Olá, essa semana realizei minha primeira entrevista como blogueira (o//) e para comemorar criei uma nova coluna para o blog – “Fuxicando – Papo com o Autor”. Acredito que essa interação entre leitor e escritor é fundamental, por isso espero que vocês gostem da nova coluna, prestigiando os autores entrevistados.
O autor entrevistado foi o Diogo de Souza, que foi muito atencioso respondendo minhas perguntas. Muito obrigada Diogo!
Mas antes, que tal conhecer um pouco mais sobre ele e seu trabalho?
“Nascido em São Paulo, Diogo de Souza começou escrevendo peças para teatro e diversos artigos para revistas. Em 2005, estimulado por um amigo, deu forma à história de Fuga de Rigel, que o perseguia incansavelmente há vários anos. Ávido jogador de RPG, também fez breve carreira como ator e diretor de teatro, dos quais nunca perdeu o gosto. Hoje, trabalha como consultor em engenharia de sofware. Em seu primeiro romance, Diogo nos transporta para o mundo dos poderes paranormais e fundações secretas. Através de Rigel, acompanhamos a saga de um jovem telecinético em busca dos laços que o definem, da família que nunca conheceu, e da redescoberta de seus próprios valores.”
Livros:
Entrevista:
1- Como foi o processo de se tornar escritor?
Não dá pra dizer “como foi”, porque isso implicaria que ele já acabou: que eu já sou escritor e pronto. O processo “está sendo”, ele ainda está em andamento e acho que nunca vai acabar. Escrever é uma dessas coisas que você começa e não termina nunca, porque sempre você está aprendendo mais, vendo mais, compreendendo mais e se aprimorando mais.
Até aqui tem sido bem gostoso. O início foi uma coisa gradual. Tão gradual que eu nem percebi. Eu comecei a pegar gosto pela escrita há muito tempo, mesmo. Quando era adolescente, arrisquei escrever um livro, mas eu mesmo achei tão ruim que não tive ensejo de levá-lo adiante.
Anos se passaram até que um amigo meu me estimulasse a escrever outra coisa, mas não foram anos vazios, também. Eu sempre li muito, comentei muito, e tinha o hábito de analisar o que lia. Isso é uma coisa que constrói bagagem literária e apura o senso crítico. Quando eu me pus a escrever o “Fuga de Rigel”, em 2005, pude ver que havia um abismo de diferença para o livro que escrevi vinte anos atrás.
E de lá para cá, muito mais progresso também. Cada livro novo que eu leio adiciona um pouco ao meu repertório literário, e cada livro novo analisado me ensina um pouco mais sobre como contar histórias.
Vamos fazer assim: uns 3 minutos antes de eu morrer, me faz a pergunta de novo. Aí eu vou poder dizer “como foi”. Por enquanto, está sendo uma viagem sem igual.
2- Quais são suas principais referencias literárias?
Acho que o livro que gerou impacto mais profundo em mim nos últimos anos foi a série “A Game of Thrones”. Sem dúvida, O Martin está no topo da minha lista de melhores escritores. Não é o único, também. Eu sou um fã de carteirinha de Harry Potter, e acho que a Rowling não só evoluiu muito ao longo da série, mas também criou uma mitologia fantástica (figurativa e literalmente).
Quem não leu os livros da série “Amber” do Roger Zelazny, deveria ler. É uma fantasia inclassificável, mas deliciosa! E os cinco livros escritos pelo Timothy Zahn que continuam a história de “Guerra nas Estrelas” também são uma ótima leitura até para quem não é fã.
Para uma série de fantasia que mistura o místico com drama emocional e muita sutileza na narrativa, não percam os livros de Terramar da “Ursula K. Le Guin”, uma série admirável em todos os aspectos.
“O caçador de Apóstolos”, do Leonel Caldela, me impressionou muito bem, e é um grande exemplo de ótima literatura nacional de fantasia. E posso citar também qualquer livro da Clarice Lispector, na minha opinião a melhor contadora de histórias em língua portuguesa.
3- Como surgiu a inspiração principal para suas estórias?
Então… não sei. Se tivesse assim, que dar uma resposta (e tenho), eu diria que vem da fronteira entre meus sonhos e desejos, no meio caminho entre o vazio e a plenitude. Acho que a inspiração é filha da necessidade sincera com a observação inconsciente.
Preciso explicar? Acho que sim, nem que seja para mim.
Eu acho que antes de haver uma inspiração, é preciso haver uma forte vontade de transmitir algo, de passar um sentimento, uma idéia ou um conhecimento. Essa necessidade, quando é sincera, busca nas nossas memórias inconscientes (sem que a gente queira), as referências das coisas que gostamos. Então, quem gosta de histórias policiais, tem idéias para histórias policiais. Quem gosta de romances históricos, vai pensar mais por essa linha.
Eu sou muito atraído pelo lado sobrenatural da vida: o subentendido, o não explicado, o mágico. Então, quando me vem uma história na cabeça, é normal que seja nesse tipo de cenário.
4- No longo processo de criação, o que você gosta de fazer para se concentrar no fluxo da estória?
Normalmente eu me coloco em silêncio – o máximo que eu posso, e uma vez lá eu fico pensando na trama que estou montando. Eu quebro a trama na minha cabeça, personagem a personagem, motivação a motivação. Fico brincando de ligar os pontos da história que eu estou construindo, e quando acho um ponto que está faltando – um ponto falho – eu me apresso a corrigi-lo. Mentalmente.
Só abro o word mesmo quando eu tenho uma boa idéia de como vou conduzir o livro: quem são os protagonistas, como a história vai se desenrolar, como será o final. Meu trabalho no micro é mais para polir a história do que para colocá-la de pé. Isso eu faço na minha cabeça
Ás vezes leva horas para fazer isso, outras, leva meses. Cada história tem seu tempo.
5- O que mais gosta no seu trabalho?
O que eu MAIS gosto é justamente esse momento inicial, em que eu estou criando tudo do zero, e as vezes tenho que voltar ao zero para pensar em como melhor transmitir aquele idéia, sentimento, imagem que me motivou.
Mas é uma escolha difícil! Tem muita coisa boa no processo de escrever um livro. Ver as cenas tomando forma diante de você é um deleite. Colocar o ponto final é uma alegria. Pegar o livro na mão, publicado, é inigualável.
6- Como leitora, o eu que mais gosto em uma obra são os personagens e o cenário da narrativa. Dentre seus três romances já escritos (Para quem não conhece: Nêmesis, O Retorno de Astarot, A Fuga de Rigel e o Abascanto) qual é o cenário mais inusitado sobre qual escreveu? E existe um personagem com o qual possuí um carinho especial, se sim qual?
Acho que, inusitado… o mais inusitado é o cenário de Abascanto, porque é um cenário fictício que não tem vampiros, lobisomens, magos, fadas, demônios ou anjos (de certa forma). É uma coisa nova. Os grigori e os caídos são invenção minha, e Abascanto acabou sendo, dos meus livros, o mais “autoral”, o que eu menos emprestei conceitos de outros cenários.
De cada personagem a gente gosta um pouco por algum motivo (se não, não o teria criado), mas como escritor, o personagem que eu mais gostei até agora foi o Érico, de Abascanto, justamente porque é o meu protagonista mais falho – o que tem mais defeitos, e cujos defeitos mais interferem na história. Por conta disso, acabou sendo o mais humano.
7- Fale um pouco sobre seu novo livro: Nêmesis, O Retorno de Astarot.
“Nêmesis” conta a história de uma família de magos, os “Masters”, que em 1875 aprisionou um dos maiores demônios que havia: Astarot. Recentemente, uma das bruxas da família profetizou que Astarot irá retornar, e o instrumento de sua libertação será uma jovem chamada Isabela Zuckermann.
Isso faz com que os seguidores de Astarot desejem protegê-la a todo o custo, e os demais magos da família tentem matá-la. A pobre Isabela nem tem idéia do que está acontecendo e logo vai ver sua vida de pernas pro ar com o peso da profecia guiando seus passos.
Ao mesmo tempo, acompanhamos a história de Ariel Waite e Mark Masters, em 1875, conforme eles confrontam Astarot na tentativa de aprisioná-lo. Os eventos de 1875 estão intimamente ligados com o que acontece com Isabela hoje, e conforme os segredos sobre a prisão do demônio são revelados, Isabela aprende cada vez mais sobre magia, sobre seu passado, e o que realmente importa na sua vida.
8- Deixe um recado para os leitores do blog Livros & Fuxicos.
Foi um prazer responder a esta entrevista. Se vocês gostarem de “Nêmesis”, não deixem de curtir meus outros dois livros também: “Fuga de Rigel” (www.fugaderigel.com.br) e “Abascanto, a sombra dos caídos” (www.abascanto.com.br).
Boas leituras a todos, e nos encontramos por aí no universo de algum escritor.
Abraços,
Diogo
Twitter: @DiogoDeSouza
Novamente, muito obrigada Diogo!
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