Ao descobrir que seu marido está gravemente doente. Mariana volta para a fazenda onde cresceu. Apesar de saber que a doença de Paulo é incurável, ela tem esperança de que juntos possam encontrar uma alternativa que prolongue o tempo de vida dele. Um acontecimento inesperado faz a vida de Mariana virar de pernas para o ar. Ter um filho se torna imperativo. E com a ajuda de Pedro, administrador da fazenda e primo de Paulo, ele irá enfrentar os segredos do passado e os desafios que a vida – e Paulo – a impõem. Um filho para Mariana nos leva a uma viagem no tempo, a uma época em que temas como casamento, aborto, sexo e homossexualismo não eram abertamente discutidos, nos fazendo refletir a respeito das mudanças em nossa sociedade e ver que o amor é capaz de surgir nas situações mais inesperadas.
Amazon Books (Disponível no Kindle Unlimited) l 316 Páginas l Romance Contemporâneo l Compare & Compre: Amazon l Skoob l Classificação: 4,5/5
Que delícia de livro. Comecei a leitura de Um Filho para Mariana sem pretensão nenhuma e, quando menos esperava, já estava encantada pela trama. A escrita da Vanessa Cardoso possui uma característica que, muito tempo atrás, foi o que me fez amar os romances: fluidez. Não adianta negar, às vezes tudo o que queremos é uma história fácil e gostosa de ler – e é exatamente isso que encontramos na obra! Inicialmente o livro me lembrou meus amados e queridos romances de banca, que são rápidos e romanticamente previsíveis, contudo ao decorrer das páginas fui surpreendida por encontrar uma leitura dramática e reflexiva. Aqui, além do romance contagiante, discutimos temas importantes como homossexualidade, preconceito, suicídio, aborto e doenças sexualmente transmissíveis. Ou seja, é impossível não se encantar com todas as facetas que essa história esconde.
O ano é de 1988. Mariana está feliz e casada com Paulo, seu melhor amigo desde a juventude. A jovem teve uma infância pobre e abusiva mas, contra todas as expectativas, conseguiu mudar de vida ao encontrar seu salvador. Ao lado de Paulo ela abandonou os demônios do passado, construiu uma nova família, virou enfermeira, e leva uma vida feliz na capital – a única coisa que ela ainda não tem é um filho. E é aí que o destino resolveu agir. De repente Mariana fica presa em um testamento nada comum no qual precisará engravidar antes do prazo de quinze meses (o que deveria ser fácil, mas não é, pois Paulo não pode ter filhos no momento). E, enquanto decide a melhor maneira de realizar esse sonho, a jovem retorna para sua cidade natal na intenção de enfrentar todas as mágoas que manteve escondidas em seu coração.
“Fiquei pensando que, lá no fundo, ninguém dizia muito a verdade. As imposições do certo e errado e os padrões sociais que nos fazem ser aceitos ou não, acabam fazendo as pessoas esconderem os supostos defeitos para não serem julgadas.”
Quis manter o suspense com uma sinopse bem simples e que não representa tudo o que esse livro traz. Ainda assim, o mais importante aqui é deixar claro que Mariana é uma mulher forte que passou por várias dores e provações e que, ainda assim, nunca deixou de ter esperança. Seu sonho sempre foi ter um filho e seu marido, mesmo incapaz de ajudá-la diretamente, decidiu embarcar com ela nessa empreitada e fazer esse sonho acontecer (mas pode ter certeza que Paulo prepara algo surpreendente e que NUNCA iríamos imaginar). Nesse ponto vale dizer que senti na obra algo que amo: aquelas artimanhas típicas de novela, de alguns romances de banca, ou até menos dos livros da Nora Roberts. Nós sabemos o que vai acontecer e entendemos os motivos por trás de cada artifício usado pelo autor, mas ainda assim não conseguimos deixar de gostar da leitura. O fato é que esse toque de previsibilidade não diminuiu a intensidade do romance, muito pelo contrário, torci com todas as minhas forças para que Mariana fosse recompensada e, finalmente, tivesse seu final feliz. Ainda sobre isso é importante dizer que o romance é intenso e fofo, cheio de paixão e descobertas, e do tipo que cresce no dia a dia, nos momentos compartilhados e, principalmente, nos diálogos. Amei como o casal conversa, discute e faz um esforço para superar suas inseguranças.
Mas o livro vai muito além do drama, das artimanhas e do romance fofo e previsível, afinal desde o começo fica claro que a ideia da autora é discutir e quebrar preconceitos. Quando Mariana retorna para sua cidade natal, aquela típica cidade fofoqueira e preconceituosa do interior (não que todas sejam assim), a jovem é constantemente confrontada pelos ideais de pessoas que não entendem ou aceitam o diferente – e isso em 1988, quando os preceitos de certo e errado eram ainda mais duros e grosseiros do que hoje. Portanto, o livro fala sobre homofobia, traição, fofoca, aborto, e até mesmo sobre os tabus que giram em torno do sexo. Fala sobre aqueles temas que não podíamos discutir abertamente porque a sociedade ditava que era errado, principalmente quando vindos de uma mulher. Assim, achei linda a maneira como Mariana enfrenta as dificuldades da vida no interior de cabeça erguida e, mesmo com sua personalidade mais calma e reservada, não deixa de lutar pelo que acha certo e por aqueles que ama. E achei ainda mais lindo as mensagens que a autora passou sobre aceitação, perdão, superação do luto e luta pela igualdade de direitos.
O livro é rápido e gostoso de ler, tem um romance bem fofo e cativante (e sensual!), e aborda temas reflexivos e – infelizmente – reais. Torci por Marina e me emocionei muito com sua jornada. Minha única ressalva é que a obra tem um público certo: aqueles que gostam de romances, sejam eles clichês ou não. Digo isso por é importante salientar que o livro tem seus pontos altos e baixos, mas que eles são esquecidos pelo leitor que conhece esse tipo de história e entende que é exatamente assim que ela deve ser: dramática, sensual, reflexiva e um tiquinho previsível. Então se você gosta de romances fluídos e cativantes, dê uma chance para a escrita da Vanessa, vale muito a pena! Agora se você não gosta desse tipo de leitura, vá com calma, crie poucas expectativas e deixe-se levar pela bela mensagem que a autora quis passar.
PS. Pode ser um spoiler, mas acho MUITO importante falar que esse livro aborda a AIDS e como ela foi vista em 1988: como uma doença do pecado e que não era digna de cura. É o segundo livro que li sobre o tema, e amei o posicionamento da autora.
Beijos!
Comente via Facebook