Matt e Laura McCarthy são obcecados pela ideia de herdar a Casa Espanhola — uma construção malcuidada e quase em ruínas no condado de Norfolk, interior da Inglaterra, que tem um valor simbólico para os moradores locais. Para atingir esse objetivo, Laura, a mando do marido, faz todas as vontades do velho Sr. Pottisworth, o proprietário. Entretanto, como o homem nunca deixou nada por escrito, quem acaba por herdar a casa é uma parente distante, Isabel Delancey. Primeiro violino na Orquestra Sinfônica Municipal, em Londres, Isabel tinha uma vida tranquila com seus dois filhos e o marido, mas tudo virou de cabeça para baixo quando ele morreu em um acidente de carro e deixou uma grande dívida. Sua única oportunidade de recomeço é fincar moradia na Casa Espanhola — algo que o casal McCarthy vai tentar impedir a qualquer custo. O som do amor é um romance sobre obsessão, manipulação, segredos e paixões. Por meio de personagens carismáticos e capazes de tudo para realizar seus objetivos, Jojo Moyes mantém seu estilo inconfundível em uma brilhante história de recomeços.
Editora: Intrínseca l 304 Páginas l Romance l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 3,5/5
Não nego que o que mais me atraí nos livros da Jojo Moyes é a promessa de uma narrativa emocionante e reflexiva. Gosto de como a autora escreve com propriedade, e sem deixar a sutileza de lado, a respeito de temas complexos e reais. Tanto é que em O Som do Amor somos incitados a refletir sobre amor fraternal (e até onde vale a pena se sacrificar em nome da união familiar), o valor de uma segunda chance e, principalmente, sobre o tipo de ganância que corrói almas. Assim, ao invés de um romance arrebatador, encontramos a história de pessoas machucadas por um tipo de amor que é cruel, mente, traí e subjuga a pessoa amada. Fato que faz essa leitura ser, antes de qualquer coisa, um tributo aos recomeços que todos nós, maltratados pela vida e pelas escolhas erradas, merecemos.
A história gira em torno da Casa Espanhola – uma construção antiga e maravilhosa (mas que por falta de cuidado está caindo aos pedaços) situada no interior da Inglaterra. O velho proprietário da mansão, um senhor ranzinza e solitário, há anos recebe atenção e cuidado de sua jovem vizinha. Contudo, mesmo que para alguns Laura e Matt pareçam caridosos e amorosos, no fundo tudo o que o casal realmente quer é herdar a Casa Espanhola. Desde que casaram eles planejam a mudança para a casa nova: possui planos para grandes festas, roteiros e poupanças para as reformas necessárias, e até projetos arquitetônicos. Porém, todos os sonhos e esperanças se perdem quando a herdeira da Casa Espanhola chega à cidade. Isabel é uma jovem viúva mãe de dois filhos. Após a morte do marido suas finanças ruíram e, sem condições de manter o padrão de vida que levavam em Londres, resolveu recorrer ao bote salva-vidas que surgiu inesperadamente em seu caminho e mudar para o interior com os filhos. Assim, ao mesmo tempo em que enfrentam o luto, essa família precisará lidar com as dificuldades de morar em uma cidade pequena, de viver em uma casa antiga e que precisa de reformas urgentes (as quais eles não podem pagar) e, principalmente, com a maldade de pessoas gananciosas que os querem fora da Casa Espanhola.
O livro apresenta várias histórias, todas elas interligadas pela Casa Espanhola: os ambiciosos Laura e Matt em um casamento fracassado e praticamente de aparências; os típicos moradores da cidade de interior e como eles são afetados pela chegada de Isabel; a jovem viúva e seu luto recente; os filhos de Isabel e os traumas que eles carregam desde a morte do pai; e as sombras humanas – personagens que ganham forma e nome ao longo das páginas – que almejam a Casa Espanhola por causa de poder e dinheiro. Gostei muito de como a autora apresentou o conceito de posse, mostrando o quanto um bem material pode corromper a alma humana. Foi incrível ver tudo o que esses personagens estavam dispostos a fazer para ter tal casal, ao mesmo tempo em que foi doloroso perceber o quanto a mente humana é suscetível ao erro.
Contudo, o grande charme da obra está na personalidade conflitante de Isabel e no quanto podemos sentir suas inseguranças e medos a cada página lida. Eis uma mulher completamente perdida; seu marido era o grande responsável pela casa e até mesmo pela união familiar, então tudo o que Isabel precisava fazer era amá-los tanto quanto amava a música (a jovem é uma violinista completamente apaixonada por sua profissão, então muitas vezes perdia-se entre músicas e partituras, esquecendo-se das obrigações familiares). Porém, agora que está sozinha ela tem que lidar com dinheiro, com a mudança de lar, com o desemprego, e com o fato de não conhecer seus filhos tão bem quanto deveria. E o ponto é que Isabel não é uma mãe exemplo, pelo menos não do tipo perfeita e que faz tudo em nome da família. Ela erra, se prioriza em muitos momentos e, na grande maioria das vezes, quer fugir para o violino e esquecer das responsabilidades. Ela é humana e amei muito isso. Amei como essa mulher é forte mesmo em suas fraquezas, e como ela quebra paradigmas sobre o significado da maternidade nos dias atuais. Achei válido que Isabel ame seus filhos, lute por eles e demonstre esse amor aos poucos, mas também achei incrível que ela se ame ao ponto de saber que precisa de um tempo só para ela e para o violino, um tempo em que ela não é mãe ou esposa, mas apenas música.
“Desconfiava que os filhos estivessem gostando dessa nova mãe. Passara a fazer vários pratos decentes, arrumara a ala leste da casa, proporcionando um clima acolhedor aos cômodos que não estivessem cobertos de plástico e cheios de andaimes. Ajudava, até onde fosse possível, com os deveres de casa. Estava presente o tempo todo. Mas eles não sabiam que ela estava muito irritada por aquilo nunca ter fim.”
Achei a jornada de Isabel incrível. Graças a Casa Espanhola ela amadurece, cria forças para superar o luto, passa a conhecer melhor os filhos e, principalmente, a ouvir o próprio coração e entender seus sonhos como mulher. Contudo, não posso deixar de dizer que a narrativa lenta e detalhada fez com que eu não me conectasse completamente com a leitura. Consegui tirar valiosos ensinamentos dela, mas faltou profundidade, emoção e um toque de magia. – Sabe quando a leitura é boa mas não fala diretamente com o seu coração? Pois bem, foi assim que me senti ao terminar O Som do Amor. Queria um pouco mais de sentimento, então apesar de ter adorado os dilemas de Isabel confesso que não consegui amar plenamente o livro e o que a Casa Espanhola representa para cada um dos protagonistas da obra. Ainda assim, vale a pena dar uma chance a essa história – tanto pela personalidade cativante da Isabel quanto pela escrita reflexiva típica da incrível Jojo Moyes.
Beijos!
Comente via Facebook