Isso é normal? Crescer entre centenas de pessoas com deficiência física e mental, como o filho mais novo do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens? Nosso pequeno herói não conhece outra realidade – e até gosta muito da que conhece. O pai dirige uma instituição com mais de 1.200 pacientes, ausenta-se dentro da própria casa quando se senta em sua poltrona para ler. A mãe organiza o dia a dia, mas se queixa de seu papel. Os irmãos se dedicam com afinco a seus hobbies, mas para ele só reservam maldades. E ele próprio tem dificuldade com as letras e sempre é tomado por uma grande ira. Sente-se feliz quando cavalga pelo terreno da instituição sobre os ombros de um interno gigantesco, tocador de sinos. Joachim Meyerhoff narra com afeto e graça a vida de uma família extraordinária em um lugar igualmente extraordinário. E a de um pai que, na teoria, é brilhante, mas falha na prática. Afinal, quem mais conseguiria, depois de se propor a intensificar a prática de exercícios físicos ao completar 40 anos, distender um ligamento e nunca mais tornar a calçar o caro par de tênis? Ou então, em meio à calmaria, ver-se em perigo no mar e ainda por cima derrubar o filho na água? O núcleo incandescente do romance é composto pela morte, pela perda do que já não pode ser recuperado, pela saudade que fica – e pela lembrança que, por sorte, produz histórias inconcebivelmente plenas, vivas e engraçadas.
Editora: Valentina l 352 Páginas l Drama l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 3/5
Quando finalmente voltará a ser como nunca foi me enganou direitinho. Minha relação com o livro foi do tipo paixão a primeira vista – coloquei os olhos na capa e na sinopse e já sabia, no fundo do coração, que amaria essa história. O problema é que expectativas tão altas assim dificilmente são alcançadas. Imaginei que a história focaria nos dilemas de uma criança criada em meio às particularidades de um hospital psiquiátrico. Contudo, o livro – apesar de trazer uma visão infantil do mundo ao nosso redor – é narrado em tom de memórias, como se o protagonista estivesse relembrando fatos do seu passado na intenção de justificar o presente. Ou seja, ao invés de uma trama infantil e repleta de reflexões, encontrei um livro adulto extremamente dramático, verdadeiramente cruel, e cheio de ponderações sobre os dilemas da vida adulta.
A trama gira em torno de Joachim, o filho mais novo (de um total de três garotos) de um médico psiquiatra. Junto com a mãe e os irmãos, Joachim vive em uma casa construída no terreno do trabalho do pai – o que significa que eles praticamente vivem dentro de um hospital psiquiátrico. Ser criado em meio a pessoas especiais fez de Joachim um garoto diferente; ele viveu experiências inusitadas e fez amizades completamente inadequadas. Contudo, cada uma dessas pessoas marcou a vida desse garotinho e moldou sua vida adulta. Tanto é que, a cada capítulo, ele narra os detalhes do seu dia a dia, ilustrando a vida que teve e sua relação com o pai (uma figura importante e muito presente na vida dos filhos). Aos poucos, Joachim vai detalhando sua visão do mundo, as particularidades da loucura que enxerga nas pessoas ao seu redor, a relação espirituosa que tem com os irmãos, as surpresas reveladas pela mãe aos longos do ano, e o fato do pai ser tanto um exemplo positivo quanto negativo. E tudo isso, essa caminhada de anos que acompanha o personagem desde criança até a vida adulta, para compreendermos o que ele deseja para o futuro.
O que mais gostei na obra foi da oportunidade de mergulhar na rotina da família de Joachim. Desde criança o personagem tem uma visão aguçada das coisas ao seu redor e, mesmo com a pureza de uma criança, narra fatos que tocam nossos corações. Aqui, acompanhamos esse garotinho em um processo de aceitação, de constante comparação com os irmãos, de necessidade de aprovação dos pais, e das infinitas dificuldades típicas de um relacionamento familiar. A trama traz muito da realidade das famílias e dos casamentos, e mostra que nem sempre as coisas são como enxergamos, principalmente quando olhamos com os olhos de uma criança. Joachim é do tipo de narrador que leva o leitor a questionar suas prioridades e certezas, fazendo-nos refletir sobre quem realmente somos quando tiramos as máscaras sociais que vestimos. Gostei disso; gostei da reflexão, do drama, da veracidade e da narrativa simples e direta do protagonista. Além disso, adorei o fato da história ter como pano de fundo a Alemanha e trazer os costumes (principalmente gastronômicos) dessa região.
Entretanto, apesar de ter gostado das reflexões geradas pela história, confesso que não consegui me conectar completamente com ela. O grande problema do livro é que ele não possui um dilema central. De certa forma, a obra não conta com início, meio, clímax e desfecho…Na realidade, trata-se de uma história contemplativa, que vai trazendo várias memórias e situações corriqueiras, que segue acompanhando o crescimento do protagonista, e que só faz sentido nas últimas páginas. No primeiro capítulo até aprece que a leitura seguirá um fluxo normal, porém depois disso começamos a perceber a peculiaridade da narrativa e, pelo menos no meu caso, ficamos irritados por não encontrarmos um propósito para ela. São capítulos e mais capítulos do dia a dia dessa família que, vistos em totalidade, parecem não nos levar a lugar nenhum. Sendo o mais sincera possível, digo que o fato do livro não apresentar um objetivo concreto me incomodou tanto que várias vezes cogitei abandonar a leitura; simplesmente tive que forçar a leitura para conseguir concluí-la.
Queria muito de ter gostado do livro, pois as mensagens que ele traz são valiosas, mas só consegui me conectar com a trama perto do final. E, ainda assim, não posso negar que achei a leitura carregada e cansativa. Como disse, a obra promete valiosas reflexões, portanto vale a pena dar uma chance e descobrir se ela vai conquistar seu coração ou não.
Beijos!
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