fevereiro 22, 2016

[Resenha] O que há de estranho em mim – Gayle Forman

O_QUE_HÁ_DE_ESTRANHO_EM_MIM_GAYLE_FORMAN_ResenhaAo internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade. Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão. Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.

Editora: Arqueiro l 224 Páginas l Jovem Adulto Maduro l Compare & Compre: SaraivaSubmarinoAmazon l Skoob l Classificação: 3,5/5

 

Mais uma vez a Gayle Forman inova e escreve sobre um tema tabu: reformatórios comportamentais. No Brasil não tenho conhecimento de instituições desse estilo, mas nos Estados Unidos elas são comumente vistas pelos pais como um método de salvação e reeducação de seus filhos rebeldes. A ideia como um todo parece ótima – um centro focado na ajuda de adolescentes problemáticos – porém, a maioria desses reformatórios não só usam técnicas de choque para mudar os comportamentos que consideram inadequados (metodologia que pode comprometer para sempre o desenvolvimento emocional de um jovem), como também fazem isso sem o menor respaldo médico. E isso sem mencionar que muitos desses reformatórios só existem por causa da visão deturpada dos pais sobre o que é comportamento problemático, afinal atualmente muitas famílias pensam que ser diferente é ser rebelde. Assim, em O que há de estranho em mim temos a descrição de um problema real que assola muitos jovens: a incompreensão, o preconceito e a perseguição familiar. O livro é sobre os jovens que querem mais da vida e que precisam combater o mundo, seus pais, e até mesmo uma instituição criada para modificá-los e subjugá-los.

A jovem Brit é uma garota comum: está no ensino médio, tem notas razoavelmente boas, toca em uma banda de rock (e adora isso), tem um cabelo descolado com mechas cor de rosa, algumas tatuagens pelo corpo, e uma família que está tentando se reestruturar. Quando era mais nova, Brit viu sua mãe ser assolada pela esquizofrenia e virar uma mulher completamente diferente. A mãe acabou por abandonar a família, seu pai casou novamente e teve um novo filho, e Brit focou na música e em como a banda e seus colegas a faziam se sentir melhor. Porém, o pai de Brit, com a desculpa de estar preocupado com o futuro da filha, decidiu enviá-la para Red Rock – escola conhecida por ajudar adolescentes problemáticos mas que por trás das fachadas é um reformatório comportamental abusivo e sem nenhuma assistência médica. Em Red Rock a alimentação é precária, as meninas não podem fazer amigas, são constantemente vigiadas, são martirizadas por seus erros (problemas com drogas, homossexualidade, tentativa de suicídio, problemas alimentares, problemas mentais…) e possuem seções obrigatórias de terapia nas quais são instigadas a denegrir umas às outras. Brit não aceita ficar presa no local, não aceita cumprir as regras do colégio, e muito menos compreende o motivo do pai tê-la mandado para lá. Assim, entre muita revolta e dor (de não tem como sair de lá e de estar decepcionada com o pai), Brit vai fazer quatro amigas, formar uma legião heroína de Irmãs Insanas, e fazer de tudo para estar livre do controle de Red Rock e provar para todos que é normal, ou melhor, que ser diferente é ser normal.

O que mais gostei no livro foi da reflexão por trás da criação de reformatórios como o Red Rock. Muitas das meninas que estão internadas lá realmente precisam de ajuda, mas a grande maioria é apenas diferente do que os pais esperavam: são homossexuais, tocam em uma banda, possuem tatuagens, usam manequim 44 e não ligam nenhum pouco para isso, são solitárias ou até mesmo estão lidando com alguma perda triste e dolorosa. Sendo assim, o ponto que a autora aborda é importante porque nos faz refletir sobre o que a nossa sociedade determina como certo ou errado. Fiquei injuriada com alguns pais descritos na história, com adultos que não conseguem lidar com o diferente e que preferem tapar o sol com uma peneira do que encarar a realidade que está bem diante dos seus olhos. Foi triste e aterrorizante saber que muitas famílias preferem esconder seus filhos em instituições obscuras do que ter que lidar com eles. Além disso, fiquei inconformada com os relatos de Brit sobre os abusos vivenciados no Red Rock. Não conseguia parar de pensar se existem mesmo instituições tão baixas quanto essa. Definitivamente fiquei revoltada e pude refletir muito com as dificuldades enfrentadas por essa protagonista.

Também gostei do romance presente no livro, da abordagem que a autora dá para os sonhos profissionais de Brit, e para a reflexão por trás da esquizofrenia da mãe da protagonista. Não acho que existem muitos livros que falam sobre esse tema, então é sempre bom ver tabus serem discutidos e desmistificados. Porém, também encontrei alguns pontos negativos e o principal deles é que não consegui me envolver completamente com a história. Imaginei que iria amar o livro do início ao fim, mas o que aconteceu foi um distanciamento: me comovi e torci por Brit, mas não consegui vivenciar todas as emoções descritas por ela. Além disso, me incomodei com a dualidade por trás da Red Rock; uma hora as meninas conseguiam sair escondidas e começar missões contra a escola, na outra eram tão controladas que era impossível imaginá-las contando para alguém de fora os abusos que sofriam ali dentro. E o ponto é que foi muito difícil de aceitar que uma escola como essa, tão absurda em sua conduta, não teria sido alvo de denúncias ou boicote – seja das jovens que já tiveram “alta”, dos pais que não podiam ver as filhas (será que eles não achavam estranho ficar meses sem vê-las? Ou que as reuniões familiares aconteciam em um hotel e raramente na escola?), ou até mesmo dos antigos funcionários. De qualquer forma, Brit e suas irmãs insanas fazem uma bela revolta no local, só achei que isso demorou demais para acontecer. Claro que a culpa disso está na quebra da autoestima dessas jovens, no fato delas deixam de confiar em si graças ao método de controle da Red Rock, contudo por mais que meu lado racional entendesse isso, meu lado emocional duvidou da trama ao ponto de não se envolver com ela – pelo menos não completamente.

No geral adorei a reflexão por trás do livro, só não gostei tanto assim da condução da narrativa. Sendo sincera, confesso que esperava bem mais desse livro – mais emoção, mais drama, mais realidade. Porém, não nego que a obra é encantadora, envolvente e reflexiva como tudo o que a Gayle Forman escreve. Para quem gosta de livros juvenis repletos de altos e baixos, esse livro é uma ótima opção de leitura.

Beijos!

 
 

 

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21 Comentários

  • Veronica Vieira
    29 fevereiro, 2016

    Gosto bastante da autora, mas acho que esse é bem diferente dos outro livros que já li. fiquei curiosa…

  • Cheila Freitas
    28 fevereiro, 2016

    Li apenas um dia e Apenas um ano e gostei bastante apesar de ter me decepcionado um pouco com o final. O que há de estranho em mim não é o tipo de livro que costumo ler, mas achei o enredo bastante interessante e futuramente pretendo ler.

  • Micheli Pegoraro
    27 fevereiro, 2016

    Oi Pah,
    Quero muito ler esse livro da Gayle, vejo várias críticas contraditórias, uns que gostaram tanto e outros nem tanto, então, imagine a minha curiosidade em ler o livro e ver qual será minha opinião. Como já li outros livros da autora e gostei muito, estou com muitas expectativas para ler o livro, principalmente por ter um tema diferente, algo que nunca li. Adoro livros que tratam temas bem reais, com reflexão em suas histórias, e a Gayle cria tramas de um jeito muito envolvente e intenso. Adorei a resenha, pela sua sinceridade e por sua reflexão em um tema tão chocante.
    Beijos

  • suzana cariri
    26 fevereiro, 2016

    Oi!
    Quando vi esse livro no lançamento ele não me interessou muito mas lendo a resenha gostei muito do livro principalmente o tema e as reflexões que ela faz em cima desse tema me deixou bastante curiosa para ler !!

  • Leticia Golz
    26 fevereiro, 2016

    Nossa, Pah, essa protagonista deve sofrer muito mesmo. Nunca entendi o propósito desses instituições e muito menos a cabeça de alguns pais. Acho que assim como você, também ficaria revoltada com alguns deles. Se nem os pais aceitam o diferente no filhos, como a sociedade aceitará?
    Eu gostaria de ler o livro por causa do tema, mas você não é a primeira isso da narrativa.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

  • Lara Cardoso
    26 fevereiro, 2016

    Já estava louca pra ler esse livro e agora sua resenha me deixou mais curiosa ainda! Já começo a imaginar a personagem, o cenário, tudo na minha cabeça rs Já li “Se eu ficar” mas gostei mais de “Eu estive aqui” pelo assunto abordado, achei profundo mas tratado com simplicidade.

  • Denise Crivelli
    26 fevereiro, 2016

    Oi
    Andam comentando bastante sobre esse livro, mas ainda não li ele, só que fiquei com curiosidade, além do mais o enredo chamou a atenção, como o Pai da garota colocou ela nesse lugar só por tocar em uma banda.

  • Rhoana Lersch
    24 fevereiro, 2016

    Oi Pah! Adoro a Gayle, ainda não li o livro Eu estive aqui, que por mais diferente que seja desse, é o que na minha opinião deve se aproximar mais desse. Conheço esse livro há algum tempo, antes de ele ser lançado já tinha me interessado muito pela história, realmente me chocou o tema tratado e fez com que eu quisesse lê-lo logo, tenho certeza que a Gayle acertou novamente, preciso ler já! Adorei a resenha, e a sinceridade sempre é algo importante, espero achar o livro mais profundo, mas agora vou com menos expectativas! Beijos

  • Vania Correa
    24 fevereiro, 2016

    Já li outras resenhas e sempre comentários positivos sobre esse relato, muito triste saber que existem pais que não aceitam as diferenças de seus filhos e instituições que só piorem o emocional dos jovens em vez de ajudar,quero ler com certeza, beijos..

  • Potato Purple Blog
    24 fevereiro, 2016

    Oi!
    Já vi este livro em diversos lugares, mas nunca parei pra ver sobre o que se tratava. Lendo a sinopse + sua resenha, vi que ele se enquadra perfeitamente no gênero de livros que gosto de ler, adoro coisas (filmes, livros) que retratem a realidade e este já entrou na lista dos que quero ler. Gosto de ler sobre coisas que acontecem, mas que não no meu cotidiano, gosto de saber mais sobre os outros "estilos de vida". Beijos.

    potato-purple.blogspot.com
    youtube.com/potatopurpleblog

  • Bianca Viegas
    24 fevereiro, 2016

    Olá!
    Gosto bastante dos livros da Gayle Forman, em especial Eu estive aqui é meu favorito.
    Estava com muitas expectativas para ler o livro, principalmente por ter um tema diferente e também por gostar dos livros da autora, mas elas estão diminuindo. Sua resenha não é a primeira que leio que aponta alguns aspectos negativos do livro. Ainda pretendo ler, mas agora com expectativas mais baixas.

  • Jesica Duarte
    24 fevereiro, 2016

    Também achei que amaria demais esse livro, mas pelo que eu vejo nem tanto, mais ainda assim darei uma chance, até porque gosto desse tipo de gênero.

  • Fernanda Martins
    23 fevereiro, 2016

    Oi Paola, eu amei a sinopse do livro e a sua resenha, o livro parece ser bem emocionante, daqueles que prendem a gente do começo ao fim, já coloquei na minha lista de leitura bjs.

  • Maria Fernanda Medeiros
    23 fevereiro, 2016

    Gayle Forman me ganhou com "Eu Estive Aqui", mesmo a Paola não tendo tido tanta afinidade com o livro, ainda estou muito entusiasmada em lê-lo!

  • Aciclea vieira
    23 fevereiro, 2016

    Paola,realmente essas instituições ao invés de ajudar,acabam por piorar o estado da pessoa e de forma abusiva.Percebamos isso através da personagem Brit e as demais que aparecem nassa história,são submetidas a uma tortura constante que eles chamam de tratamento.No fundo o que essas jovens querem mostrar é que ser diferente não é ser anormal e sim ,significa ser normal,apenas diferente.Gostei da autora abordar essas questões sociais e humanas que sempre nos faz refletir.Amei saber que existe um romance no livro e que tenha gostado,pena que não tenha se envolvido tanto com a trama como gostaria ,devido não ter gostado tanto da narrativa,mas irei conferir para sentir os altos e baixos dessa obra da Gayle. Beijos!!!

  • Crika Regina
    23 fevereiro, 2016

    Oi Pah!
    Mas que lugar detestável! E que absurdo os pais colocarem as jovens num lugar como esse só pq são diferentes do queles consideram normal né? Eu ainda nem li e tb já tô injuriada que nem vc rsrs. Bom, parece ser um livro bem reflexivo, mas que pena que não funcionou tão bem pra vc devido à falta de conexão. Meio chato qnd isso acontece.

  • Theresa Cavalcanti
    23 fevereiro, 2016

    Para ser sincera, não gosto muito da escrita dessa autora. Eu amei a história de Se eu ficar, mas não conseguir me prender com o livro :/

  • Raissa Novaes
    23 fevereiro, 2016

    Olá!

    Fiquei interessada nesse livro por causa do tema. É muito diferente e acontece realmente em alguns lugares. Já vi em algumas séries americanas citarem esse tipo de instituição. Como você disse é uma boa história para reflexão. Está na minha lista de leitura. Parabéns pela resenha!

    http://www.booksimpressions.blogspot.com.br

  • Jessica Lisboa
    22 fevereiro, 2016

    Bem mesmo o livro trazendo uma trama muito boa e de ser pensada, acho que agora assim não o leria, se ele deixa tanto a desejar assim, mas quem sabe eu não leia daqui alguns meses.

  • Paloma Monteiro
    22 fevereiro, 2016

    Me senti da mesma forma que vc quando Li 'eu estive aqui" , foi meu primeiro contato com a autora e apesar da trama ser super bacana e todo mundo que eu conheço ter amado, eu não consegui me envolver nada com a historia ou com a protagonista. Mesmo assim ainda quero ler "Apenas um dia " e "Apenas um ano" para ver se minha visão muda rsrs.

  • Aline Silva
    22 fevereiro, 2016

    Já ouvi muitíssimos comentários deste livros, e todos eles eram positivos. Por isso, já estou louquinha para ler este livro 🙂