antes, mas repito, o que mais gosto na literatura é de sua capacidade de
reflexão. Muitas vezes lemos sobre realidades infinitamente distantes da nossa,
aprendendo novas culturas, redescobrindo preferências, repensando nossos valores
e, principalmente, refletindo sobre as particularidades discrepantes de nossa
sociedade – tanto em seu lado positivo (como a variedade cultural disseminada
pela globalização, por exemplo) quanto em seu lado negativo (como a pobreza, o
preconceito, o abuso sexual, fatos, infelizmente, comuns em nosso cotidiano
social). A questão é que, não importa qual seja a sua realidade social,
existem livros que podem te transportar para cotidianos diferentes, te
ensinando a ver o mundo com outros olhos, abrindo sua mente para situações e
casos que você nunca imaginou vivenciar. Claro que ainda se trata de ficção,
mas dependendo do livro a história narrada é profunda e sentimental o
suficiente para te fazer pensar e questionar. E hoje, dia 18 de Maio – dia nacional
do combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes – vamos nos
interrogar sobre essa dura realidade e sua presença na literatura.
Praticamente um em
cada quatro casos de violência sexual infantil (exatamente 22% dos 14.625 casos
pesquisados pelo ‘VIVA’, o sistema de Vigilância de Violências e Acidentes do
Ministério da Saúde:) envolve uma criança de até um ano de idade.
Em três a cada
quatro casos (77%), a vítima tem até nove anos. A agressão sexual é o segundo
tipo de violência mais praticado nesta faixa etária, com 35% dos casos, contra
36% provocados por abandono ou negligência.
Entre dez e 14
anos, 10,5% das notificações de violência infantil no Brasil são sexuais, o
segundo tipo, atrás apenas da física (13,3%).
De 15 a 19 anos, a
agressão sexual fica em terceiro lugar, com 5,2% dos casos, seguida da
psicológica (7,6%) e da física (28,3%).
tipo mais comum de violência contra crianças”; “A agressão social é o 3º tipo mais comum de violência contra jovens
mulheres”; “No Brasil, a cada 12
segundos uma mulher é violentada”; “No
Brasil, a cada 8 minutos uma criança é violentada”… Qual é o tamanho do impacto causado por esses
fatos? Que sociedade é essa que violenta e desrespeita nossas crianças e
mulheres? E, principalmente, o que podemos fazer para mudar esse cenário?
achei essa realidade distante, vendo casos no jornal, me compadecendo das vítimas,
mas não as entendendo verdadeiramente. Eu ainda não consigo mensurar a ferida
que esse tipo de agressão deixa na alma de uma criança ou de um jovem violentado,
contudo depois de ler o livro Fale!,
da Laurie H. Anderson, fui inserida em uma história dolorosamente
profunda e real a respeito do abuso sexual, de forma que mergulhei em um
discurso de solidão, medo e silêncio que me marcou profundamente. A narrativa dessa
personagem não é sútil como sua personalidade, se trata de uma criança calada
que grita, mesmo sem saber, por ajuda, por alguém que a conduza à superação dos
medos que a dominam. E é tudo tão intenso e doloroso que é impossível não parar
para pensar na quantidade de meninas que já passaram por essa mesma situação, no
fato assustador de que uma delas pode estar o seu lado sem você nem sequer
imaginar.
“Tem
um monstro nas minhas entranhas, posso até ouvi-lo arranhando minhas costelas.
Mesmo quando descarto a lembrança, ela continua comigo, me ferindo.” (Trecho de
Fale!).
minha vida literária eu li outros livros como Fale!, livros que me fizeram
refletir muito sobre os traumas gerados pelo abuso sexual, e se tem uma coisa
que todos autores deixam claro em suas histórias é o reflexo natural de muitas
vítimas de não falar sobre o ocorrido – elas omitem, se escondem em casulos de
depressão e medo, elas não vivem mais, se afastam de todos, e acreditam que
falar não é uma opção. Da mesma forma, esses mesmos autores também salientam a importância
de combater essa vertente, de falarmos sobre isso, de denunciarmos sem medo de
opressão e preconceito. Então sim, essa é uma realidade dura de nossa
sociedade, mas cabe a nós não nos deixarmos oprimir: Falemos! Gritemos por
ajuda! Denunciemos sem medo! Denunciar pode te ajudar a salvar uma vida, a vida
de um amigo ou até mesmo a sua, pense nisso.
para denuncia é o “Disque 100”.
E a Editora Valentina, idealizadora da semana contra o abuso, criou um
documento que além de abrir nossos olhos, fala mais sobre opções de meios de
denuncia – Veja o documento aqui.
importância de falarmos e debatermos sobre o abuso sexual, certo? Por esse
motivo imaginei que uma maneira de ajudar a disseminar esse tema seria com a
indicação de livros que falem sobre isso. Afinal, independente de ser ficção, a
leitura desse tipo de experiência ajuda a incitar o pensamento e a reflexão –
eu mesma aprendi demais com alguns dos livros que irei indicar. Contudo, para
uma lista completa, contei com a ajuda de toda a família Livros & Fuxicos,
cada uma de nós – Eu, a Aione, a Mayara, a Kamila, a Dayane e a Priscilla – se uniu
para mostrar para vocês alguns livros que tratam do abuso, contudo devemos
salientar que cada um deles aborda isso de uma maneira diferente: alguns são
mais românticos, outros mais profundos, outros até mais chocantes, porém é fato
que de uma forma ou outra tais obras tratam diretamente ou indiretamente desse
assunto. Nós também iríamos falar um pouco sobre cada livro, mas para evitar spoilers
preferimos apenas indicar as obras. Confiram nossa lista:
compartilhe, denuncie. Para a mudança acontecer, não podemos nos calar.
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