquanto isso não acontece, observamos Victoria passar por inúmeros altos e baixos, como morar na rua, se alimentar de restos de comida, se deixar engolir pela sensação de solidão, lutar por um emprego quando estudou tão pouco, e aprender a confiar nas pessoas ao seu redor. Sendo assim, por unir passado e presente, fica claro que o grande diferencial da trama é o segredo por trás da história de Victoria, mas o que o leitor demora para perceber – pelo menos não até estar completamente absorvido pela narrativa – é o quão dolorosa a vida dessa jovem foi.
Uma das características mais conflituosas do livro é a personalidade da Victoria. Por ter perdido a fé nas pessoas ainda muito pequena, a começar com a mãe que a abandonou, a jovem tem uma maneira sombria e peculiar de ver as coisas. Não consigo expressar com palavras, mas é óbvio que suas atitudes são lapidadas pelo sofrimento, e é muito doloroso mergulhar em sua mente e em seu dia a dia, afinal ela mostra como as coisas verdadeiramente são. O ponto é que temos uma visão esperançosa de que uma criança, independente de sua criação, pode ser quem ela quiser. Mas o fato é que a história de Victoria nos faz enxergar, mesmo quando não queremos, que a vida real não é assim, que nós refletimos nossa criação, e que mesmo quando transformamos o rumo do nosso futuro ainda carregamos, durante nossa vida inteira, sequelas do passado. Então não posso dizer que essa protagonista é perfeita; sua personalidade é arredia, esquiva, solitária e obscura – fato que, na maior parte do tempo, torna sua narrativa cruel. Contudo, é impossível não se envolver com a história de Victoria, com seu doloroso e marcante passado e, principalmente, com o frágil futuro que ela está construindo.
Além da personalidade da mocinha e de todas as reflexões que ela gera, também gostei do papel que as flores desempenham no desenvolvimento da obra. Victoria tem um problema sério para se comunicar, mas graças às flores sua vida dá uma guinada, e isso acontece exatamente pelo fato dela falar com elas – ela vê nas flores mais do que beleza, vê significados que surgiram na época das cortes da era vitoriana. E essa parte deixa a história menos densa, pois enche a mente do leitor com belas flores, seus significados e mensagens. Graças às flores a história é inundada de paixão, perdão e recomeços.
No geral, a obra é do tipo que fisga o leitor do início ao fim – deixando-nos ávidos para descobrir o desfecho da história de Victoria. Além disso, ao abordar temas complexos e, infelizmente, comuns em nossa sociedade, a autora garante muita emoção e reflexão. Portanto, amei cada detalhe do livro. A trama é mais complexa e tortuosa do que eu imaginei, mas me ganhou por ser real – mesmo quando, no fundo, eu esperava um conto de fadas. Vale muito a pena ler!
Beijos!
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