leitores para mundos, épocas e sociedades distintas. Cada palavra lida é uma
revelação não apenas sobre o cenário criado, mas também sobre a alma do
escritor, seus gostos, preferências e experiências, fator que nos faz
compreender com exatidão que a leitura é um processo continuo de comunicação atemporal. Afinal esse é o
charme das palavras, sua imortalidade, graças a elas os livros são, antes de
qualquer coisa, fontes genuínas de diálogos culturais, que apresentam emoções,
situações e reflexões de um homem, o bem-aventurado escritor, para milhares de
leitores espalhados pelos quatro cantos do mundo.
governamentais, ou até mesmo os detalhes como o vestuário, os alimentos e a
fauna exótica ao seu redor. – Antes de falar sobre o que seus olhos veem, é
preciso interpretar tal cenário, sentir na pele para onde ele te leva, até onde
sua imaginação vai, não é mesmo? Se pensar sobre isso é enriquecedor, imagine
então escrever sobre tantos detalhes, o quão gigantesco deve ser absorver o
mundo ao seu redor, ou interpretar um universo novo criado por sua imaginação,
para então transformá-lo em palavras a fim de compartilhar essas informações
com a sociedade. Essa é a mágica de escrever, descodificar imagens aleatórias
em palavras, transformando-as em um retrato que não se desbota, não se perde, e
muito menos deixa de ter sentido com o tempo.
Eis o ponto ao qual quero chegar, se o ato de escreve é, em suma, a pura
intenção de compartilhamento, adentramos em um círculo vicioso (e delicioso) de
informações. O primeiro comunicador é o autor, que com palavras descreve os incontáveis
sentimentos que o envolvem; o leitor, aquele que recebe tal mensagem, ao lê-la
a interpreta e codifica à sua maneira, compreendendo a mensagem do escritor e acrescentando
a ela seu próprio ponto de vista, e então, quando ele resolve escrever sobre
essa mesma mensagem e transmiti-la sob uma nova visão ao mundo, temos um novo
compartilhamento de informações, fator que se segue com o leitor que lê tal
comentário e depois resolve que também quer falar sobre ele, e assim por
diante. Entenderam como tal processo de comunicação é infinito? No início do
século XIX Jane Austen publicou seu primeiro livro, e cá estamos nós, ainda, a
falar e discutir sobre suas obras. Realmente essa teia de diálogos, feedbacks e
informações é imortal, e o cerne da
questão é que, tal ciclo permite um infinito reposicionamento de papéis, de
forma que o leitor constantemente tende a se tornar seu próprio autor.
Críticas bem fundamentadas, pontos de vistas inusitados e fortemente
fundamentados teoricamente? Talvez sim, mas se nos concentrarmos exclusivamente
em um tipo específico de leitor, aquele apaixonado pelos livros, teremos
um autor como nenhum outro, um que escreve sobre o que lê, criando um mundo
novo a partir do seu próprio mundo literário. Quer alguns exemplos? Leia um
livro do Zafón e mergulhe em suas infinitas citações literárias, ou em seu
universo desconhecido intitulado ‘Cemitério
dos livros esquecidos’, ou ainda, leia o Chick-Lit ‘Ler, viver e amar’ e se
surpreenda com tamanha riqueza de fontes literárias e com a destreza das
autoras em descrever com palavras a imensidão de sentimentos que um amante dos
livros carrega no peito.
se equivocou e que, na verdade, o homem descende dos cães, porque oito entre
dez hominídeos já fizeram alguma cachorrada que ainda não foi descoberta –
argumentava. – Prefiro quando você expressa uma visão mais humanista e positiva
das coisas, Fermín. Como no outro dia, quando disse que no fundo ninguém é mau,
apenas tem medo. – Deve ter sido uma queda do açúcar no sangue. Uma completa
bobagem.”
alguma mulher ávida de literatura e de emoções fortes não entrava para comprar?
Dizem os entendidos que o futuro da literatura está nas mãos das mulheres
(…)”
compram bolsas de grife. Às vezes, só
gosto de saber que os tenho e lê-los de fato
não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os
leio. Mas o mero ato de comprá-los me
deixa alegre – o mundo é mais promissor, mais
satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais
otimista. A totalidade do ato
simplesmente me faz feliz”.
seus livros cobertos (e não porque são romances), usam marcadores de página e
absolutamente nunca deixam o livro tocar o chão. Eles olham para o livro como
se fosse um ser com sentimentos, um objeto de desejo vivo, que respira, que
precisa ser tratado com absoluto respeito. Eles leem cada palavra, até mesmo as
notas de pé da página.”
e encantadores, nos quais os autores citam infinitas experiências literárias ao
ponto de compartilharem com o leitor o sentimento inicial que tiveram
quando leram tais obras. Ora, me digam se isso não é grandioso? Você lê um
livro e se depara com infinitas menções sobre outras obras, percebendo não
apenas como tais histórias influenciaram o livro que você está lendo, mas
também como elas incitaram em você a vontade de ler e descobrir por si mesmo,
os mistérios dessas obras.
infinitas alusões sobre as histórias de Dante? Que Crepúsculo me levaria a ler
o livro ‘O monte dos Ventos Uivantes’; Que o romance de banca ‘Uma noite Proibida’
iria ressaltar as qualidades dos livros de Austen, e ainda que a série ‘Os
encantados de Ferro’ é inspirada no livro ‘Sonho De Uma Noite De Verão’ do William Shakespeare? São livros
falando de livros, histórias compartilhando histórias, leitores virando autores.
círculo virtuoso e vicioso de constante compartilhamento de opiniões, não
concordam? E isso é ainda mais maravilhoso quando tratamos da menção de livros,
indicações que nunca serão perdidas e que nos lembrarão, mesmo em tempos
futuros, das memoráveis obras do passado.
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