setembro 21, 2018

[Resenha] Fisheye – Kamile Girão

FISHEYE_KAMILE_GIRAO_Resenha“Meus olhos são como canudos, Mick, só me permitem enxergar por um buraquinho. E com o tempo, a abertura deles vai diminuir muito, até que a fenda deixe de existir.” Aos dezesseis anos, Ravena Sombra descobre que não é perfeita: após um acidente numa festa, ela é diagnosticada com retinose pigmentar, uma doença sem cura que degenerará a sua visão gradativamente. Com o mundo pelo avesso, a adolescente inicia sua jornada em busca do amadurecimento e da superação, numa narrativa intimista à procura de se entender e de se descobrir. Ao longo do caminho, contará com a ajuda do melhor amigo de infância, da sua implicante e carismática irmã, de uma velha polaroid com nome de música dos Beatles e de um violinista cuja pele é marcada por cicatrizes e os olhos de um azul infinito como o céu. No meio de tanto caos, Ravena vai entender que crescer não é um processo fácil e que sim há beleza em enxergar o mundo do seu jeito peculiar e especial.

316 páginas l Drama • Jovem adulto • Literatura Brasileira • Romance l Compre e-book: Amazon • Físico: aqui l Skoob l Resenha: Marina Mafra l Classificação 5/5

Retinose pigmentar é uma doença que afeta a visão. O paciente passa a enxergar como se estivesse olhando através de um tubo, o que já dificulta bastante, mas ainda dependendo da qualidade da luz do local, a visão passa a ser mínima ou quase nenhuma. Fisheye é uma das variações das lentes fotográficas grande-angular, também chamadas como “olho-de-peixe”, que captam a imagem de forma redonda, dando a impressão de ser como os pacientes enxergam. O livro traz a história de Ravena Sombra, diagnosticada aos dezessete anos, desde os primeiros sintomas até a adaptação com a doença.

“É como… se você fosse uma fisheye (…) que tenta ser uma Polaroid, querendo registrar tudo de imediato porque tem medo de não poder mais fazer registros.” (Páginas: 242 e 243)

Desde pequena Ravena já demonstrava dificuldade na visão ao se esbarrar nas coisas. Os sintomas foram piorando conforme ela foi crescendo. Os pais nunca notaram nada e para ela, sem ter com o que comparar, sua visão era perfeita. Mas um incidente a alerta sobre a necessidade de procurar ajuda e não sentindo acolhimento em casa, resolve marcar médico sozinha. Ao se deparar com o diagnóstico, resolve esconder de todos e isso acaba a isolando. Completamente sozinha e assustada, ela descobre que não há como esconder algo assim para sempre. Sua vida era badalada, já que fazia parte do grupo de populares da escola, mas ao perceber que o seu afastamento não impacto os que se diziam seus amigos, Ravena passa por uma crise existencial. É quando surge em sua vida Daniel, um jovem marcado na pele e na alma por traumas do passado, que se mostra disposto a ouvir e parece se importar verdadeiramente com ela. A amizade surge de forma tão natural, que é impossível julga-la por se apaixonar pelo amigo, mas o medo de arriscar perder a melhor coisa que lhe aconteceu, a faz ocultar seus sentimentos e focar exclusivamente no dilema da sua saúde.

Narrado em primeira pessoa, a autora nos fez parte da alma de Ravena, sentindo cada evolução da doença e medo do que viria pela frente. Trouxe assuntos delicados, como a dificuldade em casa com pais ausentes, problemas com a inclusão de deficientes, preconceito, traição, perdas, mudança de valores… Tudo em uma escrita delicada, com diálogos fofos, referências musicais excelentes e muito do mundo nerd.

A fotografia sempre teve uma importância na vida de Ravena, que gostava de registrar momentos na sua antiga Polaroid. Ver o significado disso para ela, quando não sabia por quanto tempo conseguiria enxergar ou registrar novas fotografias, foi extremamente emocionante. Me encantei por Daniel, que encontrou consolo para suas dores na música e com seu jeito doce, teve um papel importante no amadurecimento da protagonista. A história é uma lição sobre a doença, sobre a vida. Deixou muito em mim, mudando a minha forma de avaliar atitudes e pessoas. Como se trata de uma doença sem cura, amei o final e a mensagem linda de sermos os únicos responsáveis por como escolhemos viver.

Uma leitura impactante, que recomendo para qualquer pessoa.

Saiba mais sobre o trabalho da autora:  SiteInstagramFacebook

Beijos!

 

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3 Comentários

  • Leticia M- Lendo com Lupa
    10 março, 2021

    Pa eu adorei a resenha!♡ tô pesquisando mais do livro porque tenho a mesma doença de ravena e adorei ler o que você achou dele! Caso tenha mais interesse em saber como é a vida com a Retinose eu falo disso é sobre livros no meu canal do YouTube, é o Lendo com Lupa caso queira conhecer seria mega especial pra mim♡ é divulgar a deficiência visual é muito importante a autora desse livro fez isso muito bem

  • Camila Carvalho
    25 setembro, 2018

    Uma resenha dessa bicho.❤
    Eu sempre achei a capa desse livro lindo, mas quando vi ele circulando no seu ig e depois de essa resenha cheio de sentimentos e sensações, sinto que será mais um livro que precisarei te agradecer.

  • Retipatia
    24 setembro, 2018

    Own como eu amo esse livro!
    A Kamile tem uma narrativa tão gostosa, que flui e a gente nem sente as páginas passando, além do quê, eu amo uma história linear que não precisa recorrer à plot twists loucos para manter o leitor preso. O impacto é jogado logo de cara, na sinopse e, ainda assim, ela consegue te manter presa e curiosa pelo desenrolar.
    Além de toda beleza que ela mostra haver além dos nossos sentidos, tem o lado mais bonito que você citou na resenha, a de sermos responsáveis por como encaramos a nossa vida!
    Amei a resenha, vamos espalhar Fisheye pelo mundo! <3
    xoxo