março 22, 2013

Círculo vicioso: Livros que falam de Livros

Todos nós sabemos que a leitura derruba fronteiras, transportando os
leitores para mundos, épocas e sociedades distintas. Cada palavra lida é uma
revelação não apenas sobre o cenário criado, mas também sobre a alma do
escritor, seus gostos, preferências e experiências, fator que nos faz
compreender com exatidão que a leitura é um processo continuo de
comunicação atemporal. Afinal esse é o
charme das palavras, sua imortalidade, graças a elas os livros são, antes de
qualquer coisa, fontes genuínas de diálogos culturais, que apresentam emoções,
situações e reflexões de um homem, o bem-aventurado escritor, para milhares de
leitores espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Imagine-se em uma época distinta, absorvendo as diferenças culturais e
governamentais, ou até mesmo os detalhes como o vestuário, os alimentos e a
fauna exótica ao seu redor. – Antes de falar sobre o que seus olhos veem, é
preciso interpretar tal cenário, sentir na pele para onde ele te leva, até onde
sua imaginação vai, não é mesmo? Se pensar sobre isso é enriquecedor, imagine
então escrever sobre tantos detalhes, o quão gigantesco deve ser absorver o
mundo ao seu redor, ou interpretar um universo novo criado por sua imaginação,
para então transformá-lo em palavras a fim de compartilhar essas informações
com a sociedade. Essa é a mágica de escrever, descodificar imagens aleatórias
em palavras, transformando-as em um retrato que não se desbota, não se perde, e
muito menos deixa de ter sentido com o tempo. 



Eis o ponto ao qual quero chegar, se o ato de escreve é, em suma, a pura
intenção de compartilhamento, adentramos em um círculo vicioso (e delicioso) de
informações. O primeiro comunicador é o autor, que com palavras descreve os incontáveis
sentimentos que o envolvem; o leitor, aquele que recebe tal mensagem, ao lê-la
a interpreta e codifica à sua maneira, compreendendo a mensagem do escritor e acrescentando
a ela seu próprio ponto de vista, e então, quando ele resolve escrever sobre
essa mesma mensagem e transmiti-la sob uma nova visão ao mundo, temos um novo
compartilhamento de informações, fator que se segue com o leitor que lê tal
comentário e depois resolve que também quer falar sobre ele, e assim por
diante. Entenderam como tal processo de comunicação é infinito? No início do
século XIX Jane Austen publicou seu primeiro livro, e cá estamos nós, ainda, a
falar e discutir sobre suas obras. Realmente essa teia de diálogos, feedbacks e
informações é
imortal, e o cerne da
questão é que, tal ciclo permite um infinito reposicionamento de papéis, de
forma que o leitor constantemente tende a se tornar seu próprio
autor.
Então, se o leitor se faz escritor, o que podemos esperar de seus textos?
Críticas bem fundamentadas, pontos de vistas inusitados e fortemente
fundamentados teoricamente? Talvez sim, mas se nos concentrarmos exclusivamente
em um tipo específico de leitor, aquele apaixonado pelos livros, teremos
um autor como nenhum outro, um que escreve sobre o que lê, criando um mundo
novo a partir do seu próprio mundo literário. Quer alguns exemplos? Leia um
livro do Zafón e mergulhe em suas infinitas citações literárias, ou em seu
universo desconhecido intitulado ‘Cemitério
dos livros esquecidos
’, ou ainda, leia o Chick-Lit ‘Ler, viver e amar’ e se
surpreenda com tamanha riqueza de fontes literárias e com a destreza das
autoras em descrever com palavras a imensidão de sentimentos que um amante dos
livros carrega no peito.
“-Quer saber de uma coisa, Daniel? Às vezes acho que Darwin
se equivocou e que, na verdade, o homem descende dos cães, porque oito entre
dez hominídeos já fizeram alguma cachorrada que ainda não foi descoberta –
argumentava. – Prefiro quando você expressa uma visão mais humanista e positiva
das coisas, Fermín. Como no outro dia, quando disse que no fundo ninguém é mau,
apenas tem medo. – Deve ter sido uma queda do açúcar no sangue. Uma completa
bobagem.”
“-Quem sabe se eu fosse decorar a vitrine só de cueca,
alguma mulher ávida de literatura e de emoções fortes não entrava para comprar?
Dizem os entendidos que o futuro da literatura está nas mãos das mulheres
(…)”
“Eu coleciono livros da mesma forma que minhas amigas
compram  bolsas de grife. Às vezes, só
gosto de saber que os tenho e lê-los de fato 
não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os
leio.  Mas o mero ato de comprá-los me
deixa alegre – o mundo é mais promissor, mais 
satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais
otimista.  A totalidade do ato
simplesmente me faz feliz”.
“(…) Os adoradores de livro vêm em seguida. Eles mantêm
seus livros cobertos (e não porque são romances), usam marcadores de página e
absolutamente nunca deixam o livro tocar o chão. Eles olham para o livro como
se fosse um ser com sentimentos, um objeto de desejo vivo, que respira, que
precisa ser tratado com absoluto respeito. Eles leem cada palavra, até mesmo as
notas de pé da página.”

Essa semana em especial li ou me deparei com alguns livros assim, únicos
e encantadores, nos quais os autores citam infinitas experiências literárias ao
ponto de compartilharem com o leitor o sentimento inicial que tiveram
quando leram tais obras. Ora, me digam se isso não é grandioso? Você lê um
livro e se depara com infinitas menções sobre outras obras, percebendo não
apenas como tais histórias influenciaram o livro que você está lendo, mas
também como elas incitaram em você a vontade de ler e descobrir por si mesmo,
os mistérios dessas obras.
Quem imaginaria que ao ler o livro ‘O inferno de Gabriel’ iria encontrar
infinitas alusões sobre as histórias de Dante? Que Crepúsculo me levaria a ler
o livro ‘O monte dos Ventos Uivantes’; Que o romance de banca ‘Uma noite Proibida’
iria ressaltar as qualidades dos livros de Austen, e ainda que a série ‘Os
encantados de Ferro’ é inspirada no livro ‘Sonho De Uma
 Noite De Verão’ do William Shakespeare? São livros
falando de livros, histórias compartilhando histórias, leitores virando autores.

  

 

Incrível como nosso mundo é um
círculo virtuoso e vicioso de constante compartilhamento de opiniões, não
concordam? E isso é ainda mais maravilhoso quando tratamos da menção de livros,
indicações que nunca serão perdidas e que nos lembrarão, mesmo em tempos
futuros, das memoráveis obras do passado.


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9 Comentários

  • Karina B.
    27 março, 2013

    Oii Pah!
    Eu adoro quando livros aparecem em filmes e em outros livros. Livros que são inspirados em outros também são ótimos. Quase sempre nos dá dicas incríveis. Recentemente eu li "O Lado Bom da Vida" e tem um monte de dicas de livros ótimos nesse livro. Lendo um livro eu aumentei muito mais minha lista de leitura.

    Adorei o Post!
    Beijos

  • Clara Beatriz
    23 março, 2013

    Gosto bastante de livros que levam a outros livros! *-* A série Mundo de Tinta da Cornelia Funke é bem assim.
    @mmundodetinta
    maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br

  • Kamila Mendes
    23 março, 2013

    Oi Pah…indiquei o blog a um selinho…dá uma passadinha lá…só lembrei de ti quando respondi…bjos ^^

    http://pingentesdeilusao.blogspot.com

  • Mirelle Candeloro
    23 março, 2013

    Amei o post Pah e concordo com você. Acho belíssimo esse círculo vicioso. No fundo todos somos autores e escritore, todos propagamos a beleza de ler, seja lendo um livro que também faça isso ou escrevendo sobre ele. Adoro ler livros com citações de outros livros, com referências, etc. Acabo sempre conhecendo mais uma coisinha e confesso que já fui ler determinados livros por terem sido citados em outros. Uma amiga, a Ju Oliveira, comentou que no Livro A Redoma, do Stephen King, ele chega a citar o personagem de um outro livro. Achei isso tão legal.

    Beijos, Mi

    http://www.recantodami.com

  • Prateleira de Biblioteca
    23 março, 2013

    Olá,
    Uau, belos títulos ai, hein? rs

  • Tânia Silva
    23 março, 2013

    Post incrível!!
    Adoro livros que citam outras obras, é tão enriquecedor… fora os sentimentos que surgem com tais citações, imagino como me sentiria se fizesse a leitura do livro. Ainda vou conferir " A Divida Comédia", estou lendo "Gabriel's Rapture" e essa vontade tende a aumentar :)))

    Bjoss

  • Sofia
    23 março, 2013

    Oi Pah! Adorei o post!
    É incrível como várias obras que leio citam de alguma forma "O Morro dos Ventos Uivantes", hehe, mas não o li. É fantástica essa sensação de reconhecer ou conhecer outras leituras dentro de uma leitura só, só a deixa, de certa forma, mais agradável!

    Beijão!

  • Aline T.K.M.
    22 março, 2013

    Eu adoro quando aparecem livros e também filmes nos livros. Na maioria das vezes, eles são como pistas para conhecer mais profundamente algum personagem ou a situação passada no livro. E o legal é que quando um livro aparece em outro livro, você passa a associar os dois, não em significado, mas um acaba evocando a lembrança do outro. Acho isso especial! ^^

    Bj, Livro Lab

  • Aione Simoes
    22 março, 2013

    Oi gêmea!
    Adorei o post! Quando eu fiz o post sobre livros que aparecem em filmes, me pediram pra fazer de um sobre livros que aparecem em livros, mas a quantidade desses é tão maior que não tive coragem ainda de fazer!
    Eu tenho curiosidade de ler Ler, Viver e Amar por causa dessa conexão, eu imagino que deve ser uma experiência incrível mesmo se deparar com as sensações sobre outras leituras durante uma leitura!
    Não sabia que O Rei do Ferro era baseado em Sonho de Uma Noite de Verão!
    Beijão!