Sorrisos Quebrados gira em torno de três personagens: a jovem Paola, a pequena Sol e seu pai, André. Os três são vítimas de violências distintas, que deixaram marcas profundas em cada um. Trata-se de uma história de superação de dores, magia, estrelas e de como importantes laços humanos podem se formar a partir da autoaceitação, da arte e da tolerância no cotidiano.
Editora Valentina l 240 Páginas l Romance Contemporâneo l Compre: Saraiva • Amazon l Skoob l Classificação: 5/5 ♥
Ainda surpreendo-me com o quanto vocês me conhecem. Na época em que Sorrisos Quebrados virou fenômeno de vendas na Amazon recebi dezenas de e-mails e comentários indicando a história de Paola e André (lembro de ter lido várias vezes a frase da protagonista ser uma Paola e de vocês terem associado nossos nomes). Por isso, quero começar essa resenha dizendo muito obrigada. Sou grata aos comentários e indicações de vocês, principalmente porque depois de tantos apelos dei uma chance para essa história e, como já era de se esperar, acabei completamente apaixonada.
Paola é uma vitoriosa. Ela começa o primeiro capítulo narrando o dia em que tudo mudou: quando a violência cometida pelo marido chegou a níveis absurdos e quase tirou sua vida – por um momento, Paola acredita que morreu e que a dor chegou ao fim. Entretanto, ao final desse capítulo mergulhamos no presente, momento em que a jovem está em uma clínica de recuperação em São Paulo, tentando dia após dia superar os anos de trauma, espancamento e abuso. Graças ao tratamento médico, Paola encontrou diversas maneiras de esquecer o que o marido fez com ela, mas ainda existem bloqueios dolorosos que a mantêm presa a ele: a imagem que vê no espelho e cada cicatriz que marca e deforma seu rosto; a lembrança dos tapas, chutes e socos; a insegurança de sair da clínica e enxergar nos olhos dos outros sua feiura e imperfeição; e, principalmente, o medo de confiar e amar – ainda mais quando o assunto são homens. O fato é que o tempo de tratamento curou muita coisa do coração dessa mulher, mas existem feridas que precisam ser enfrentadas, e isso só acontece quando André e Sol aparecem em sua vida. Pela primeira vez em anos Paola vai colocar a segurança de outra pessoa em prioridade e, ao se entregar em nome da felicidade de uma garotinha, vai descobrir como quebrar as amarras que a prendem na escuridão do passado.
André é o segundo narrador dessa história (que é contada em primeira pessoa de forma intercalada entre mocinho e mocinha). Ele visita a clínica por conta de sua pequena filha, a Sol, e em uma dessas expedições tem o caminho cruzado com o de Paola. Entre eles vai existir desconfiança, medo – porque um relacionamento, mesmo que seja uma amizade, pode ser motivo de dor para ambos – e, perigosamente, um desejo físico incontrolável. Unidos pela força desse sentimento, Paola e André encontrarão um no outro o que mais precisam. E isso significa que a autora trabalha com algo que eu adoro: o poder de cura que só o amor tem. Mas o mais maravilhoso é que entre o casal não existe um amor idealizado que apaga tudo, mas sim um sentimento que dá a eles força suficiente para lutar, mesmo quando a dor é insuportável. Através desses dois percebemos que a fé no amor, mesmo quando não apaga o passado, é capaz de mover montanhas e construir caminhos para um futuro feliz e belo.
O livro me prendeu do começo ao fim. Comecei a lê-lo com lágrimas nublando a visão e o coração angustiado, e terminei em lágrimas novamente, mas dessa vez de felicidade e esperança. A história traz uma mensagem belíssima sobre amor próprio e perdão. E reflete uma realidade dura e real, como a das milhares de mulheres presas em um casamento de fachada, cheio de dominação e agressão. Paola é extremamente palpável, e acho que isso que torna sua história tão cativante e emocionante. Sofri muito com suas inseguranças e emoções. Assim como vibrei com cada uma de suas vitórias: sentir-se desejada, aceitar seu corpo e os inúmeros significados de beleza, decidir confiar e arriscar, e aceitar o passado para seguir em frente. A Paola foi abusada de tantas formas, aprendeu com seu marido que era tão inadequada e feia, que precisou de muita ajuda para olhar no espelho e enxergar um corpo natural, real e seu. Senti que esse toque trouxe algo muito importante para o livro e que vejo a necessidade de frisar: não importa o que o mundo diga – marido, colegas, amigos, familiares e até mesmo revistas de moda – é como você se enxerga que define o que é ser bonita ou não.
Outras coisas bonitas do livro: o toque artístico (Paola pinta, então a trama tem um teor de cores, telas e tintas que brilham no escuro); a história que André tem para contar (que também aborda outros temas tabus e dolorosos); as cenas sensuais (que refletem amor, libertação e desejo – e tudo de uma maneira suave e nada apelativa); e uma das crianças mais fofas e maravilhosas do mundo literário. Sério, Sol é maravilhosa! Gostaria muito de vê-la como protagonista de uma das próximas histórias da Sofia.
Acho importante dizer que a autora tem uma narrativa emocionante e direta. Por isso o livro é tão impactante e rápido de ler, são capítulos certeiros e sem muito vai e vem. E eu gostei disso, gostei da narrativa ser mais fluida e rápida e, principalmente, dessa característica não diminuir a força da mensagem por trás da história. Porque mesmo que eu a tenha devorado, sem dúvida a levarei comigo para onde quer que eu vá. Paola me ensinou que enxergar a beleza através dos olhos de outras pessoas pode sim nos ajudar a curar traumas e dores, que não adianta o tamanho do seu tombo porque você sempre será capaz de se reerguer e, principalmente, que o mundo é feito de segundas chances e que vale a pena arriscar e recomeçar.
Amei o livro, muito. Foi impactante, real e extremamente emocionante conhecer esses dois personagens. Também amei encontrar a Sofia pessoalmente (viram no último vlog da Bienal?) e ver o quanto ela é uma pessoa iluminada. Espero que minhas histórias, assim como as dela, espalhem pelo mundo essa mensagem tão linda de pertencimento, beleza real e alcançável, e amor.
Beijos!
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