Guardem as facas, protejam as quinas dos móveis, não mexam com fogo. A temporada de acidentes vai começar. Acontece todo ano, na mesma época. Todo mês de outubro, inexplicavelmente, Cara e sua família se tornam vulneráveis a acidentes. Algumas vezes, são apenas cortes e arranhões. Em outras, acontecem coisas horríveis, como quando o pai e o tio dela morreram. A temporada de acidentes é um medo e uma obsessão. Faz parte da vida de Cara desde que ela se entende por gente. E esta promete ser uma das piores. No meio de tudo, ainda há segredos de família e verdades dolorosas, que Cara está prestes a descobrir. Neste outubro, ela vai se apaixonar perdidamente e mergulhar fundo na origem sombria da temporada de acidentes. Por que, afinal, sua família foi amaldiçoada? E por que não conseguem se livrar desse mal? Uma narrativa sombria, melancólica e intensa sobre uma família que precisa lidar com seus segredos e medos antes que eles a destruam.
Editora: Intrínseca l 256 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Que livro maravilhoso! Desde o início eu sabia que iria me apaixonar por essa história; a mistura de dramas familiares com um toque de fantasia me encanta, principalmente quando o pano de fundo são as dificuldades enfrentadas por um jovem adulto. Não é fácil imaginar um livro que una com maestria fantasia e drama, principalmente quando a fantasia é fruto da mente de um dos protagonistas, mas o ponto é que a escrita da Moïra Fowley-Doyle é exatamente assim: uma união perfeita entre imaginação e realidade. Como bem sabemos nossa mente prega peças e faz de tudo para aliviar a dor causada pela vivência de grandes traumas – até mesmo quando isso significa usar magia para nos enganar, para nos fazer acreditar no que não existe. Sendo assim, em Temporada de Acidentes conhecemos jovens maltratados por anos de perdas e sofrimento, e aprendemos através da imaginação deles que existem inúmeras formas de expressar uma dor.
Outubro começou, o mês mais aguardado e temido do ano, portanto Cara e a família deram início a mais uma temporada de acidentes. Desde que Cara se conhece por gente, todo ano e na mesma época, sua família é acometida por uma inexplicável temporada de acidentes. Nesse período eles redobram sua atenção – usam várias camadas de roupa, tomam cuidado ao sair de casa, guardam todos os objetos pontiagudos e eletrônicos, colocam proteção nas quinas das paredes – mas ainda assim sofrem acidentes: pontos, ossos quebrados e até mortes são normais para esse período. Eles tentam encontrar uma explicação lógica para isso, mas nada justifica o sofrimento gerado por cada uma das temporadas vivenciadas por essa família. Temendo o que virá, Cara e seus irmãos (Alice a irmã mais velha e Sam o irmão postiço) tentam sobreviver aos desastres de cada dia ao mesmo tempo em que: descobrem quem são, quais amizades valem a pena, que tipo de amor desejam viver e, principalmente, os segredos do passado que rondam sua família.
“Nunca saímos de casa sem pelo menos três camadas de roupa. Temos medo da temporada de acidentes. Temos medo da facilidade com que os acidentes se transformam em tragédias. Já passamos por muitas.”
O que mais amei nessa obra foi sua narrativa incomum e extremamente envolvente. Por ser narrado através do olhar de Cara, uma jovem capaz de enxergar o mundo de uma maneira mais mágica, o livro não segue caminhos tradicionais. De início ficamos perdidos tentando descobrir o que é real e o que não é, mas aos poucos vamos compreendendo que a Cara é diferente exatamente por ver além da dura realidade do mundo. E o ponto não é que a jovem leva uma vida permeada de alegria e magia, mas sim que ela acredita em mais do que podemos ver. Existe uma força mística que conduz nossas vidas e Cara tem fé nisso: fé na fantasia, no além, em um motivo maior por trás da temporada de acidentes. Além de uma trama incomum, a narrativa é fluída e cativante ao ponto de não nos permitir interromper a leitura. A história é toda permeada por um grande mistério, algo que desde o começo sentimos que será grandioso, portanto é simplesmente impossível parar de ler enquanto não descobrimos o segredo de Cara e de sua família. E preciso dizer que, por mais que tal revelação não seja inovadora, ela surpreende e rende muita emoção e reflexão.
“Tenho a impressão de que muita coisa não está sendo dita. Acho que minha família toda é assim: evitamos falar das coisas sobre as quais não podemos falar e cobrimos cada superfície para nos proteger do momento inevitável em que tudo virá à tona.”
Por falar em pontos de reflexão, uma das coisas interessantes desse livro é que ele baseia-se em vários tópicos tabus. Seria demais comentar alguns dos temas abordados pela autora, mas posso dizer que todos são incrivelmente reais, sinceros, importantes de serem debatidos, e dignos de reflexão. Amei o fato de a história ser muito mais do que aparenta, dela mexer com nossos corações, dela comover e chocar, e dela focar tanto no amor fraternal quanto no romântico. Até por isso outros pontos positivos são: a relação de amizade entre os irmãos, o romance entre Cara e Sam (irmãos apenas de criação), as banalidades tipicamente juvenis, e a dura realidade por trás de dramas familiares e relacionamentos abusivos. Trata-se de um livro jovem, fácil de ler, envolvente e reflexivo da maneira certa. Simplesmente adorei a trama, os protagonistas (a Cara tem uma mente mais que contagiante), o toque de fantasia da narrativa, e os pontos de reflexão abordados com maestria pela autora.
Penso que a parte fantástica da obra pode afastar alguns leitores ou diminuir o brilho da leitura para outros, mas para mim foi tudo perfeito – do início ao fim. A confusão, a magia, os erros, os conflitos, o perdão e o recomeço… Cara e a família passam por muitas provações, mas eles se mantêm juntos e superam as desavenças graças ao amor. E não tem nada melhor do que ver o amor vencer. Amei, chorei, ri, me envolvi com o casal e adorei a doidinha (às vezes direta, às vezes insegura, às vezes apaixonada e ás vezes distante) da Cara. Acho que quem gosta de livros diferentes e reflexivos precisa dar uma chance para essa autora.
Beijos!
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