Hoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Mas antes ele quer encontrar e se despedir das quatro pessoas mais importantes de sua vida: Walt, o vizinho obcecado por filmes de Humphrey Bogart; Baback, que estuda na mesma escola que ele e é um virtuose do violino; Lauren, a garota cristã de quem ele gosta, e Herr Silverman, o professor que está agora ensinando à turma sobre o Holocausto. Encontro após encontro, conversando com cada uma dessas pessoas, o jovem ao poucos revela seus segredos, mas o relógio não para: até o fim do dia Leonard estará morto.
Editora: Intrínseca l 224 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 4,5/5
Eis um fato sobre mim: amo livro jovens com alto teor reflexivo. Acredito que ao mesmo tempo em que devemos agradecer por termos saído ilesos do ensino médio, também temos que cuidar daqueles que carregam grandes sequelas causadas pelo abuso e por bullying tão comum entre os jovens. Para muitos o ensino médio, ou o período escolar como um todo, é extremamente cruel. Portanto, gosto de livros que falam sobre as típicas dificuldades de um jovem adulto e incitam no leitor a vontade de mudar e de refletir sobre suas ações. Assim, é claro que estava com altas expectativas para a leitura de Perdão, Leonard Peacock. Afinal, Matthew Quick promete discorrer sobre temas complexos e dolorosos que podem levar um jovem a cometer o suicídio – o que por si só foi capaz de alimentar minha curiosidade. Entre grandes expectativas e muitas surpresas, a história do jovem Leonard cumpriu o prometido e, além de me ensinar valiosas lições, foi capaz de marcar meu coração.
A trama gira em torno do aniversário de dezoito anos do Leonard Peacock, dia em que ele decidiu matar um colega de escola – um valentão cruel disfarçado de popular – e se matar. A narrativa mescla: o dia que Leonard está tendo e a forma como ele se despede de algumas pessoas importantes, memórias do personagem sobre fatos e dias fundamentais para sua formação, o passar das horas e o esperado momento em que ele espera atirar no seu alvo e depois explodir seus próprios miolos, e algumas cartas de pessoas do futuro que conhecem Leonardo e apelam para que ele tenha fé e não se mate. Inicialmente, intercalada entre fatos e memórias, a narrativa aparenta ser ilógica e confusa. Entretanto, conforme vamos mergulhando na mente do protagonista, descobrindo os motivos por trás de sua vontade de cometer suicídio e enxergando nele seus verdadeiros medos e anseios, passamos a amar a história e cada um de seus mistérios. – Por que será que Leonardo quer se matar? Por que ele quer matar apenas um determinado colega da escola? E, a pergunta principal, será que ele terá coragem de colocar seus planos de suicídio em prática?
“Eu me sinto como se estivesse quebrado. Como se eu nunca mais pudesse me ajustar. Como se não houvesse mais lugar para mim no mundo ou algo assim. Como se eu tivesse ultrapassado o meu tempo de estadia aqui na Terra, e todo mundo estivesse constantemente tentando me dar dicas sobre isso. Como se eu devesse apenas ir embora.”
O interessante na narrativa é interpretar os apelos por trás da figura de Leonard. Desde o começo senti que o suicídio foi escolhido pelo garoto como válvula de escape, como fuga da solidão, do abandono e desprezo da mãe, dos traumas do passado, e do medo do futuro não melhorar. Portanto, ficou fácil perceber que Leonard está buscando, com todas as forças, um motivo para ter esperança. Mesmo no fundo do poço ele quer acreditar que o futuro será diferente, o problema é que ninguém parece se preocupar o suficiente com ele para conceder ao jovem uma migalha de fé no amanhã. Essa característica, sem dúvida, foi o que mais me marcou: os apelos silenciosos do protagonista, sua forma simples e direta de ver a vida, e suas tentativas desenfreadas de lutar por algo ou por alguém, por qualquer coisa semelhante à felicidade. Leo me deu várias lições; ele me ensinou a valorizar a vida, a aproveitar cada dia que me é dado, a enxergar o quanto a vida é limitada e o quanto é fundamental fazermos o que realmente amamos (principalmente quando o assunto é trabalho), e reavivou em mim a importância de respeitarmos e entendermos às diferenças. Leo é o tipo de personagem que nos faz refletir, mudar e enxergar nossas falhas. E eu amei isso, amei o quanto ele tocou meu coração.
“Feche os olhos e tente ver o mundo com seu nariz — permita que o olfato seja a sua visão. Ponha o sono em dia. Ligue para um velho amigo que você não vê há anos. Arregace as pernas da calça e entre no mar. Assista a um filme estrangeiro. Alimente esquilos. Faça alguma coisa! Qualquer coisa! Porque você inicia uma revolução, uma decisão de cada vez, toda vez que respira. Só não volte para aquele lugar miserável para onde vai todos os dias. Mostre-me que é possível ser adulto e também ser feliz. Por favor.”
“O retorno para casa sempre aumenta minha depressão, porque essas pessoas são livres — estão voltando do trabalho para as famílias que eles mesmos escolheram e constituíram — e ainda assim não parecem felizes. Eu sempre me pergunto se é assim que Linda fica quando dirige até em casa, vindo de Nova York: tão completamente miserável, com cara de zumbi, enganada. Será que ela se parece com a mãe de um monstro?”
Além de um protagonista emocionante e verdadeiro (até mesmo em suas falhas), o livro aborda temas importantes como preconceito, bullying, abandono familiar e suicídio. E o bom é que o autor fala sobre tais assuntos com propriedade e simplicidade, mostrando ao leitor os fatos sem rodeios e meias-verdades; e é disso que precisamos, de livros que falem sobre experiências negativas sem romantização ou dramatização excessiva. Amei essa característica do livro, assim como amei sua narrativa e a personalidade do Leo. O único defeito da obra é o final. Já sabia (ou melhor, tinha quase certeza) como seria o desfecho, portanto não foi a previsibilidade que me irritou, mas sim a maneira abrupta da narrativa terminar. Claro que o autor fez seu ponto e respondeu parte de nossas perguntas, mas sinto que merecíamos saber mais – não só para saciar a curiosidade do leitor, mas também para auxiliar outros jovens na mesma situação.
No geral, apesar do final, o livro é magnífico e reflexivo. Tirei vários ensinamentos da obra e acho que, desde que a leitura seja feita despretensiosamente e livre de julgamentos, a história tem tudo para ficar em nossos corações.
Beijos!
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