Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.
Editora: Cia das Letras l 280 Páginas l Thriller policial l Compre aqui: Amazon l Skoob l Resenha: Kamila Mendes l Classificação: 5/5 ♥
Depois de virar a última página de Dias Perfeitos posso dizer que a escrita de Raphael Montes me conquistou de jeito. Estou perplexa com a forma como ele conduz a história, admirada com seus personagens e muito orgulhosa com o fato dele ser brasileiro. Posso dizer também que esse é simplesmente o melhor livro que li esse ano.
Dias Perfeitos trata de um assunto pouco discutido na sociedade, mas muito conhecido: os chamados sociopatas e/ou psicopatas. Calma. O livro não usa esse termo, mas a descrição do personagem principal se enquadra no quadro clínico de um psicopata. Téo é um estudante de medicina de 20 anos, introvertido, calado, que tem apenas uma amiga com quem mantém um vínculo muito forte. Gertrudes é uma mulher mais velha e entende cada nuance da personalidade de Téo, juntos travam diálogos longos e interessantes. Seria uma linda amizade, se Gertrudes não fosse um cadáver de uma indigente que o universitário estuda na aula de anatomia.
Com exceção de Gertrudes, Téo não possui afeto por ninguém: nem por seu cachorro Sansão, e nem por sua mãe Patrícia. Aliás, ele considera Patrícia um peso, afinal, por ser cadeirante, a mãe depende dele para tudo, incluindo tomar banho e se vestir. O rapaz vive em seu próprio mundo. Considera-se um ser intelectualmente superior, não faz questão de manter vínculos e não tem empatia por ninguém. Finge emoções apenas para se adequar ao ambiente. Sua vida é uma rotina: escola-universidade-laboratório. Mas tudo muda quando sua mãe o obriga a ir ao um churrasco e lá ele conhece Clarice. A jovem estudante de história (e roteirista nas horas vagas) é desinibida e aborda Téo com uma conversa despretensiosa, deixando-o sem graça. Como isso nunca aconteceu em sua vida, o rapaz passa a persegui-la, com o intuito de provar que formam um belo casal.
“Ele tinha repulsa dessas ideias moldadas em núcleos de novelas das oito. A adaptação seria difícil. A realidade não costuma fazer concessões. Então, quando já se julgava tão seguro de si, Clarice viera trazer algum sentido àquilo tudo – ou romper o sentido que ele mesmo havia criado. Ela o havia realocado no mundo. Téo continuava a desprezar a raça humana, mas ao menos agora era um desprezo desinteressado, quase piedoso. Finalmente, sentia amor.” Pág. 99
Quando recebe uma negativa sua obsessão provoca um ato impensado que desencadeia uma série de acontecimentos: sequestra Clarice, inventa a todos uma desculpa de que estão namorando e assim a mantém refém. Por meses a moça fica sob seu poder. Em sua mente, tudo que ele faz é por amor: dopa-a constantemente, algemando-a e amordaçando, espancando algumas vezes.
“Ela o havia beijado naquele churrasco. Por que parar? Do beijo, furtado e furtivo, ele havia se tornado refém. Não era o invasor, mas o invadido; não queria só desvendar, mas ser desvendado. Ele amava Clarice, admitiu. Precisava ser amado” Pág. 30
Por que gostei tanto? Amo qualquer conteúdo ficcional sobre psicopatia e o autor, apesar de não deixar claro que o personagem seja um psicopata, revela traços dessa desordem mental. Durante toda a leitura fiquei encantada com a sobriedade com que Raphael Montes desenvolveu a personalidade antissocial de Téo.
E não é só isso. O livro é thriller policial com uma qualidade digna de best-sellers internacionais. Não tem um clichê evidente aqui. O final por si só é surpreendente. Li esperando por um desfecho e me deparei com outro sem ficar decepcionada. São poucos livros que conseguem isso. Estou impressionada e espero ler mais livros desse autor e me apaixonar ainda mais pela fluidez do seu texto e por seus personagens sólidos e críveis.
Book Trailer
Curiosidade
Os direitos de publicação do livro foram vendidos para nove países, entre eles Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Portugal. Além disso, Dias Perfeitos teve seus direitos adquiridos para o cinema. Bacana não é? (Saiba mais aqui).
Beijos!
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