Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.
Editora: Arqueiro l 224 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: Saraiva • Submarino • Amazon l Skoob l Classificação: 3,5/5
Mais uma vez a Gayle Forman inova e escreve sobre um tema tabu: reformatórios comportamentais. No Brasil não tenho conhecimento de instituições desse estilo, mas nos Estados Unidos elas são comumente vistas pelos pais como um método de salvação e reeducação de seus filhos rebeldes. A ideia como um todo parece ótima – um centro focado na ajuda de adolescentes problemáticos – porém, a maioria desses reformatórios não só usam técnicas de choque para mudar os comportamentos que consideram inadequados (metodologia que pode comprometer para sempre o desenvolvimento emocional de um jovem), como também fazem isso sem o menor respaldo médico. E isso sem mencionar que muitos desses reformatórios só existem por causa da visão deturpada dos pais sobre o que é comportamento problemático, afinal atualmente muitas famílias pensam que ser diferente é ser rebelde. Assim, em O que há de estranho em mim temos a descrição de um problema real que assola muitos jovens: a incompreensão, o preconceito e a perseguição familiar. O livro é sobre os jovens que querem mais da vida e que precisam combater o mundo, seus pais, e até mesmo uma instituição criada para modificá-los e subjugá-los.
A jovem Brit é uma garota comum: está no ensino médio, tem notas razoavelmente boas, toca em uma banda de rock (e adora isso), tem um cabelo descolado com mechas cor de rosa, algumas tatuagens pelo corpo, e uma família que está tentando se reestruturar. Quando era mais nova, Brit viu sua mãe ser assolada pela esquizofrenia e virar uma mulher completamente diferente. A mãe acabou por abandonar a família, seu pai casou novamente e teve um novo filho, e Brit focou na música e em como a banda e seus colegas a faziam se sentir melhor. Porém, o pai de Brit, com a desculpa de estar preocupado com o futuro da filha, decidiu enviá-la para Red Rock – escola conhecida por ajudar adolescentes problemáticos mas que por trás das fachadas é um reformatório comportamental abusivo e sem nenhuma assistência médica. Em Red Rock a alimentação é precária, as meninas não podem fazer amigas, são constantemente vigiadas, são martirizadas por seus erros (problemas com drogas, homossexualidade, tentativa de suicídio, problemas alimentares, problemas mentais…) e possuem seções obrigatórias de terapia nas quais são instigadas a denegrir umas às outras. Brit não aceita ficar presa no local, não aceita cumprir as regras do colégio, e muito menos compreende o motivo do pai tê-la mandado para lá. Assim, entre muita revolta e dor (de não tem como sair de lá e de estar decepcionada com o pai), Brit vai fazer quatro amigas, formar uma legião heroína de Irmãs Insanas, e fazer de tudo para estar livre do controle de Red Rock e provar para todos que é normal, ou melhor, que ser diferente é ser normal.
O que mais gostei no livro foi da reflexão por trás da criação de reformatórios como o Red Rock. Muitas das meninas que estão internadas lá realmente precisam de ajuda, mas a grande maioria é apenas diferente do que os pais esperavam: são homossexuais, tocam em uma banda, possuem tatuagens, usam manequim 44 e não ligam nenhum pouco para isso, são solitárias ou até mesmo estão lidando com alguma perda triste e dolorosa. Sendo assim, o ponto que a autora aborda é importante porque nos faz refletir sobre o que a nossa sociedade determina como certo ou errado. Fiquei injuriada com alguns pais descritos na história, com adultos que não conseguem lidar com o diferente e que preferem tapar o sol com uma peneira do que encarar a realidade que está bem diante dos seus olhos. Foi triste e aterrorizante saber que muitas famílias preferem esconder seus filhos em instituições obscuras do que ter que lidar com eles. Além disso, fiquei inconformada com os relatos de Brit sobre os abusos vivenciados no Red Rock. Não conseguia parar de pensar se existem mesmo instituições tão baixas quanto essa. Definitivamente fiquei revoltada e pude refletir muito com as dificuldades enfrentadas por essa protagonista.
Também gostei do romance presente no livro, da abordagem que a autora dá para os sonhos profissionais de Brit, e para a reflexão por trás da esquizofrenia da mãe da protagonista. Não acho que existem muitos livros que falam sobre esse tema, então é sempre bom ver tabus serem discutidos e desmistificados. Porém, também encontrei alguns pontos negativos e o principal deles é que não consegui me envolver completamente com a história. Imaginei que iria amar o livro do início ao fim, mas o que aconteceu foi um distanciamento: me comovi e torci por Brit, mas não consegui vivenciar todas as emoções descritas por ela. Além disso, me incomodei com a dualidade por trás da Red Rock; uma hora as meninas conseguiam sair escondidas e começar missões contra a escola, na outra eram tão controladas que era impossível imaginá-las contando para alguém de fora os abusos que sofriam ali dentro. E o ponto é que foi muito difícil de aceitar que uma escola como essa, tão absurda em sua conduta, não teria sido alvo de denúncias ou boicote – seja das jovens que já tiveram “alta”, dos pais que não podiam ver as filhas (será que eles não achavam estranho ficar meses sem vê-las? Ou que as reuniões familiares aconteciam em um hotel e raramente na escola?), ou até mesmo dos antigos funcionários. De qualquer forma, Brit e suas irmãs insanas fazem uma bela revolta no local, só achei que isso demorou demais para acontecer. Claro que a culpa disso está na quebra da autoestima dessas jovens, no fato delas deixam de confiar em si graças ao método de controle da Red Rock, contudo por mais que meu lado racional entendesse isso, meu lado emocional duvidou da trama ao ponto de não se envolver com ela – pelo menos não completamente.
No geral adorei a reflexão por trás do livro, só não gostei tanto assim da condução da narrativa. Sendo sincera, confesso que esperava bem mais desse livro – mais emoção, mais drama, mais realidade. Porém, não nego que a obra é encantadora, envolvente e reflexiva como tudo o que a Gayle Forman escreve. Para quem gosta de livros juvenis repletos de altos e baixos, esse livro é uma ótima opção de leitura.
Beijos!
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