Sofia Stanton-Lacy é alegre, impulsiva e de uma franqueza desconcertante, características que não combinam com o que se espera de uma mulher em sua posição na sociedade londrina do início do século XIX. Educada durante as viagens de seu pai, órfã de mãe, ela chega à casa de sua tia em Berkeley Square para derrubar as convenções e surpreender a todos com seus modos independentes e sua língua afiada. E Sophy parece ter chegado no momento certo: seus primos estão com muitos problemas. O tirânico Charles está noivo de uma jovem tão maçante quanto ele, já Cecilia está apaixonada por um poeta, e Hubert tem sérios problemas financeiros. A prima recém-chegada decide então ajudar a todos com sua determinação e impetuosidade, e acaba enfrentando agiotas, roubando os cavalos de seu primo e atirando de raspão em um honrado cavalheiro. Embora sejam sempre mirabolantes e arriscados, seus planos sempre dão certo e tudo parece estar sob seu controle. O que ela não espera, porém, é que seu primo Charles, que aparentemente não vê a hora de arrumar um marido para ela, de repente passa a enxergá-la com outros olhos…
Editora: Record l 406 Páginas l Romance Histórico l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Tudo que um romance histórico precisa para me envolver é uma protagonista irreverente e à frente do seu tempo. Sendo assim, meu amor por A Indomável Sofia foi praticamente instantâneo. Com um cenário típico do século XIX – ou seja, cheio de convenções aristocráticas e preconceitos sociais – Georgette Heyer dá vida a uma personagem divertida, cativante, irreverente, manipuladora (da melhor forma possível), e completamente alheia à opinião pública sobre o que é respeitável ou não no comportamento de uma mulher. O que mais surpreende nessa leitura é que, por mais que o romance seja leve e previsível, é perceptível a ironia com a qual a autora repudia o papel feminino imposto pela sociedade inglesa. Sendo assim, amei o teor crítico da história ao mesmo tempo em que me apaixonei por sua narrativa simples e bem-humorada. Fazia tempo que não encontrava uma personagem tão cômica como essa indomável Sofia.
A obra gira em torno de Sofia e do período que ela fica hospedada na casa da tia. A jovem, que foi criada de maneira nada tradicional ao viajar com o pai pelo mundo em suas missões como agente da Coroa, vai passar um período em Londres enquanto o pai embarca em uma perigosa missão no Brasil. A ideia é que ela fique em segurança na casa da tia e, quem sabe, consiga encontrar um bom pretendente para se casar. Segundo seu pai, Sofia é uma jovem tranquila que não afetará em nada as tarefas da tia – porém, talvez essa não seja a melhor descrição. Quando Sofia chega em Berkeley Square ela coloca a casa, a tia e todos os seus primos, de pernas para o ar. Com uma personalidade divertida, com pouquíssima intenção de se preocupar com a opinião alheia, com um time importante e irreverente de amigos, e com língua e mente muito bem afiados, a jovem vai mudar o clima da casa. Antes envoltos em uma nuvem de decoro e falta de alegria, os moradores de Berkeley Square serão acometidos pelo bom-humor de Sofia e embarcarão em muitas aventuras. Sofia está disposta a melhorar a vida da tia e dos primos, por isso ela vai desempenhar de forma incrível seu papel e ajudar a prima a contrair um bom casamento, o primo mais novo a fugir de possíveis agiotas, e o primo mais velho a tirar a carranca e encontrar uma noiva melhor do que a enfadonha songa-monga com quem ele se comprometeu. Se ela vai aprontar? Mais isso não tenham dúvidas!
“(…) Prima, meu tio Horace nos informou que você era boazinha, que não nos causaria problemas. Está conosco menos da metade de um dia. Estremeço ao pensar na devastação que terá provocado no final de uma semana!”
Uma coisa importante sobre a história é que ela foi escrita em 1950. A autora nasceu em 1902 então, por mais que gozasse da recém-liberdade conquistada pelas mulheres, conhecia indiretamente as regras sociais que dominavam o século XIX. Isso significa que Georgette Heyer escreve de uma maneira mais formal e típica do período em que viveu. De início achei que isso seria um problema, que a leitura avançaria em um ritmo lento, porém logo fui conquistada por seus jargões e por suas frases irônicas e críticas. Depois de embarcar na leitura compreendi porque comumente comparam os livros da autora com os da Jane Austen: as duas possuem uma capacidade peculiar de escrever sobre o século XIX com um olhar crítico e aguçado, trazendo mais que histórias de romance ao descreverem os detalhes sociais típicos desse período. Adorei completamente essa característica da narrativa da autora!
Outra coisa que amei, como já citei anteriormente, foi a personalidade da Sofia. A jovem, como um todo, é uma crítica ambulante ao papel feminino no século XIX. Ela é tudo o que as mulheres não podiam ser: divertida, galanteadora, inteligente, manipuladora, dona do seu próprio destino. Em muitos momentos senti uma idealização em sua figura – é difícil imaginar que ela sairia impune de todas suas artimanhas e trapalhadas – entretanto, o fato é que ela não só representa a força da mulher como cativa o leitor no início ao fim. É impossível não se divertir com a forma com a qual Sofia manipula as pessoas ao seu redor para mostrar o quanto elas estão erradas. Sem impor suas vontades e opiniões, ela cria situações para provar seus argumentos, ou seja, a jovem não perde uma oportunidade sequer de mostrar para as pessoas que ama que o que realmente importa na vida não são as convenções sociais ou as regras impostas pela aristocracia, mas sim a felicidade, o acolhimento e o companheirismo. Diverti-me demais com as trapalhadas da personagem, amei a forma como ela se envolve e se doa por seus primos e por sua tia, e amei ainda mais o desabrochar do romance entre ela e um pretendente rabugento e mandão. Pensa em um romance fofo e divertido? Pois bem, é exatamente isso que temos aqui.
Em resumo o livro é bem escrito, fluído (apesar na narrativa mais formal), e extremamente bem-humorado. Gostei tanto da Sofia e de seus familiares que queria mais livros sobre ela e suas artimanhas. Como não existe essa possibilidade, vou me contentar com mais livros da Georgette Heyer – realmente fiquei encantada com sua deliciosa escrita.
Escolhi esse livro para o terceiro tópico do desafio “Históricos & Eu”: Ler um livro ambientado no século XIX.
Beijos!
Comente via Facebook