Seja quem você é. Quando as pessoas olham para George, acham que veem um menino. Mas ela sabe que não é um menino. Sabe que é menina. George acha que terá que guardar esse segredo para sempre: ser uma menina presa em um corpo de menino. Até que sua professora anuncia que a turma irá encenar “A teia de Charlotte”, e George quer muito ser Charlotte, a aranha e protagonista da peça. Mas a professora diz que ela nem pode tentar o papel porque… é um menino. Com a ajuda de Kelly, sua melhor amiga, George elabora um plano. E depois que executá-lo todos saberão que ela pode ser Charlotte — e entenderão quem ela é de verdade também.
Editora: Galera l 144 Páginas l Infanto-juvenil l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 4/5
George conta a história de uma menina que nasceu com corpo de menino. Através de uma narrativa simples e delicada – do tipo que só crianças conseguem ter –, Alex Gino criou uma história cativante, emocionante e extremamente reflexiva. Inicialmente o foco principal da obra parece estar no fato de George ser transgênero, mas conforme aprofundamos na leitura percebemos que a ideia central do livro é pregar o amor: amor ao diferente, amor ao próximo e, principalmente, amor ao desconhecido. George terá que enfrentar inúmeros desafios em sua vida como menina, e isso com pouco mais de dez anos, mas valerá a pena já que o resultado final será poder sem quem é de verdade.
Desde pequenininha a George soube que era diferente – ela nunca gostou do nome masculino, das suas roupas sem graças, de ter que usar o banheiro dos meninos (que para ela é nojento e não dá um pingo de privacidade) e de tudo no seu corpo que a faz lembrar o quanto é diferente das outras meninas. Suas únicas confidentes, aquelas que realmente entendem os dilemas de ser uma garota, são suas revistas (estilo Capricho) guardadas bem no fundo do guarda-roupa. Toda vez que folheia as páginas, George sente um pouquinho do que é ser uma menina sem medos e preocupações. Mas seus problemas estão para acabar. George está pronta para contar ao mundo – para a mãe, o irmão e para sua melhor amiga – que é uma garota. E a oportunidade perfeita chegou através de uma peça da escola. Sua turma representará A Garota e o Porquinho, uma história que George ama muito, e ela está decidida a conseguir o papel de Charlotte. Claro que nem todos entendem suas escolhas, mas essa garotinha incrível vai provar o quanto estão errados ao mostrar que pode ser uma Charlotte tão incrível como qualquer outra garota da turma.
Desde a primeira página é perceptível que Alex escolheu escrever para o público infantil. Para o leitor mais maduro fica claro que o objetivo do livro é falar sobre temas tabus, como bullying e a questão de gênero, de uma maneira fácil e simples (própria para o entendimento das crianças). Sendo assim, o livro todo é uma tentativa de ajudar nossos meninos e meninas na árdua tarefa de aceitar o diferente, e aceitar no sentido de fazê-las compreender aquilo que não conhecem. Nossa sociedade tem uma mania muito irritante de não debater sobre os temas que fogem da nossa zona de conforto, então livros como esse – diretos e reais – são a chance perfeita de refletirmos sobre assuntos inusitados. Nunca havia lido nada, pelo menos não para o público infantil, que descrevesse a jornada de aceitação de uma protagonista transgênero. E gostei muito da bandeira levantada através da publicação dessa história.
Apesar das reflexões e de saber que o livro é voltado para o público infantil, confesso que esperava um pouquinho mais de aprofundamento. Achei George uma fofa e muitas vezes quis ajudá-la nessa difícil tarefa de ser uma garota (quem é que, aos dez anos, nunca ficou apavorado sem saber o que vestir que atire a primeira pedra), mas senti que ela ainda tinha muito mais a falar e superar. Adorei o fato de o livro narrar os conflitos vivenciados por George por ser uma garota, de falar sobre suas inseguranças ao conversar a respeito disso com a família, e principalmente ao retratar o bullying que qualquer pessoa diferente enfrenta na escola. Porém, senti que esses aspectos poderiam ser aprofundados mais, talvez na intenção de gerar uma maior reflexão por parte do leitor. Mesmo assim, só o fato de falarmos sobre esses temas já torna o livro especial e cativante.
Para aqueles que gostam de crianças fofas e charmosas (que dão vontade de apertar – sim, sou a louca que abraça apertado as crianças) eis uma leitura mais que indicada. E se você quer falar sobre tais temas com uma criança, então eis uma leitura obrigatória.
Beijos!
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