Às vezes, quando nos sentimos mais solitários, o mundo decide se abrir de formas mágicas. Suzy Swanson está quase certa do real motivo da morte de Franny Jackson. Todos dizem que não há como ter certeza, que algumas coisas simplesmente acontecem. Mas Suzy sabe que deve haver uma explicação — uma explicação científica — para que Franny tenha se afogado. Assombrada pela perda de sua ex-melhor amiga — e pelo momento final e terrível entre elas —, Suzy se refugia no mundo silencioso de sua imaginação. Convencida de que a morte de Franny foi causada pela ferroada de uma água-viva, ela cria um plano para provar a verdade, mesmo que isso signifique viajar ao outro lado do mundo… sozinha. Enquanto se prepara, Suzy descobre coisas surpreendentes sobre o universo — e encontra amor e esperança bem mais perto do que ela imaginava. Este romance dolorosamente sensível explora o momento crucial na vida de cada um de nós, quando percebemos pela primeira vez que nem todas as histórias têm final feliz… mas que novas aventuras estão esperando para florescer, às vezes bem à nossa frente.
Editora: Verus l 223 Páginas l Juvenil l Compare & Compre: Submarino • Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5
Não é a primeira vez que digo isso, mas amo livros narrados por crianças. Na maioria das vezes, histórias com personagens infantis carregam uma narrativa simples e direta que incita no leitor grandes reflexões. E o fato é que gosto de tramas que me fazem enxergar o mundo de uma maneira diferente e que, graças ao olhar aguçado e sincero de uma criança, questionam meus valores e modificam minhas prioridades. Desde o início soube que me apaixonaria pela história de Suzy. Ao falar de luto, amizade, bullying, separação e amadurecimento (mais especificamente naquela fase complicada em que saímos da infância e entramos na adolescência), Ali Benjamin conquistou meu coração e me fez mergulhar de cabeça nos dilemas dessa garotinha tão intensa e verdadeira. Amei o livro do início ao fim, mas amei ainda mais Suzy e tudo o que ela representou para mim: um pedacinho da minha própria infância.
Suzy decidiu parar de falar. Desde que sua melhor amiga (ou melhor, sua ex-melhor amiga) morreu, a garotinha percebeu que não gosta de falar bobagens apenas para preencher o silêncio. Assim, sem nada de importante para dizer, Suzy mantém a boca fechada enquanto tenta desvendar os mistérios por trás da morte de Franny. Para Suzy, que conhecia muito bem a antiga amiga, é impossível aceitar que ela morreu afogada – até porque Franny era uma ótima nadadora. Na intenção de desvendar os mistérios dessa morte inaceitável, Suzy mergulha em muitas pesquisas científicas até chegar na melhor opção: sua amiga não se afogou, ela foi picada por uma água-viva mortal! Agora a função de Suzy é provar para todos que coisas assim não acontecem e que essa morte é mais do que aparenta ser.
Suzy é completamente encantadora. No ápice dos seus onze anos, a garotinha vive aquele momento confuso em que meninas começam a reparar em meninos e passam a priorizar a aparência ao invés das antigas brincadeiras. Só que Suzy ainda não chegou nessa fase. Ela continua a mesma, com seu cabelo armado, suas roupas largas, sua vontade de conhecer tudo ao seu redor, e sua mania – agora esquecida – de falar sem para sobre assuntos incomuns (como o fato do xixi ser estéreo, por exemplo). Ela é a menina que sofre bullying por ser diferente, que é constantemente julgada e excluída, mas que ainda assim não deixa que a opinião alheia determine quem ela é. Tudo que Suzy precisa para se manter forte é o amor dos pais, do irmão mais velho e de sua melhor amiga. Só que agora, com a morte de Franny (quando elas ainda estavam brigadas) e a recente separação dos pais, Suzy está completamente sozinha. Confusa, magoada e sem entender muito bem o processo de luto, nossa protagonista volta todas suas energias para as águas-vivas, se esforçando o máximo para encontrar nesses seres ricos e complexos uma explicação lógica para tudo de errado que aconteceu em sua vida. Assim, acompanhamos a jovem em um doloroso processo de superação e descobertas, e isso enquanto descobrimos mais sobre seus medos e os motivos dela e Franny terem brigado.
Amei Suzy com todas as minhas forças. Sua narrativa é cativante, sua forma de ver o mundo é inspiradora, sua ânsia de conhecimento é surpreendente, e suas aventuras são extremamente emocionantes e reflexivas. Ao lado de Suzy, aprendemos sobre aceitação, amizades verdadeiras, luto, amor fraternal e recomeços. Em muitos momentos queria ser capaz de entrar no livro e abraçar essa garotinha, de confortar ela pela morte da amiga, por sua solidão e até mesmo pela separação dos pais. Mas em outros momentos, quem me confortou foi Suzy, com sua força, coragem e vontade de recomeçar. Achei também que, além de criar uma personagem tão maravilhosa, a autora surpreendeu por unir a história de Suzy com a das águas-vivas. Esse aspecto, científico e exato, dá ao livro um ar de magia e sentimentalismo. É através das águas-vivas que Suzy, que decidiu nunca mais falar, conta para os leitores os maiores medos que carrega em seu coração.
“O que você e eu entendemos, Jamie, é que ter veneno não torna uma criatura má. Veneno é uma forma de proteção. Quanto mais frágil o animal, mais ele precisa se proteger. Portanto, quanto mais veneno uma criatura tiver, mais devemos ser capazes de perdoá-la. Elas são as que mais precisam do veneno.”
A obra é rápida de ler, inusitada em sua estrutura de narrativa, cativante graças à personalidade de Suzy, e cheia de reflexões sobre temas reais e atuais. Simplesmente amei o livro. E, exatamente por isso, indico de olhos fechados para qualquer leitor: jovens e adultos, pais e filhos, vilões e heróis.
Beijos!
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