mais admiro na literatura é sua capacidade de ensinar. Como uma fonte constante de aprendizado, as palavras nos
incitam a enxergar o mundo sob uma nova ótica, abrindo nossos olhos para uma
realidade infinitamente distante da nossa rotina de vida. Assim, um bom livro é
aquele que nos tira da nossa zona de conforto, que acrescenta algo
completamente novo às nossas perspectivas e valores. E de fato, não importa se
o livro é profundamente reflexivo ou não, o que vale é a mensagem que ele deixa
na mente do leitor. Por isso, quando penso em livros que mudaram minha visão de
mundo não consigo deixar de pensar em Passarinha,
a bela história escrita por Kathryn Erskine.
de Asperger (que é considerada uma das variações
do autismo), e por ser diferente a jovem Caitlin sofre preconceito, tem
muito medo do desconhecido, insegurança por ser especial e, principalmente, uma forte dificuldade em se conhecer e aceitar.
Suas dúvidas estão ligadas ao trato que ela recebe dos adultos ao seu redor –
parece que muitos simplesmente não sabem como lidar com ela. Assim, o principal
ponto abordado é o despreparo das pessoas ao redor da jovem. Fora que, além de abordar o autismo e suas peculiaridades de
uma maneira única, fazendo-nos ver – sob a narrativa de uma garotinha de dez
anos – como o mundo pode ser perigoso para as crianças especiais, a autora
também nos faz refletir sobre o bullying, a desconhecida Síndrome
de Asperger, o despreparo das escolas públicas, e o desequilíbrio emocional e
ético dos nossos jovens. Temas tensos e fortes, mas facilmente envolventes
quando contados de uma forma tão simples e verdadeira quanto à utilizada por
essa autora.
desses temas, que tal refletirmos a respeito de alguns dos pilares educacionais
dessa história?
fundamentalmente uma forma particular de se situar no mundo e, portanto, de se
construir uma realidade para si mesmo. Associado ou não a causas orgânicas, o
autismo é reconhecível pelos sintomas que impedem ou dificultam seriamente o
processo de entrada na linguagem para uma criança, a comunicação e o laço
social.” (Fonte).
não uma disfunção genética que precisa
ser corrigida. Não se trata de adequar os autistas a nossa realidade, mas de
nos adequarmos a deles.
uma grande dificuldade para desenvolver a linguagem, na Síndrome de Asperger
esse processo ocorre de forma natural, ou seja, os portadores da Síndrome de
Asperger possuem os mesmos sintomas que os autistas quanto ao trato social,
porém têm a habilidade de percepção e desenvolvimento da comunicação.
“A síndrome de Asperger,
caracteriza-se por prejuízos na interação social, interesses e comportamentos
limitados, porém não apresenta atraso no desenvolvimento da linguagem falada ou
na percepção da linguagem. É característico o desajeitamento motor,
determinados interesses que lhe ocupam toda a atenção, tendência a falar sobre
o que querem, sem se dar conta do interesse do outro.” (Fonte).
muito bem desenvolvida, já que a protagonista não tem problemas com a fala, mas
apenas para “captar” o sentido emocional de muitas situações ao seu redor:
empatia, compaixão, laços fraternos… Tudo isso é muito difícil para um
autista assimilar.
Você pode abrir e fechar os livros um milhão de vezes que eles continuam os mesmos. Têm a mesma aparência. Dizem as mesmas palavras. (…). Livros não são como pessoas. Livros são seguros.
estão preparadas para lidar com crianças especiais?
ser a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares, as limitações
que o distúrbio provoca devem ser respeitadas. Há casos em que o melhor é
procurar uma instituição que ofereça atendimento mais individualizado.” (Fonte).
não adianta apoiarmos a união sem estarmos preparados para lidar com as
diferenças. No decorrer da história a
autora deixa claro a ineficiência das escolas públicas no trato com as crianças
especiais, e por mais que estejamos falando de ficção, é fato que essa é uma triste
realidade de nossa sociedade. Muitos pais lutam por igualdade, porém não
teríamos antes que lutar por profissionais qualificados? Por escolas públicas
devidamente preparadas?
O tempo é o melhor remédio. (…). Como poderia ser? Um relógio não é como um comprimido ou um xarope. E eu não preciso de remédio. Preciso de um Desfecho.
e moral) da nova geração?
professores em uma escola; crianças de dez anos que ridicularizam seus colegas;
pais que olham para o diferente com asco… Que mundo é esse que não aceita e
ama seus irmãos como eles realmente são?
exatamente isso: a abordagem social quanto ao diferente. Dói ver o que a
protagonista de Passarinha enfrenta,
mas é ainda pior saber que isso acontece na realidade, que existem inúmeras
crianças passando pelo mesmo preconceito que ela.
Ele vira a cabeça para mim e sussurra, Perdedora. Eu sei, digo para ele, mas vou continuar tentando.
Por isso esse livro é tão forte e reflexivo, por nos
fazer conhecer mais sobre o autismo e a Síndrome de Asperger, ao mesmo tempo em
que nos faz pensar sobre o preconceito e a ignorância de nossa sociedade.
manifestação, mas com apoio e conscientização, nem que seja por meio da
indicação de um livro sobre o tema, um artigo de revista, ou um post em blog. A
questão é debater, conversar, ler e aprender.
autismo e, junto com a Editora Valentina, mergulhamos em uma campanha de
aprendizado e respeito ao diferente.
PS. As citações em destaque são trechos do livro.
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